Bom mesmo era ter um diário

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A idéia do  diário é algo que nunca me atraiu. Não vou ficar planejando para o [BP]Alzheimer[/BP], e de qualquer forma há tantos textos mais interessantes do que a história da minha vida, não quero gastar a velhice lendo sobre ela, mesmo que me pareça inédita.

Entendo o conceito de [BP]Memórias[/BP], essas sim são feitas para leitura de terceiros, mas só devemos começá-las quando acharmos que já fizemos tudo de importante que planejamos. Não estou pronto pra isso.

O blog, como originalmente proposto, era uma mistura de [BP]diário[/BP] com caderno de memórias, pois era feito para ser lido por outros. Mais ainda, era para ser lido por estranhos. Isso sempre me deixou meio desconfortável. Para falar a verdade mesmo os mais próximos lendo um diário meu já me deixaria desconfortável.

Mesmo assim há uma estranha atração, expor-se para um estranho pode ser gratificante (não estou falando de gloryhole, sosseguem) e gerar muitas sacadas legais, é uma forma de ver a própria vida sob outros olhos. Expor nossos fracassos pode ser um preço pequeno, quando podemos expor também nossas conquistas. Achamos almas semelhantes, compartilhamos experiências. Pombas, às vezes o pensamento mais irrelevante gera um comentário de alguém que se identificou com ele.

Mesmo assim eu não me sentiria confortável em ter um blog pessoal, hoje em dia. Na verdade o www.carloscardoso.com deveria ser meu blog pessoal. Ainda há posts bem pessoais espalhados pelas primeiras entradas, mas os piores eu apaguei. Confesso, sanitizei parte do meu passado, presente e futuro. Há idiotas demais na Internet, não quero ser pego com os [BP]escudos[/BP] abaixados, sem energia nos phasers e pensando na morte da bezerra. (que não morreu, aliás.)

Talvez haja gente que não se importe em se expor E ter muitas visitas. Eu nunca vi. Todo blog realmente pessoal que se torna popular, perde essa abordagem mais íntima. O mais extrovertido dos blogueiros fica assustado quando o [BP]contador[/BP] começa a crescer. Blogueiros não estão prontos para escrever memórias, não querem “cair na boca do povo” mas mesmo assim sentem essa necessidade de colocar seus pensamentos no papel, mesmo que não seja com objetivos profissionais.

É normal. Se você é um músico, quando quer se expressar usa [BP]música[/BP]. Se é um [BP]pintor[/BP], pinta, se é um escritor, vai escrever. Se conseguir um “meu querido diário”, parabéns, mas nos tempos de hoje, fará um blog. A vontade de ser lido é o que dá sentido ao blogueiro. Esse papo de escrevo porque preciso, não quero leitores, por mim ficava tudo na gaveta, é papo. Nada mais.

Então, o que fazer?

Eu sugiro que você não deixe de fazer seu blog pessoal, se você tem necessidade disso. Se você quer mesmo escrever sobre o que sente e o que pensa, em um tom mais íntimo. faça-o, mas proteja-se. Se você já tem visitantes em quantidade significativa, crie um pseudônimo (qual o problema? [BP]Fernando Pessoa[/BP], que escrevia muito melhor que você, tinha uns 18) e abra uma conta em um servidor gratuito, como o WordPress.com ou o blogger.com. Escreva sobre o que quiser, mas troque nomes e locais.

“A [BP]cerveja[/BP] jazia esquecida na mesa do Emporio Pax do [BP]Rio Sul[/BP]. Em meu [BP]iPod[/BP] [BP]Mick Jagger[/BP] cantava “You can’t always get what you want”. Alheia a tudo, a linda blogueira paranaense falava ao telefone, sem perceber que mais uma vez eu havia me perdido em seus olhos”

Não! Não! Não! Qualquer um com meio neurônio pegaria um texto desses, ligaria os pontos e chegaria a todo tipo de conclusões, não necessariamente as que deveria chegar. Seu objetivo é passar uma emoção ou narrar em detalhes sua vida, como o JD, de Scrubs? Se for isso, contrate uma estenógrafa, ou vá morar na casa do big brother.

Você sabe quem são os personagens de sua vida. Altere-os, troque nomes, endereços, profissões. Só mantenha a essência. Evite ao máximo posts que possam identificá-lo. Transforme isso em uma boa brincadeira. Não promova seu blog secreto, deixe que seja descoberto. Veja o que os visitantes pensam de você, tome cuidado para não responder nada com seu próprio nome.

Com o tempo você terá um blog popular, e de brinde uma grande brincadeira: “quem é a identidade secreta do Blogueiro Tal?”

Se você não quer seguir essa linha, prefere seu blog com seu nome, sua cara, é uma opção, mas lembre-se: Não vai durar muito tempo. E se você for realmente especial em seus textos, vai ser mais triste ainda ver seus posts cada vez mais repensados, censurados e desprovidos de alma. Eu vejo isso com os meus, e não é nada agradável.



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