Evoluir também tem seu preço

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Essa semana estava em um agradável jantar comemorativo de Bodas de Madeira, de um casal amigo, quando o grupo começou a discutir sobre a virtude da Sandy, e como ela ainda se mantinha virgem e imaculada, mesmo após casada (fácil, casou com blogueiro).

No meio da conversa, a dúvida: Qual seria a idade da Sandy Leah Lima? Ela pode ter qualquer coisa de 14 pra cima…

Enquanto a conversa desviava para os 100ml de silicone que ela colocou, eu quase sem pensar puxei o celular, pesquisei no Google e descobri que Sandy tem -pasmem- 26 anos.

Do outro lado da mesa uma cidadã que não tinha ainda chegado na casa dos 30 não botou fé. No meu ato, a idade da Sandy foi bem assimilada pelos presentes.

“Não acredito que você fez isso!”

Eu demorei a entender, mas aí a ficha caiu: O ato de usar um smartphone para consultar uma informação corriqueira era completamente alienígena para ela.

Não critique. 5 anos atrás era para você também, 10 anos atrás ter celular já era luxo e 20 anos atrás nem com todo o dinheiro do Banco Central.

Que fique claro que em momento algum eu estava me exibindo. Quando quero tirar onda puxo o iPod Touch. O ato foi completamente natural, algo que faço corriqueiramente, seja para localizar uma rua, seja para twittar alguma coisa.

Pensando sobre o espanto da moça em questão (sim, estou sendo muito gentil com os adjetivos. Obviamente ela era bonita) eu fiquei feliz. Não por ter alguma superioridade tecnológica em relação aos presentes, mas por não estar obsoleto.

Eu tenho muito medo de me acomodar, de virar um Vovô Simpson. Tenho esse medo desde a primeira vez que botei as mãos em um computador. Eu gosto de tecnologia, amo coisas com botões (ou quase sem botões, como o Touch) e como vivo disso, preciso estar atualizado. Mais ainda, não posso ter preconceito contra novidades. Me reservo ao direito de não gostar de muita coisa, como o Second Life, e não dar bola para tecnologias que um dia quem sabe pode ser que se tiverem uma chance vão salvar o mundo das cáries, como o Linux e o OLPC. Mas não posso me dar ao luxo de ignorar essas tecnologias, nem de dizer que não funcionam por serem chatas feias e bobas.

Quando o telefone foi inventado um burocrata inglês disse que a tecnologia era boa mas não tinham necessidade, na Inglaterra eles dispunham de muitos mensageiros.

É essa postura que nunca quero ter. Ela é quase tão ruim quando o oposto, o deslumbramento.

Tecnologia não funciona em pedestais, tecnologia só funciona quando faz parte do dia-a-dia. Eu gostava de ser um dos poucos com telefone celular, da TELEST do Espírito Santo maceteado pra funcionar no Rio sem pagar deslocamento, mas isso não afetou a sociedade.

O que mudou foi quando o pedreiro que morava no quitinete abaixo do meu apartamento comprou um celular em 12x no Ponto Frio e passou a poder falar com seus clientes sem depender de recados.

Quando eu puxo o celular para procurar o aniversário da Sandy (28/01/1983) sem dizer “vejam que FANTÁSTICO meu celular sabe o aniversário da Sandy!!!” eu estou muito mais próximo do pedreiro do que do deslumbrado dono de iPhone que mostra babando fotos do filho e do cachorro, mas não usufrúi realmente da ferramenta.

O preço que pago é ser olhado com espanto, curiosidade, incompreensão e até inveja. Mas tudo bem, isso vem de gente que nem sabe quando é o aniversário da Sandy…



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