Palavra do dia: Wikipedophilia

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O FBI está investigando se é o caso de entrar com uma ação contra a Wikipedia, por divulgação de imagem envolvendo pedofilia em capas de discos.

Achei que fosse mais um daqueles casos bestas, onde alguém monta um escândalo baseado em algo inocente, como a capa do Nevermind, do Nirvana, que é uma das capas mais emblemáticas da História do Rock:

A imagem foi inclusive parodiada com o Bart Simpson:

Note que removeram o bigurrilho do Bart, tivemos que esperar quase 20 anos para ver o pinto amarelo (meio redundante isso) mais famosos de Springfield, no filme para o cinema d’Os Simpsons.

Entretanto a imagem em questão não era a do Nirvana. O buraco é mais embaixo. As acusações envolveram o disco Virgin Killer, do Scorpions.

A capa mostra uma pré-adolescente, nua, com um efeito de vidro quebrado centrado em sua vergonha, alta e cerradinha. Na época rendeu polêmica, a capa foi banida em tudo que é lugar fora da Alemanha (e convenhamos provavelmente o Japão).

Outra capa ainda não descoberta pela mídia escandalosa segue o mesmo caminho: O grupo Blind Faith (de um tal de Eric Clapton) colocou na capa de seu disco homônimo uma foto de uma menina de 11 anos, de topless. E não, não foi feito por um tarado qualquer, foi uma foto de Bob Seidemann, um dos papas da fotografia moderna, autor da famosa foto de Janis Joplin seminua.

Hoje ela vale como documento histórico, e tenho certeza de que ninguém na Wikipedia, nem o editor que subiu a capa teve qualquer intenção sexual, mas o fato é: a capa mostra uma menina sem roupa. Sendo fiel à letra da Lei, é ilegal na maioria dos lugares.

A Wikipedia deve ter algum tipo de imunidade diplomática? Eu lembro que mesmo no auge da censura era possível ver filmes (geralmente na TVE) cheios de peitinhos, pois filmes mostrando índios eram liberados. Até quando eram índias como a Glória Pires. Se uma novela sonhasse em mostrar nudez 8 da noite, daria morte, mas a simples mudança de contexto cultural liberou a peitaria.

Calma, não é tudo mulher pelada? E a Playboy? Crianças não podiam chegar perto, mas nenhum jornaleiro deixaria de vender uma Geográfica Universal (a versão nacional da National Geographic) para um garoto, mesmo as edições com africanas de topless na capa.

E não, eu não engulo a explicação de que “com fotografia é diferente. Quando Goya pintou a Maya Desnuda o nível da merda gerada foi tão grande que ele foi convocado a depor junto à Inquisição Espanhola e ainda foi destituído do posto de Pintor da Corte Espanhola.

Hoje ninguém em sã consciência ousaria dizer que essa obra-prima é pornográfica.

Até hoje Hollywood evita colocar nu frontal masculino em seus filmes. Publicidade, mídia, todo mundo passa longe. Nem o Cinema Nacional abusa do recurso. Há consenso de que se aparece pinto, o filme é “pesado”. Mas…

Exato. A obra de nossa tartaruga preferida atrai milhares de visitantes todos os anos para apreciar embasbacados um pinto de mármore. “Oh, está pelado, dá pra ver a coisa dele”. Não, não se escuta isso no Louvre. (O David está no Louvre? Não lembro)

Será que em 100 anos as capas dos discos do Blind Faith e do Scorpions serão reconhecidas como arte? Ou vencerá a visão simplista: “se é de menor e está pelada, é crime”?


Tudo pela arte, mas nem peito a menina tinha, Reginaldo!

Mudamos tanto assim em 20 anos? Filmes como Pretty Baby, Lagoa Azul e Menina do Lado violam flagrantemente todos esses “estatutos”, nem por isso são proibidos, banidos e queimados em praça pública. E ver a Flávia Monteiro com 14 anos, pelada sendo acariciada por um constrangido Reginaldo Farias para mim é muito menos arte do que as capas em questão.

Aliás, nem vou entrar no mérito de definir o que é arte e o que não é arte. Prefiro ficar na pergunta que NÃO tenho resposta nem opinião formada:

Arte pode tudo ou não?



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