Os Mergulhadores Gordos e a Internet contemporânea de hoje em dia

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Primeiro de tudo, Fait Divers não tem nada a ver com mergulhadores gordos. É em francês, faça biquinho, erga os braços se ouvir um sotaque da baviera (só pela força do hábito), e diga “FÉ DIVÉ”.

Que diabos é isso? Bem, em uma citação que com certeza deixaria a Regina Duarte (não a atriz) e a blogosfera intelectual sexualmente excitados, podemos dizer que:

Les faits divers que l’on retrouve dans la presse écrite ou télévisée son Nous entrerons dans la carrière Quand nos aînés n’y seront plus quand nos aînés n’y seront plus et la trace de leurs vertus bien moins jaloux de leur survivre que de partager leur cercueil.

Entendeu? Nem eu. Primeiro porque não falo francês, segundo porque a primeira frase apareceu em um post sobre fait divers que achei, o resto é da letra da Marselhesa. Viram como é fácil posar de intelectual na blogosfera?

Voltando: O Fait Divers, se o álcool não matou os últimos neurônios que ainda guardam memórias das aulas da UFF, é um estilo de jornalismo cotidiano, que trata de fatos menos importantes que “Ataque Terrorista derruba World Trade Center”, mas não trata de assuntos como “Flamengo Vence Guarapiranga nos Pênaltis”. São assuntos sem uma editoria específica, que um blogueiro colocaria na categoria “misc”.

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Uma característica que o Brasil adotou dos fait divers é o sensacionalismo, mas ele é baseado em um fato real original. Muitos jornais foram a extremos para embelezar as notícias, que muitas vezes nem existiam. Chocado, leitor? Pois é. São jornais que conhecemos de filmes americanos como tablóides. Histórias sobre o BatBoy, avistamentos de Elvis, inseminações por alienígenas. Isso é tudo inventado, e nem é pelo Estadão…

Esse tipo de jornalismo é algo que eu ADORARIA fazer, pois mistura jornalismo e entretenimento. E não, não considero isso enganar o leitor, a menos que você considere “leitor” o animal de teta que acredita em histórias como “Sonda russa fotografa estátua de Elvis de 9m de altura em Marte” (eu vi essa manchete!)

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Esse modelo de jornalismo de entretenimento caiu como uma luva para a Internet, sites como The Onion (que vieram de jornais impressos) publicam matérias rigorosamente falsas completamente hilárias. A minha preferida de todos os tempos é a “Deus responde preces de garotinho paralítico. ‘Não’, diz Deus

A rigor o jornalismo rigorosamente falso não seria fait divers pois não é um fato real embelezado, mas como era comum nas redações brasileiras sair-se com histórias escabrosas do começo ao fim, o fait divers tupiniquim assumiu essa característica.

Tivemos no Brasil grandes jornais especializados em manchetes escabrosas, O Dia por exemplo era um jornal carioca da linha “se espremer sai sangue”, que nada tem a ver com O Dia de hoje, que é um jornal sério. Algumas das manchetes clássicas:

  • Cachorro fez mal à moça (ela comeu um cachorro-quente, não foi currada por um canídeo ensandecido)
  • Morreu com 30 tiros no saco (colocaram o sujeito em um saco de estopa e atiraram. Eu sei, doeu só de ler)
  • Sequestrado pelo disco voador – O mistério do homem de pele verde

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Nessa última o sujeito teve uma infecção alimentar, foi parar no pronto-socorro, literalmente verde. Mas isso não vende jornal. Daí o resto da matéria, inventado pelo repórter.

Ah, o Cocadaboa não faz fait divers, antes que perguntem.

Um fenômeno interessante é que na Internet o fait divers funciona de forma descontrolada. Uma notícia questionável publicada em um site questionável se empresta da credibilidade de outro site, se for lá referenciada. Uma coisa é ler algo no Morróida, outra é ler no Boechat. Só que se o Boechat acordar em um dia de pato, ler o morróida e replicar a notícia, ela se tornará “séria”. Como ninguém checa fontes, prato feito para as saias-justas e barrigas. (barriga é o termo para a publicação de uma informação errada, de forma não-intencional) Saia-justa é saia-justa.

Hoje em dia é impossível saber qual notícia é legítima e qual foi embelezada. Há sites que são notórios geradores de notícias facilmente questionáveis, como o www.ananova.com ou notícias descaradamente falsas, como o Weekly World News, tablóide online que publica pérolas como “Estátua cai do espaço – Milo de Vênus“. Esses a gente corta. Mas e os sites… intermediários?

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Você já deve ter visto manchetes como o cachorro que engoliu o controle do Nintendo Wii, da garotinha que enfiou uma faca e destruiu o PlayStation 3 do pai, ou da namorada que achou um vídeo de sacanagem no iPod do namorado, e jogou o coitado (do iPod) na privada. Todas essas foram devidamente publicadas no MeioBit, temos um fraco por essas histórias mirabolantes.

Pois bem; a maioria veio do Fun Tech Talk, um site que está na minha mira faz tempo. Ele é origemde muitas dessas histórias, e isso cai no clássico “se é bom demais pra ser verdade, geralmente não é verdade mesmo”.

“Ah, então você está avisando pra gente tomar cuidado com esse e outros sites e não publicar matérias deles!”

NÃO! NÃO! NÃO!

Estou dizendo que esse tipo de jornalismo mais informal é bom, é entretenimento, é divertido. Se seguir as regras, que incluem não publicar fatos que venham a comprometer empresas ou pessoas, não inventar declarações constrangedoras e essencialmente não inventar notícias relevantes, mantendo-se no campo dos fatos do cotidiano (a tradução mais correta de Fait Divers, dizem).

Uma história de um site desses roda o mundo, diverte, é mais conteúdo para seu site e, afinal, não faz mal a ninguém. Só fique de olho, para não publicar matérias de um site assim como sendo material “a sério”.

Infelizmente esse tipo de jornalismo está morrendo no mundo off-line, um dos poucos jornais que ainda mantém essa linha, com o raro caso de fait divers político, é o sensacionalista, mentiroso e absolutamente hilário “Hora do Povo”, um jornal comunista daqueles que comem criancinha e nem casam depois (casamento é uma instituição burguesa) que publica manchetes como “Josef Stalin – O Maior Homem que Já Existiu”.



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