Quem me acompanha faz algum tempo sabe que eu sou francamente a favor da Ciência, da Tecnologia, do Conhecimento.
Aplaudo e divulgo iniciativas de todos os tamanhos, de robôs de US$2 bilhões em Marte, a satélites equatorianos de pífias dezenas de milhares de dólares.
Divulgo projetos de robôs educacionais em escolas e aplaudo iniciativas que promovem bolsas de estudo para estudantes super-dotados.
Brinco, sacaneio mesmo nosso programa espacial. Estamos engatinhando, no mesmo nível da Alemanha do final da 2a Guerra, enquanto meras empresas com dez anos de idade, como a SpaceX lançam naves para a Estação Espacial Internacional, a mesma estação que não fazemos mais parte, por puro calote.
A Índia, que por muito tempo foi sinônimo de fome, primitivismo, 3o mundo, vai lançar em alguns meses uma soda para Marte. Lua? Já fizeram.
Ver o sistemático desmanche de nossa ciência, por parte do governo do (insira seu partido menos-favorito aqui. Todos se encaixam) só cria desgosto, ainda mais quando iniciativas vazias são usadas para “compensar” a falta de resultados reais.
O melhor exemplo é a Petrobras. SIM, ela detém tecnologia de exploração em águas profundas, um know-how valiosíssimo, mas com décadas de idade. A maioria dos países não desenvolveu a tecnologia apenas por não precisar dela.
Com o advento do Pré-Sal todo mundo começou a gastar por conta, pena que tecnologias de fracking tornaram o petróleo barato demais para compensar realmente o pré-sal.
Agora, completando 60 anos, a Petrobras resolveu vender seu peixe com uma ação de marketing tecnológico, que no papel, para quem não tem idéia da tecnologia envolvida, soaria bem ousada.
A empresa criou a Missão Netuno (nossa, que criativo), com o objetivo de levar uma cápsula do tempo E uma bandeira do Brasil às profundezas do Oceano, uns 2Km de profundidade.
2Km não é uma profundidade trivial. Mas é uma profundidade rotineira para exploradores de petróleo em águas profundas e arqueólogos marinhos em geral. O Titanic está a 4Km de profundidade e foi descoberto por Robert Ballard em 1985.
Jacques Piccard atingiu o fundo da Fossa das Marianas, 11Km de profundidade, em 1960. James Cameron fez o mesmo, ano passado.
A tal Missão Netuno não é tripulada. Consiste em levar uma estrutura com uma bandeira até o fundo do oceano, e só.
Vou dar uma dica de como você consegue fazer isso: Amarre uma bandeira a uma pedra, e solte pela amurada no barco.
Não há tecnologia NENHUMA envolvida, sua sonda vai descer feito uma pedra (seja ela uma pedra ou não). A pressão de 200 atmosferas é imensamente alta, mas em nada afetará um pedaço de pano, plástico ou um tanque de mergulho, que normalmente são pressurizados a 200 atmosferas.
Quer mandar uma mensagem para o fundo do oceano? Encha uma garrafa PET com areia, amarre um pedaço de lata com seu texto escrito e jogue do barco. Pronto.
Sinceramente, não estou impressionado. Não acho que uma das maiores empresas de petróleo do mundo deva ser orgulhar de fazer algo que foi superado pelo menos 43 anos atrás.