Um estudo do Forrest Research apontou números curiosos sobre a penetração dos podcasts no mercado americano. Segundo eles, 25% dos Internautas (odeio esse termo) demonstra interesse em podcasts, mas apenas 1% efetivamente baixou ou ouviu um. Desses, a maioria privilegia podcasts / transmissões de programas já estabelecidos, como rádios convencionais disponibilizando o conteúdo online. Há, ainda, pouco interesse em conteúdo original.
Nem tudo é desgraça no relatório. Segundo o Forrest, os podcasts serão ouvidos em 700 mil lares americanos em 2006, com projeção de uma penetração de 12,3 milhões, em 2010. Podcast vai pegar, mas leva tempo, é a conclusão.
Em comparação, 11,3 milhões de lares utilizarão algum dispositivo MP3, em 2006.
Os Podcasts hoje estão sendo usados como alternativa temporal da programação normal. Escuto o que gosto na hora que quero, mas os mesmos programas de sempre. Isso faz sentido. Uma coisa é fazer alguém visitar uma página, estudos mostram que em alguns segundos o usuário determina se irá ficar e navegar pelo site ou não. Já um podcast precisa ser ouvido, com razoável atenção, até o final, do contrário não é possível formar uma opinião relevante sobre ele.
Eu acredito que o usuário goste da idéia de conteúdo novo, mas não vai procurar o podcast por dois motivos principais:
1 – Tamanho
Originalmente podcasts, por limitação de banda/hospedagem eram pequenos. Dois, três minutos. Perfeitamente gerenciáveis, mesmo para usuários de linha discada. Agora todos se transformaram em monstros de 30, 40MB. Audiófilos utilizam compressão mínima, bitrate nas alturas e postam programas com 3MB / Minuto. Não há banda que aguente.
Baixar um arquivo de 2 ou 3 MB para experimentar é algo viável, já um download de 30MB é algo que o usuário normal pensa duas vezes. Um usuário de linha discada não tem chance de assinar mais de um podcast, calcule o tempo para download de um episódio de 35MB. Multiplique pelo número de podcasts, assuma que ele não irá fazer nada no online computador enquanto baixa o arquivo, pois a banda estará tomada. Que incentivo esse cidadão tem?
2 – Conteúdo Original vs Forma Tradicional
Os podcasts são muito bons em conteúdo. A própria expertise necessária para produzir um serve como filtro. Nunca vi ninguém FaLANdiu AxIm Meiu Migucho em um podcast. Longe do inferno adolescente da maioria dos blogs, há material excelente para todos os gostos.
Só que material bom, em formato tradicional, não compensa o esforço. A atenção necessária para ouvir um podcast é a mesma de um programa normal. ALÉM de baixar o arquivo monstruoso citado no ítem #1, o ouvinte tem que passar por uma quantidade enorme de material irrelevante.
Um exemplo: Baixei um podcast dos mais famosos, que obviamente não vou citar por não querer diminuir mais ainda minha exíguia lista de cartões de Natal. Deu uns 50MB, uns 45 minutos de programa.
- Nos primeiros três minutos, uma abertura e chamadas iniciais
- Depois disso, uns cinco ou seis minutos de autocongratulações sobre como o podcast era lindo maravilhoso, que bom ter todo mundo ali, zilhões de hits, visitas, etc.
- Veio um falatório sobre o que havia de interessante no programa do dia.
- Depois, cartinhas. Emails lindos na íntegra, muitos do gênero “adorei o podcast fala meu nome”. Quem não foi lido, foi citado.
- Passado isso, uma divagação dos temos que não couberam naquele episódio, e iriam ficar pro próximo.
Olhei o contador. 32 minutos e o programa não tinha começado. Cliquei em STOP e fui fazer outra coisa. Meu tempo e banda não são capim. E eu GOSTO de podcasts.
O conteúdo É bom, o podcast é elogiado por muita gente, inclusive gente que conheço e respeito. Não duvido da qualidade, mas a forma é a mais clássica estrutura de programa AM, que funciona pois é feito para ser ouvido com pouca atenção, enquanto se faz outras coisas. Quando um usuário baixa um podcast, ele quer objetividade, não ver sua banda e tempo consumidos em autoelogios de um produto que ele, na melhor das hipóteses já sabe que é bom.
Uma versão “Director’s Cut” faria o podcast ficar com 10MB se tanto. em perda de conteúdo original. A megalomania está prejudicando um bom produto.
Conclusões
Eu acredito que os podcasts vão pegar, todos os estudos indicam isso. Só que os podcasteiros precisam colaborar. Nem todo mundo tem seus recursos fantásticos de banda e hardware, nem dedica a vida a ouvir suas palavras, a menos que seu podcast seja transmitido de um arbusto em chamas, você tem que dizer “OBRIGADO por me ouvir, é legal saber que alguém dedicou seu tempo para ouvir o que eu falo”. Da mesma forma, agradeço quem leu até aqui. Ninguém tem a menor obrigação de me ler. Poderia estar passeando, namorando ou vendo a Sandy no Paparazzo.
É preciso FACILITAR a vida do seu ouvinte. Eu, se fosse fazer um podcast (falta-me voz, talento e paciência) criaria:
- Um aperitivo, em texto e áudio do programa. Coisa pequena, 30 segundos, um sumário.
- Um exemplo, curto, explicando o que é, a quem se destina e como é o programa, também em áudio.
- Um modelo de assinatura, com uma newsletter. A assiduidade não é a característica marcante da maioria dos podcasts, e um site que se visite a cada 15 ou 7 dias tende a cair no esquecimento. Esqueceria RSS como meio de arregimentar massa de usuários. Com 4% da Internet sabendo o que é RSS, falta muito ainda.
- Tutoriais completos. Como ouvir, como copiar pro iPod / PC/diretório, como automatizar o download via RSS no Explorer, Firefox, Juicy ou Doppler tudo. Facilitaria a vida do usuário. Um botão “RSS” e um texto em corpo 1 dizendo “o que é isso?” não adianta nada.
- Uma versão enxuta e uma versão completa. Uma só com conteúdo, bitrate reduzido e com menos vinhetas, para usuários dicados, e uma versão enhanced, com direito a tudo, principalmente capítulos, para o pessoal da banda larga. Quem quiser pular os agradecimentos, poderá fazê-lo. O formato permite esses recursos, então vamos utilizá-los.
Trabalhoso? Com certeza. Mas seus ouvintes merecem.