O estado da imprensa tradicional é terminal, vemos notícias de jornais de 150 anos fechando as portas, associações de órgãos de imprensa tentando culpar e processar o Google e muita gente tentando evitar ou adiar o inevitável.
EU não acho que o jornalismo irá morrer. É como dizer que a crônica vai morrer por causa da Internet. Poxa, um bom post do Inagaki é o quê? Este post do Burgos é um excelente exemplo de jornalismo. Tem tudo que não se vê na maioria dos blogs: Pesquisa, explanações detalhadas, bom-senso.
O New York Times tem uma excelente massa de assinantes, gente que paga para ler o jornal online. Motivo? Confiam no conteúdo. Sabem que vão receber uma matéria de qualidade.
O que não dá é para montar uma presença online feita nas coxas. Tenho amigos na área online de diversos jornais, e nunca vi tanta má-vontade. As histórias de terror se repetem, os jornais montam estruturas de Internet por obrigação, quem trabalha nelas é visto como jornalista de 2a classe, e lhes é exigido trabalho de 2a classe. No final, acabam contratando jornalistas de 2a classe, afinal é o que querem.
Acho que toda uma geração de editores está tentando sabotar o jornalismo online, para dizer "viu? Falei que esse negócio de Internet não funciona". Vejam por exemplo o Jornal do Brasil. Durante décadas foi respeitado, era um instrumento de oposição ao Globo, visto como governista. Gente do nível de Carlos Drummond de Andrade escrevia no JB.
Agora, no ocaso de seus anos, o Jornal do Brasil mostra que está pronto para destruir sua presença online, tratando leitores como idiotas e produzindo material de 5a categoria, já que a 2a não é mais a meta. Vejam esta pérola:
Isso mesmo. De novo, caso você não tenha lido direito:
"A ambientalista Telma Lobão, engenheira agrônoma e funcionária do esxtado da Bahia, tem uma tese para o desaparecimento do Airbus da AirFrance que fazia a rota Rio Paris. segundo ela, o avião pode ter sido engolido por um buraco negro."
Essa talvez seja uma das idéias mais idiotas que já vi na vida. Os conhecimentos de física da cidadã condizem com o que se esperaria de uma engenheira agrônoma, Ela com certeza não está encarregada pelo CERN para cuidar do LHC.
Embora idiota, a teoria da criatura não é muito distante do que vemos nas absurdas caixas de comentários da maioria dos jornais, só que a Folha e o Globo tem a decência de não publica como matéria esses disparates.
Existe um velho ditado que diz que o papel aceita qualquer coisa, mas a Internet demonstrou que besteira MESMO, tem que ser online. Por isso portais de notícia não tem ombudsman ou errata, iriam trabalhar 24/7. Na pressa de publicar muito, na impunidade do espaço infinito, vale tudo.
Só que publicar qualquer lixo não é fazer bom jornalismo. Droga, não é nem fazer bom blog. Em um mundo novo, onde a CNN disputa relevância, mesmo que momentânea com um sujeito cujos dois únicos méritos no mundo são comer a Demi Moore e ter feito "Cara, cadê meu carro?" credibilidade é tudo.
Nosso NOME é nosso maior bem. Seja você o Morróida ou o Washington Post. Só que nome não dura para sempre. Um bom exemplo é Twitter de Celebridades. Muita gente entra, vê que o sujeito só escreve uma vez ao dia dizendo que vai ao banheiro. Resultado? UNFOLLOW.
Um jornal não vai sobreviver online apenas por ter nome, tradição, seriedade, credibilidade, competência e respeitabilidade na versão em papel. Isso vai servir para atrair leitores, não para mantê-los. Eu acho que nosso ecossistema precisa sim dos órgãos da grande imprensa. Não me importa que não sejam tão ágeis, o Twitter é inútil para cobrir em detalhes um acidente aéreo, por exemplo. Ele diz "caiu", e "onde" caiu. Quem, porquê, como, quem vai responder é o jornal, online ou não.
Só que não vai ser o jornal que publica matérias de buracos negros engolidores de aviões.