Da arte de escrever posts pessoais

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Imagine que você está cercado de gente que acompanha seus textos, tem uma boa idéia dos seus gostos, e não só sabe que cada pingo seu é uma letra, como sabe qual letra é. Blogueiros com leitores fixos não podem se dar ao luxo de soltar “piadas particulares”. Isso não existe. Se eu comentar que uma agência de marketing viral está promovendo um encontro entre um blogueiro e sua eterna musa, mas me pediram para não dar detalhes até o dia do encontro, tudo que é blog de fofoca vai estampar na capa: “Cardoso e Vendramini: Mission Accomplished” ou algo assim.

Nota: Já repararam que não há um único blog de fofocas bom no Brasil? Não no sentido de fofoca fofoca, quanto a isso há vários, vide o excelente Papel Pop, eu digo fofoca da blogosfera mesmo. Bloguismo Tablóide Marrom. Será que não tem ninguém para falar do casal de blogueiros conhecidos que está preparando o noivado em segredo? (essa é séria!) Ou dos disse-me-disse nos comentários? Precisamos de um blog desses, vocês levam a Internet muito a sério.

Escrever para leitores fixos é ter que abrir mão do duplo-sentido, eles quase sempre pegam o sentido que queremos passar (mas não necessariamente queremos tornar público).  Então o que fazer? Tornar o duplo-sentido mais hermético? Diminuir o número de referências, tentar fazer com que somente um subgrupo as entenda? Sinceramente pra mim isso é só adiar problemas.

Fechar-se completamente é uma droga também. Já vi excelentes blogs se tornarem meras fontes de informação (e pra isso temos o Estadão) por medo dos autores, assustados com a repercussão de seus textos.

“Não quero me expor”

OK, então monte um site, não um blog com seu nome. “Blog do Fulano” onde o fulano não fala nada de si? Blogueiro, mostra tua cara, quero ver quem você é. Já as blogueiras podem mandar links pro Flickr e me incluir para visualizar as fotos “private”.

Nosso melhor diferencial é que somos gente, não máquinas, e se você lembrou do discurso de Chaplin em O Grande Ditador é nele mesmo que me inspirei. Humm… Grande Ditador. Cardoso. Gostei da associação de idéias.

Não somos veículos, nossos blogs são iniciativas pessoais. MESMO os blogs coletivos são repletos de personalidade. No caso, várias. Mas cuidado.

O blog como ferramenta de desabado deve ser usado, mas é muito mais eficiente se você não vira um Emo e cria o Blog das Lamentações. Ler desgraça todo dia cansa, a não ser que sua vida seja MUITO patética, como a famosa “Gorda Estagiaria”, que freqüentou rapidamente as Internets, em 2005.

Chore todo dia suas pitangas, e ninguém te dará bola. Tenha uma base fiel de leitores por escrever coisas relevantes e um monte deles aparecerá com uma palavra amiga, no dia que você precisar. Da mesma forma serão bem mais compreensivos quando você revelar algum defeito ou fraqueza. Quer dizer, eu acho. Nunca experimentei. Até pensei em simular algum defeito, mas como a Honestidade só perde para a Perfeição, entre minhas qualidades, não posso iludir meus leitores.

OK, admito: Tenho um defeito sim, a baixíssima tolerância com os idiotas que lerão o parágrafo anterior e levarão a sério, dizendo “viu? É um babaca!”. Falta de senso de humor é algo que não tolero, mas é um bom alerta, pois sempre vem acompanhado de falta de inteligência.

Portanto, meus caros, dosem. Existe uma enorme diferença entre se expor e se tornar vulnerável. Mostrar um pouco de gente de verdade é legal, saudável e evita surtos megalomaníacos descontrolados. (os meus são todos metódicos e planejados). Já se tornar vulnerável é diferente. Aí sim não acho uma boa. Exemplo: Se eu disser que fui namorado da amante de meu chefe estou me expondo, mas não me tornando vulnerável (ele já bateu as botas). Já se eu disser que estou de olho numa blogueira do Sul aposto minha coleção de revistinhas suecas dos anos 80 que algum babaca pesquisará todas as blogueiras relevantes do Paraná pra baixo mandando emails avisando pra “tomarem cuidado comigo”.

Não estou brincando, no tempo em que freqüentava a lista mundosemfio a Bia Kunze me mandou vários emails desse tipo, gente alertando-a, dizendo que eu tinha péssimas intenções, que eu era amiguinho dela na lista mas era só interesse… Alguns inclusive levantando a hipótese de que eu poderia ser perigoso, e que ela evitasse me encontrar se viesse ao Rio.

Nem só de salsinhas e trolls inofensivos vive a Internet. Há gente bem ruim por aí. Só não deixe que esse tipo de idiota o feche em uma concha, caro leitor. Isso só beneficiaria os idiotas, e bons blogueiros não reagem bem a ameaças terroristas. Ignore-os, mostre seu melhor produto, você mesmo. Se você é uma pessoa interessante, já é meio caminho andado para produzir textos interessantes.

Ou, na incapacidade de produzir algo, pode também compilar uma lista de todos as blogueiras relevantes do Paraná pra baixo. E passar pra mim…



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