Pior que leitor é AUTOR de título

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Escrever as vezes (caiu a crase já?) parece cevar aquela menina que a gente sabe que vai dar, mas depois de uns 2 meses de malemolente inexorável porém sutil cortejo. Por mais que o resultado seja atraente e garantido, depois de uns anos de prática a preguiça bate e começamos a procrastinar.

Não que não estejamos interessados no resultado (yes, baby, vais morrer, só não sei quando) mas o processo em si é trabalhoso.

Só que da mesma forma que o imperativo evolucionário nos força a tentar passar nossos genes adiante, o imperativo financeiro nos força a escrever.  Quem vive de literatura (sim, generalizei) não pode se dar ao luxo de ter bloqueio criativo, falta de inspiração e outras desculpas emoafetivas.

Por isso mesmo inventamos novas formas de procrastinar: Eu mesmo virei um Autor de Títulos. Tenho no proverbial caderninho vários e vários e vários títulos de artigos, a Aba do Scribefire no Mac, o Live Writer no PC estão cheios de “textos em andamento”.

Entenderam a jogada? Você não escreve, mas a rigor está “em andamento”.  É como antigamente, quando os escritores passavam o dia lendo jornal na praia e diziam “estou pesquisando para um novo livro”.

Ter um cronograma, seguindo ou não deixa de ser suficiente. Dispersar a atenção, mesmo em assuntos relacionados a um mesmo trabalho, um mesmo blog, é igualmente prejudicial. Se fosse poesia concreta daria pra publicar tudo pela metade e dizer que era obra em andamento.

Se eu fosse um guru de rabo comprido desses poderia dizer que era uma obra colaborativa web 2.0 ou algo assim, ou em bom português “otários, escrevam pra mim”.

O resultado é que blogueiros viram uma espécie de sub-celebridade ex-global que quando é entrevistada no TV Fama (já caíram demais pra aparecer no Videoshow ou no Pânico) fala que está “estudando projetos”. Em alguns casos até é verdade, mas “estudar projetos” é a mesma coisa que ter uma gaveta cheia de títulos com um parágrafo que você não terminou por estar ocupado criando títulos.

Na brilhante história “Calíope”, Neil Gaiman conta a história de um autor que seqüestra uma musa grega e a estupra repetidas vezes para ganhar inspiração. Ao final ela é libertada por Morpheus, seu antigo amante que pune o escritor dando-lhe todas as idéias imagináveis. Ele claro enlouquece a ponto de escrever desesperadamente no chão, usando os dedos ensangüentados.

Guardadas as proporções, sinto esse efeito do tudo ao mesmo tempo agora, sejam os trabalhos externos, sejam os “projetos” internos. Para fugir disso, a regra é clara:

Começo, Meio e Fim. Quer piranhar no Twitter enquanto escreve? Perfeito, mas no lado TRABALHO faça uma tarefa e somente uma de cada vez. ALT+TAB é seu inimigo mortal.

Eu mesmo estou aprendendo. Agora mesmo fiz apenas UM outro post enquanto escrevia este.



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