O Dia em que fui acusado de espionagem

O Dia em que fui acusado de espionagem

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Como diz Éden, meu baiano favorito, senta que lá vem história, lembrei dessas num bate-papo com o Aviões e Músicas e é boa demais pra deixar passar.

Demonstra muito da nossa mentalidade de vira-latas e de porquê o Brasil nunca vai deixar de ser o país do futuro.

Lá nos idos de 2004 eu descobri o Espaço Cultural da Marinha, aqui no Rio, na Praça Mauá. Em uma visita aprendi mais sobre História da Marinha do que em todos os anos de colégio. Eu com 30 anos na cara não sabia que o Brasil havia participado da PRIMEIRA Guerra Mundial. Obrigado, professores comunistas.

O lugar é excelente, além do museu em si e do passeio pela Baía de Guanabara no Laurindo Pitta, um rebocador de alto-mar construído em 1910, você pode visitar o Bauru, um destróier que serviu na Segunda Guerra defendendo comboios de U-Boats nazistas, e também o Riachuelo, um submarino classe Oberon.

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Ele está muito bem preservado, e todos os compartimentos são acessíveis, você vai da sala de torpedos na proa até a sala de máquinas, é quase como participar de Das Boot.

Em uma das visitas eu estava fotografando avidamente o  barco (submarinos são barcos, não navios) quando reparei um sujeito com o filho meio que me encarando. Não liguei, continuei examinando tudo, do periscópio ao Valvulão (sim, existe algo com esse nome).

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Aposentos do comandante. Chupa Marko Ramius!

Uma hora um marinheiro, que fica tomando conta pra gente não roubar um torpedo veio falar comigo, todo sem-graça.

“Oi, tudo bem? Olha, desculpa MESMO, será que você podia parar de fotografar só um pouquinho?”

Eu fiz cara de cachorro que não estava entendendo nada, mas ele explicou.

“Não é proibido, poxa, isso aqui é um museu, claro que todo mundo pode fotografar, mas está vendo aquele sujeito ali com o garoto? Ele é um oficial, e veio reclamar comigo que você estava agindo de forma suspeita fotografando tudo. Eu não posso responder, ele é meu superior. Desculpa, desculpa mesmo.”

Eu respondi baixinho que entendia o lado dele e coloquei a câmera de lado. O oficial babaca olhando de longe sorriu satisfeito e continuou o passeio.

“É só até ele ir embora, tá? Depois fique à vontade”

Isso foi em 2004, na hora fiquei na dúvida se esperava dois anos pro twitter ser inventado e xingar muito, ou deixava pra lá. Para proteger o coitado do marinheiro achei melhor deixar pra lá, mas é triste só agora poder xingar aquele oficial babaca escroto idiota que acha MESMO que fotografar tecnologia dos anos 70 exposta num museu poderia prejudicar a segurança estratégica da “marinha” dele.

Do outro, onde não há síndrome de vira-lata, blogueiros são convidados a visitar porta-aviões nucleares. Posso até ver aquele oficial babaca do alto de sua mesa, a única coisa que ele provavelmente comandou na vida, balançando a cabeça fazendo tsc tsc tsc.

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