Senhor das Moscas? Não, Obrigado.

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A melhor metáfora para o Twitter hoje é O Senhor das Moscas, magnífico livro de William Golding. Conta a história de um grupo de crianças que sofre um acidente de avião e caem em uma ilha deserta. Inicialmente há toda uma ilusão de paz, prosperidade amizade e mútua cooperação, mas logo começam as disputas de poder.

As simples divergências se tornam disputas mortais. O grupo que queria trabalhar para manter a coletividade viva era hostilizado pelo grupo que queria se divertir.

Logo as crianças passam a fabricar armas, se dividem e a preocupação principal se torna matar uns aos outros, assumir o poder e ganhar o respeito e obediência do grupo.

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A metáfora com o mundo adulto é evidente, mas não acho que se resuma à Humanidade em geral. Ela é MUITO igual ao que se tornou o Twitter. Um grupo de crianças brincando, “zoando” e disputando quem é o melhor. Calando a boca coletivamente de quem ousa ser diferente.

Hoje me sugeriram que eu deveria criar uma conta falsa para voltar a interagir. Quem sugeriu tinha boa intenção, mas não percebeu o ABSURDO que falou. Como assim? Devo abrir mão de meu próprio nome, de minha identidade, para poder falar o que penso?

Também me sugeriram –mais de uma vez- que eu deveria apenas ignorar a agressão.

Isso é o equivalente a um aluno gay ser instruído a apenas ignorar quando os bullies o xingarem de “viadinho” no recreio. A perseguição verbal constante é a BASE do bullying, só quem sugere isso é quem está em uma posição cômoda, como uma que confessou se divertir com as perseguições a mim “mas exageraram um pouco”.

Eu desisti. Estava entrando em uma paranoia de autocensura, com medo de postar qualquer coisa e ser alvo de zombaria. Pode reparar, NINGUÉM high-profile posta nada pessoal. Ninguém se expõe. Somos todos fachadas, todos máscaras sem nenhuma pessoa por trás.

Eu não sou uma máscara, não sou um número, sou um Homem. Quero ter o direito de expressar meus sentimentos, meus desejos, minhas opiniões, sem uma criança raivosa xingando e pulando o tempo todo. Sem dezenas de crianças raivosas.

Não posso fazer isso no Twitter. Lá, por obra de vários candidatos a Senhores das Moscas estou contaminado. Meus textos são desprezados por gente que nunca me leu. Sou odiado por gente que nunca falou comigo, gente que tal qual um racista, tal qual um homofóbico ou um antisemita, não consegue sequer racionalizar seu ódio, odeia por ser uma posição popular.

Eu queria SINCERAMENTE saber que mal eu fiz a este sujeito:

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Eu NUNCA falei com ele. Quando me enviaram o link alguns minutos atrás eu fui verificar, ele sequer está bloqueado. Ele não me segue.

Como alguém que eu, de coração aberto juro nunca ter prejudicado, levantado um dedo ou falado um “a” contra pode me odiar tanto? Que será que fiz para merecer isso? Quem eu matei, quem eu estuprei, quem eu roubei?

Estou saindo de consciência limpa, sei que fiz a escolha certa. Me falaram que para ter paz eu tenho que entrar na zoação, sacanear os outros do mesmo jeito, entrar em esquemas de “trollagem”. Se ao invés de dizer “não quero brincar” eu xingar de volta, inventar mensagens falsas, desprestigiar e achincalhar o trabalho alheio, aí serei aceito, serei parte da “elite” e estarei protegido.

Isso pra mim é chantagem. Isso pra mim é inadmissível. Me recuso a atormentar algum pobre-coitado para eu mesmo não ser atormentado. Me recuso a legitimar uma hierarquia da boçalidade, uma meritocracia da estupidez. O Rei dos Idiotas ainda é um Idiota.

Eu não sou idiota. Sei quando é hora de me retirar. Sei quando o prêmio de ficar e lutar não passa de uma Vitória de Pirro, conquistar o direito a existir no Twitter significaria me tornar o Senhor das Moscas, e esse é um preço alto demais.

Divirtam-se, crianças, a Ilha é de vocês.



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