Celulares Nigerianos Assassinos Parte 2 – A Missão

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samara

Em 2004 uma onda de pânico varreu a Nigéria. Tornou-se fato notório que se alguém atendesse uma ligação de celular com Caller ID de 0802 311 1999 ou 0802 222 5999.iria morrer, MORRER!

Simples assim, atendeu, morreu.

Como toda boa lenda urbana, há uma “explicação”: No email enviado com o alerta, é explicado que “uma alta frequência causa hemorragia cerebral”, caso você encoste o telefone na orelha atendendo uma ligação do Número Maligno.

Da mesma forma que a raça humana essa lenda surgiu na África e se espalhou pelo mundo. Em Ghana foi criada uma comissão emergencial de investigação, que depois de 48 horas foi para a TV acalmar a população. No Quênia houve pânico generalizado.

Agora essa besteira voltou, desta vez na Nigéria. Autoridades tiveram que ir a público dizer que NÃO, NINGUÉM vai morrer se atender uma ligação vinda de 09141, o número da vez nesse meme.

Reuben Muoka, representante da Comissão Nigeriana de Comunicações explica que “somente gente muito ingênua acredita nesse boato”. Correspondentes da BBC justificam o caso apontando como causas deficiências educacionais e superstições, mas o buraco é mais embaixo.

stonecutters_2As pessoas QUEREM acreditar em um mundo mais complexo do que elas percebem, mas ao mesmo tempo querem ENTENDER esse mundo. As Teorias Conspiratórias têm grande apelo por serem explicações simples para fatos complexos. Ir à Lua foi uma empreitada que levou 10 anos e envolveu mais de 500 mil pessoas, feitos como o desenvolvimento do computador da Apollo são difíceis de compreender se o seu dia-a-dia passa longe de um mundo de tecnologia.

A explicação de baixa educação E superstição é conveniente mas não suficiente. Na Coréia do Sul, que não tem nada de atrasada viceja uma lenda urbana sobre o perigo de morrer sufocado ao dormir em um cômodo com um ventilador ligado. Pior: A Coréia se colocou abaixo da Nigéria, ao reconhecer oficialmente o tal perigo dos ventiladores.

No Brasil entre outras lendas temos o causo das embalagens longa-vida, que trariam uma indicação na embalagem de que o leite teria sido recolhido após passar da validade, repasteurizado e reembalado. CLARO, essa atitude criminosa seria devidamente ASSINADA pelas produtoras de leite.

Na prática o tal número é apenas uma indicação da posição da embalagem na bobina, mas emails e boca-a-boca fizeram com que lotes inteiros de leite estragassem nos mercados, as donas de casa não levavam o “leite velho”.

Quem questiona, ou pior ainda: EXPLICA essas lendas urbanas é tomado como chato. O céptico é um sujeito mal-visto, muitas vezes acusado de fazer parte das conspirações, mas a atitude anti-verdade é mais abrangente E mais pessoal que isso.

conspiracy

As pessoas gostam de se sentir especiais, gostam de ter conhecimento proibido. É algo tão forte que se tornou um arquétipo. Fomos expulsos do Paraíso por ter comido da Árvore do Conhecimento. Saber é Poder.

Ao repassar essas informações que não deveriam ser divulgadas nos sentimos poderosos. Ao denunciar grupos como Maçonaria, Bilderberg e a Conspiração Internacional da Mídia Judaica mostramos que estamos de olho, mostramos que eles não podem agir impunemente.

Um fato curioso nessa busca por explicações SIMPLES é que elas raramente o são. As pessoas gostam de respostas rápidas mas não de pensar sobre elas. No Grande Post das Salsas Aéreas coletei um monte de teorias de comentaristas de sites de notícias (a forma mais inferior de vida) sobre o acidente do vôo AF-447 da Air France, em 2009.

Eu adoro principalmente o sujeito (Salsa #7) que associou um teste de míssil da Coréia do Norte com o desaparecimento do avião. É um mundo pequeno, mas não tanto. Na mente dele mesmo dois pontos separados por CONTINENTES podem ser associados e gerar uma explicação mais reconfortante para a queda do avião do que “não sei”.

Um cientista normal responde “não sei” para a maioria das perguntas. Um cientista MUITO arrogante, um Sheldon Cooper responde “não sei AINDA”, mas mesmo esses entendem que o método científico baseia-se em hipóteses derivadas de observação, e se não há dados observacionais suficientes, não faz sentido conjecturar uma causa para um fenômeno.

Não há vergonha em não saber, mas somos socialmente pressionados a ter opinião sobre tudo, a não mudar de opinião e principalmente, a jamais proferir a vergonhosa frase “eu não sei”.

Por isso estamos destinados a repetir e espalhar lendas urbanas, a atribuir qualidades mágicas e misteriosas a tudo que não entendemos e perpetuar esse não-entendimento.

É uma pena, o mundo real é muito mais interessante do que o mundo ficcional conspiratório, mas quem nasceu para não beber manga com leite por medo nunca vai evoluir e tentar descobrir como se faz sorvete de manga.



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