Quando o crime ficcional dá cadeia de verdade

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Os defensores da liberdade de expressão geralmente assumem que defendem o direito de alguém expressar algo que eles mesmos expressam. Quando o tema não lhes agrada, pedem tranquilamente seu banimento e remoção, como a Fernanda pediu no meu post sobre as teorias conspiratórias do acidente da Gol. A liberdade de expressão termina quando alguém é ofendido. Perfeito, mas como tudo ofende alguém, de alguma maneira, como ficamos?

Para complicar: E quando é um caso de liberdade de expressão onde a expressão expressada é expressamente contrária à visão geral da sociedade? Não me expressei bem? OK, vejamos o caso de Karen Fletcher:

54 anos, moradora da Pennsylvania. Está presa e pode ser condenada a até 5 anos de xilindró. Motivo? Matar, estuprar, abusar, seviciar, barbarizar (lá se vai me AdSense) crianças de nove anos ou menos.

Em ficção.

Karen tinha um site, onde publicava histórias, quase todas de sua autoria, com o tema de violência sexual e física com crianças. Segundo o FBI isso é ilegal.

Que ela não é normal, isso é fato. Mas se a literatura dela é motivo de prisão, o que dizer de Thomas Harris, com sua série de livros Hannibal? Comer gente não é exatamente um exemplo de sanidade. Ele deveria ser vigiado, como serial killer em potencial?

Eu não aprecio o trabalho dela, e por mais que concorde com a máxima “se matar tem que comer”, também concordo com “se comer tem que casar”, o que se torna complicado, se a criança já estiver em rigor mortis.

As leis contra abuso infantil são até brandas, deveriam ser mais rigorosas, mas acho muito complexo uma legislação que aplique penas contra abuso FICCIONAL, pois esse tipo de controle tende a se espalhar, cobrindo mais e mais temas que desagradem os políticos, em geral conservadores. Saiu agora um filme nos EUA sobre o assassinato de G.W. Bush. Algumas cadeias de cinemas estão se recusando a exibir o filme. Excelente, é direito deles. Já o governo, não se manifestou. No momento em que uma decisão oficial usar de recursos para-legais e retirar o filme de cartaz, teremos um estado de censura. Será proibido sequer pensar em assassinar o Presidente.

Também temos o detalhe de que a percepção da sociedade muda. Freud foi considerado um velho tarado quando apareceu com a idéia insana de que crianças têm sexualidade. Huxley colocou crianças sadias com seus jogos sexuais no Admirável Mundo Novo, o que já despertou polêmica até não poder mais, tanto que esse “detalhe” foi removido das versões para cinema e TV, áreas inclusive onde o tema já foi explorado, de várias formas. Filmes como Lagoa Azul, Pretty Baby e A Menina do Lado seriam vistos hoje como pura exploração pedofílica desenfreada, e não apenas como os filmes ruins que são.

O Reginaldo Farias não foi preso na época, por carcar a Flávia Monteiro na frente das cãmeras. Hoje, com certeza seria um escândalo.

O que diferencia esses exemplos de um caso como o deste padre, flagrado com quatro adolescentes em um motel? Não, não estou falando do pecado da gula. O que diferencia o padre acima dos peitilhos da dublê de corpo da Brooke Shields é que são exemplos de FICÇÃO, arte. Arte ruim, mas Mas arte. EU não creio que os textos da Karen sejam arte, 99,99% da pornografia não é. (who cares?) mas para quem produz e uma pequena fração de quem consome, É arte.

No filme “O Profissional” há uma cena cortada com a Natalie Portman e o Jean Reno deitados na cama, falando sobre sexo. A tensão entre os dois permeia o filme todo. Detalhe, Natalie tinha 11 anos. Cadeia para Luc Besson? Concordo, mas somente por ter cometido Imensidão Azul.

Eu não sei o que fazer com essa doida, se fosse dono da hospedagem botaria o site dela pra fora, mas sei que um Governo perseguir alguém por causa de suas idéias, por mais revoltantes que sejam, é caminho certo para um totalitarismo muito mais danoso do que todos os tarados da Internet juntos.



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