Lilly Allen tem 24 anos, é uma cantora pop britânica bem corretinha, com uma carreira pra lá de decente. Em seu MySpace fez o que poucos artistas ousam fazer: Posicionou-se contra compartilhamento de músicas e pirataria.
Vejam as declarações:
“Eu acho que a pirataria está tendo um efeito perigoso na música britânica, mas alguns artistas realmente ricos e bem-sucedidos como Nick Mason do Pink Floyd e Ed O’Brien do Radiohead parecem não concordar”
“Esses caras de grandes bandas dizem que compartilhar músicas é ok. Pode ser ok pra eles, eles enchem estádios e tem a maior coleção de Ferraris do mundo”
“Para os novos talentos, compartilhamento de arquivos é um desastre, está tornando cada vez mais difícil o surgimento de novos nomes”
“Você não começa na musica com Ferraris, começa com uma grande dívida com sua gravadora, a qual você passa anos se fodendo pra pagar”
“Quando você consegue um contrato, todos aqueles vídeos bonitos e pôsteres divulgando seu disco tem que ser pagos, e como artista, você tem que pagar por eles”
“Eu mal acabei de pagar todo o dinheiro que devo a minha gravadora, e sou sortuda por ter sido bem-sucedida e conseguir pagar, nem todo mundo tem tanta sorte”
“Quanto mais difícil para os novos artistas, menos novos artistas você verá, e a música britânica não será mais que fantoches pagos por Simon Cowell”
“É esse o caminho que a música britânica vai seguir? Óbvio que vou me beneficiar combatendo a pirataria, mas eu acho que sem combatê-la, a música britânica vai sofrer”
“Eu não acho que o que temos é perfeito, é estúpido garotos não poderem comprar nada na Internet sem crédito, forçando-os a roubar o cartão da mãe ou baixar ilegalmente. “
“Compartilhando de arquivos não é OK para a música britânica. Eu quero que as pessoas trabalhem juntas para usar as novas oportunidades digitais para encorajar novos artistas”
Paulada. Mas… e aí?
Bandas novas ralam. É fato. O MySpace Brasil, com suas 800 mil novas bandas (ou algo assim, o número era monstruoso) revelou-se um fracasso. A ferramenta em si não ajuda, pessoas não navegam aleatoriamente “vou descobrir uma banda nova hoje”.
Os ouvintes são criaturas de hábito, principalmente os mais novos, que se casam com suas bandas com mais fidelidade do que com suas namoradas imaginárias. Propor um “som novo” é quase ofensa pessoal.
É preciso todo um trabalho de convencimento, trabalho esse que funciona muito bem em redes sociais, quando bem-feito. Quando mal-feito, transforma o Twitter em MySpace de pobre.
Com a Internet a chamada “democratização do acesso” tornou tão fácil conseguir um CD do Pink Floyd quanto um CD da Fernanda Copatti, mas a Fernanda não lota estádios, não cobra milhões de dólares por show e não tem 30 anos de CDs vendidos e royalties.
Perder 10% das vendas quando se vende 10 milhões de dólares é bem diferente de perder 10% quando se vende R$30 mil. E aí, não importa se o artista está dentro do “esquemão” das gravadoras ou se tornou produtor independente. Os custos continuam existindo.
Eu nunca fui fã da defesa neurótica “Artista tem que ganhar dinheiro com show”. PRIMEIRO eu acho que artista tem que ganhar dinheiro da forma que o artista QUER ganhar dinheiro, não é função ou sequer DIREITO meu dizer como outra pessoa deve ganhar dinheiro.
Segundo, essa justificativa do show, para liberar o oba-oba da pirataria é extremamente cômoda. E os artistas que já morreram, comofas? Danem-se as famílias? Morreu, vira domínio público?
E o caso do Herbert Vianna ou do Marcelo Yuka? “Foi mal, cara, você tomou um tiro na espinha, ficou paraplégico, não consegue tocar mais. Está fora da banda e não tem direito a mais nem um centavo”.
Quem defende que artista só pode ganhar dinheiro com show está dizendo basicamente isso.
Eu não sei qual a profundidade do problema levantado pela Lily Allen, mas as preocupações dela fazem sentido. É muito mais fácil destruir um pequeno do que um grande. O novo livro do Dan Brown já está sendo distribuído nas redes P2P da vida, mas ele venderá milhões de exemplares pra gente que nem sabe que a Internet existe.
Se um livro meu, escrito com fins lucrativos tiver 10, 20, 30% de taxa de pirataria, dado o universo de leitores ordens de magnitude menor, pode ser o suficiente para inviabilizar a próxima edição.
E isso não é bom para ninguém.
Fonte: The Sun