Com o surgimento da Internet apareceu o que batizei de Betinho de Sofá. Tomado de culpa burguesa ou pseudo-consciência social, o sujeito não vai no Hospital do Câncer visitar os velhinhos, não gasta R$100,00 para comprar brinquedos para um orfanato, não deixa a empregada tirar folga no aniversário do filho, mas chega em casa, entra no CliqueFome, aperta “clickclick” e bate as mãos. “fiz minha parte”. Quando aparece um email de criança desaparecida em Cachurropora do Sul, Pará-do-Norte, ou um aviso de alerta de vírus “não abra este email!” o sujeito repassa para todos os contatos no Outlook e já começa a fazer as malas para visitar Estocolmo e receber o Nobel da Paz.
Agora com a Internet 2.0 a moda são as petições online. Antigamente abaixos-assinados eram coisas complicadas. Dava um trabaaaalho… você tinha que ir até um local, entrar em fila, assinar. Quase tão trabalhoso quanto uma eleição. Hoje não. É tão fácil criar petições quanto é assiná-las.
O Ativismo Online é uma piada. GoogleBombs? Façam-me o favor, o quê uma GoogleBomb prova? Que meia-dúzia de nerds sabe fazer links? E petições online? Em dez minutos faço um gerador de emails e nomes e “assino” toneladas de petições. O que isso prova?
A Internet, minha gente, é um MEIO, não é um FIM. Se quiserem que blogs se tornem relevantes, se quiserem que blogueiros se tornem relevantes, temos que parar com a Umbigosfera (tm Pablo Pamplona) um pouquinho. Blogs são importantes como ferramenta de informação? SIM. São importantes como ferramentas de mobilização? COM CERTEZA. Blogs podem levar informação até o leitor, livrando-o do jugo da Velha Mídia? SIM.
Só que com a bunda presa na cadeira ninguém NUNCA fez nada. Se Martin Luther King e Gandhi fossem blogueiros em tempo integral vocês acham que eles teriam feito algo de significativo? IDÉIAS são relevantes. Blogs servem para aglutinar idéias, e só. Sua implementação e popularização tem que ser ao vivo.
“Ah, então blogs não servem para nada”
Não seja idiota. Não é isso que estou dizendo. Se chegou até aqui, acompanhe:
Já ouviu falar de Beppe Grillo? Pois é, nem eu. Mas é um comediante e blogueiro italiano. Seu blog, www.beppegrillo.it/ é impressionante. Um artigo do dia 17/9 tem 1089 comentários até agora. Outro do dia 16 está em 1724. ME MOSTREM UM MALDITO BLOG EM TODA A BLOGOSFERA QUE TENHA ESSE GRAU DE PARTICIPAÇÃO!!!!!
O Beppe montou uma campanha para tentar moralizar o Parlamento Italiano. É um projeto de Lei Popular (na Itália qualquer cidadão pode propor uma Lei, se tiver apoio suficiente) Vejam os pontos, conforme o texto da matéria da BBC Brasil sobre o caso:
- Impedir que políticos condenados na Justiça permaneçam no Parlamento
- Limitar a dois o número máximo de mandatos para cada deputado e senador
- Mudar a lei eleitoral, para permitir que as pessoas possam votem em nomes, e não em partidos
A diferença é que Beppe não ficou sentado mandando emails o tempo todo. Ele usou seu blog como uma ferramenta de mobilização. Não se contentou com gente tomando Coca Light e clicando indignado em um “assinar esta petição”. Não fez um post e pronto.
Ele criou um movimento completo, organizou e orquestrou gente no pais inteiro. No dia 8 de Setembro posts em 200 cidades e municípios italianos recolheram mais de 322.000 assinaturas de apoio ao Projeto. Um comício reuniu 50.000 pessoas. Foram realizados eventos e coletas de assinaturas também nos EUA, Austrália, Japão e mesmo Brasil. Veja o Mapa do Google com os eventos mundiais.
Resultado? Matérias na BBC, no International Herald Tribune e atenção da mídia E dos políticos italianos.
Repetindo: 1700 comentários em dois dias. Isso é relevância, o resto é tico-tico brincando de escrever em blog e descobrindo o mundo agora. (sim, eu também estou nesse balaio. Não dá pra discutir com 1700 comentários em dois dias)
Portanto, meus caros, entendam. ISSO é influência. ISSO é ativismo online sério. Os blogs brasileiros precisam crescer, aparecer e tirar o nariz do próprio umbigo, se quiserem ter alguma relevância. Isso, claro, os que querem fazer ativismo. Me incluam fora dessa…
Agradecimentos ao leitor Karlisson pela dica da matéria na BBC.