Um fenômeno interessante na internet e a literatura erótica envolvendo celebridades e personagens de ficção. Curiosamente no Brasil esse material é praticamente inexistente. O que será que houve? Medo? Falta de talento? Fase da Lua? Faço algumas considerações sobre o tema no artigo a seguir.
Sites como o Literotica.com prestam um serviço social ao preservar para a posteridade excelente material dos grupos usenet. Lá surgiram talentos como Ann Douglas, especializada em literatura erótica envolvendo personagens femininas de Star Trek.
A quantidade de material ofertado é impressionante. Não importa qual seja sua orientação sexual, seu personagem favorito, sua celebridade da moda; irá encontrar algo sobre ela. Will e Buffy? Fácil. Contos safados com os Simpsons? Acha. Pombas, até Scooby Doo, se procurar, irá encontrar. (ok admito, a Daphne transando com o Scooby é menos estranho que com o Fred).
Também há contos com celebridades, atrizes, atores, apresentadoras de TV, você escolhe. Os temas são dos mais variados, desde encontros entre as celebridades ate o autor do texto narrando como usou técnicas de controle mental para subjugar e se aproveitar de determinada pessoa.
Nem todos são de bom-gosto, alguns apelam para humilhação e outras taras que não fazem meu estilo. Mas o importante e que eles existem.
No Brasil e quase impossível achar algo assim. Há uma boa oferta de contos nos sites especializados, embora a qualidade seja MUITO, MUITO ruim. Só que não se acha NADA envolvendo celebridades.
A idéia do medo da repressão me passou pela cabeça, mas não e o caso. A maioria dos autores é anônima, usa emails gratuitos e não justificaria uma perseguição em larga escala. Um conto desses tecnicamente possibilitaria um processo de danos morais, mas esbarraria na liberdade de expressão e regras de censura. Causaria mais dano ao autor da ação que ao autor do conto.
Fica complicado a Luma de Oliveira reclamar de um conto erótico, depois de passar a vida toda usando sexo como seu ganha-pão. Ou todo mundo que olhava as Playboys dela só tinha elocubrações de ordem estética-construtiva?
Não acredito que dos milhares de adolescentes que fantasiam com a Mariana Ximenes (eu incluso), nenhum tenha colocado isso no papel (de escrever, engraçadinho, não no lenço de papel).
Analisando superficialmente os contos disponíveis, percebe-se que Nelson Rodrigues estava certo, o brasileiro quer mais e pegar a cunhada. A Sonia Braga é ótima de olhar, mas na prática vai a moreninha gostosinha do 5o Andar, ou a mulher do sindico, como foi citado na lista do Videomaster outro dia.
Entre as mais populares fantasias temos, fora de ordem:
- Professora
- Mãe de amigo
- Prima
- Cunhada
- Vizinha
- Colega de trabalho
Já que é pra mentir (digo, ser criativo na elaboração do roteiro) não entendo: Onde esta a Luana Piovani sendo defendida de um assalto e agradecendo em pêlo?
A Sandy… Ninguém nunca quis pegar a Sandy o bastante para fantasiar algo mais (im)publicável? E as sobrancelhas da Malu Mader?
Sendo adolescente nos anos 80, nunca tive público pra esse tipo de literatura, que nunca foi o meu forte, mas hoje com certeza faria das minhas. Tendo público com certeza compartilharia minhas fantasias, ainda mais com mulheres lindas e famosas.
O dilema moral de não viola a intimidade das famosas contrasta com a facilidade com que elas se despem no cinema e na televisão. Que alguém não se sinta bem escrevendo sobre uma noite de sexo selvagem com a Martha Suplicy eu entendo, mas e a Cicarelli? Imagino ate o título, “passando a perna no careca”.
Será qualidade? Talvez o autor nacional não se sinta capacitado para escrever sobre famosas, talvez ache que seus dotes só permitem falar das amigas e vizinhas.
Não creio. A maioria dos autores deveria voltar para o primário. Mesmo lá fora os contos seguem uma padronização pasteurizada digna de linha de montagem de filme de sacanagem. E se falta de capacidade impedisse alguém de escrever o mundo seria um lugar muito melhor.
E a ficção?
Talvez o medo de uma retaliação seja suficiente. O Brasil tem exemplos demais de juizes com pretensões divinas, mas isso não explica os personagens de ficção.
Não digo contos eróticos com a Narizinho, isso da cadeia, mas e a Bebel da Grande Familia? Dona Capitu, Tancinha, a Babalu? Céus, a Leticia Spiller quando era gostosa inspirou tanta gente, como não inspirou literatura?
Note que estou falando de contos mainstream, nada especifico, como literatura SM ou slash.
NOTA: Slash, ou “barra” é um subgênero especializado em histórias envolvendo dois ou mais personagens masculinos. Originalmente Kirk & Spock, iniciaram toda uma área nova da subliteratura erótica. Hoje temos textos impressionantes, mas você não quer ler um texto slash com Salsicha / Scooby, acredite.
E no Brasil Afinal?
Temos aqui uma oportunidade de mercado, uma lacuna a ser preenchida (com trocadilho) por gente de talento disposta a solar o verbo. Acredito que e só botar o site no ar, e “eles virão”.
Mas pra ser sincero, o que eu queria mesmo, era achar um conto erótico com a Tina, da Turma da Mônica. Aquela sim era um tesão ;)