TED e a Otimização do Caminho pro Inferno

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Eu adoro o TED. É uma iniciativa fantástica e vale cada um dos US$6 mil do ingresso. Ao contrário da franquia Pão-de-Queijo que a coisa virou no Brasil, o TED de verdade não se resume a coitadismo e gente falando de ONG em favela, as idéias apresentadas vão muito, muito além de tornar o Brasil referência mundial na produção de sandálias de pneu.

O TED apresenta coisas como o impressionante braço biônico de Dean Kamen, ou a brilhante apresentação de Hans Rosling sobre condições de vida e pobreza no mundo, especial para mudar a opinião de muita gente que adora o discurso “cada vez pior”.

Uma grande apresentação do TED é esta de Michael Pritchard. É inspiradora, uma solução simples para um problema mundial: Água potável.

Em regiões de grandes catástrofes, como o Tsunami do Japão em 2011 a prioridade é água. Um humano normal pode ficar sem comida por semanas, sem Internet por alguns dias, mas ausência de água mata em muito pouco tempo.

Apela-se para água contaminada, o resultado são doenças que degeneram em epidemias.

Veja o vídeo:

 

A invenção de Pritchard é genial. Lifesaver, uma garrafa com um filtro de 20 nanômetros, pequeno o bastante para filtrar até vírus. Isso é suficiente para purificar qualquer água de esgoto, ou mesmo Malt 90.

Sem baterias, sem kits complicados. Enche-se a garrafa, bomba-se um pouco e do gargalo sai água zerada, pura como a Sandy antes de começar a não beber Devassa. Cada filtro dura 6000 litros. Ele criou um galão capaz de filtrar 25.000 litros, o equivalente ao consumido por uma família de 4 pessoas durante 5 anos.

Neste momento você deve estar se perguntando: COMO isso não está sendo jogado de avião por toda a África? COMO todo nordestino sofrido severino não nasce com uma dessas amarrada no cordão umbilical?

Pelo mesmo motivo que Bill Gates não comprou uma casa, um carro e um notebook Windows pra cada criancinha africana.

Pelo mesmo motivo que não temos uma base na Lua.

Pelo mesmo motivo que não curamos doenças excessivamente raras.

Dinheiro.

Não falo de ganância, falo de custo real. Deixar de depender do petróleo é fácil, complicado é trocar toda a frota de veículos de um país para carros elétricos, e bancar a expansão da geração de energia para suprir isso.

A Lifesaver não está em todos os lares africanos. Mas isso não é culpa de malvados capitalistas, como… o criador da Lifesaver. Ninguém quer ver africanos morrendo, exceto outros africanos, mas boas intenções só servem para pavimentar o caminho para o Inferno. Não adiantam para criar um equipamento com custo realista. Quer ver?

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Isso mesmo. US$191,69 pela garrafa de 6000 litros de autonomia. US$191,69 é mais ou menos o PIB da Mauritânia, e nem vou apontar que é com desconto, o preço de tabela é US$299,99.

Quer rir mais? Vendem no Brasil também.

 

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É, 600 contos, e é pela garrafa mais baratinha.

Como? Claro que piora, cacete, você é leitor do site, sabe que eu sempre deixo a cereja de merda pro final.

Sabe os 6000 litros? É a autonomia do elemento de filtragem principal, o refil custa US$129,99. Também tem o filtro de carvão ativado, com durabilidade de 500 litros, vendido a US$29,95 (kit com 4). Ops, tem também o pré-filtro, vendido a $11,95.

Portanto toda aquela conversa linda no TED não deu em nada. Não adianta querer salvar o mundo descobrindo que caviar cura AIDS, não tem pra todo mundo, 99,999% do planeta não tem nem dinheiro pra comprar. Criar uma garrafa com filtro de R$600,00 pra mim não é mérito, é exercício de autoindulgência, mostrando ao mundo como sou bonzinho, como penso nos pobrinhos mas no máximo vendendo meu produto para exploradores ricos e fãs do Bear Grylls, que exigiram uma modificação, na garrafa dele você coloca água pura, sai urina.

Acho que a grande diferença é que Michael Pritchard é uma bela Maria Antonieta, sugerindo bolos caros pra cacete, enquanto William Kamkwamba, o Garoto que Domou o Vento sentia a miséria na carn-no osso e produziu uma solução real para um problema real.


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