Da arte de escrever resenhas

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Vamos a um pequeno exercício. Pegue um filme que você já viu e gostou. Tente escrever uma resenha que seja original, com conteúdo, que faça alguém querer ver o filme.

Agora leia de novo, veja o quanto de informação você colocou e que vai estragar a experiência.

“O Sexto Sentido é genial, fantástica a idéia do Bruce Willis não perceber que está morto”

Não estou exagerando. Sem técnica, acabamos escrevendo isso mesmo. Junte entusiasmo e logo temos o texto estilo “caraca mané a cena que o Vader diz que é pai do Luke é show, você tem que ver esse filme”.

Agora tente escrever uma resenha falando do filme, atendo-se somente ao que é mostrado no trailer. Remova o que estragaria as surpresas, remova as piadas que você parafraseou, remova tudo que os personagens (e o espectador) não sabem, no começo do filme.

Remova as tentadoras frases “Mas… e se a tentativa de explodir o gerador de escudo da Estrela da Morte não der certo da primeira vez?”

Torna-se mais complicado, não? Escrever resenhas que excitem a imaginação do espectador sem entregar o filme não é tão simples.

Estava escrevendo uma resenha pro Paranóia, que fui ver semana passada, e quando percebi não só contei metade das piadas do filme como confirmei se o personagem do David Morse era psicopata ou não.

Dado o estrago, era preferível que a resenha se resumisse a uma foto da Sarah Roemer e a legenda: “assista”.

Assista.

Mas pombas, se me chamam para ver um filme em primeira-mão com certeza não é com a intenção de que eu conte o final. Mas também não devem querer que eu enfie uma foto da gostosinha-da-hora e pronto. Convenhamos, isso não vai realmente fazer ninguém ver o filme.

Também é muito fácil cair no golpe da Blogosfera Intelectual e resenhar filmes citando Ahmed Kalil III, maior cineasta iraniano pós-revolução islâmica, ou as referências a Sartre que só você viu, todos discordam e o diretor do filme ameaçou te processar se continuar a dizer que existem.

De todos os tipos de posts, as resenhas devem ser os mais revisados, analisados (acertei?) e escrutinizados. Você está brincando com algo importante, com o lazer das pessoas. Nada é mais broxante (metaforicamente falando, afinal vocês já conhecem minha fama) do que gente que conta final de filme.

Claro, há exageros. Já vi gente reclamando de spoilers quando outro comentou que o Titanic afundava, e alguns inclusive chiaram por comentários sobre Tróia. Dizer que a história tinha mais de 2500 anos não convenceu muito. Mas há uma diferença entre dizer que os gregos usam um cavalo de madeira pra entrar na cidade, e revelar que o Cypher é o traidor em Matrix.

Eu gosto de resenhas, gosto de ler o que os outros blogueiros acham dos filmes, mas evito fazer isso antes de assistir, justamente pelo excesso de gente dando com a língua nos dentes. Os estúdios estão se aproximando dos blogueiros, para eles nós somos uma excelente forma de divulgação, e por sua vez nós temos material exclusivo e total liberdade sobre o que vamos escrever. (fora o pão de queijo)

É uma simbiose excelente, e temos tudo para mais e mais blogueiros entrem nesses pacotes. Só que pra isso precisam aprimorar suas técnicas de redação, ou cometerão gafes que podem inclusive prejudicar a blogosfera cinéfila como um todo.

Um estúdio aceita uma crítica negativa, estão acostumados, mas eu acho que é mais aceitável pra eles você colocar um link para baixar o filme do eMule do que contar o final ou estragar as surpresas. E estão com a razão.



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