Yodeling é um estilo de canto que é muito complicado de descrever mas todo mundo reconhece na hora. É algo profundamente associado com a Suíça, embora tenha raízes mais pra região da Bavária, e tecnicamente seja alemão. Faz parte da cultura local, é algo preservado protegido e prestigiado.
Só que como é algo que existe no mundo real, não é tratado como coisa sagrada e tabu para estrangeiros. Esse é o grande problema dos paladinos da ficção conhecida como “apropriação cultural”, acham que possuem algo tão incrível e único que não pode ser dividido com ninguém, quando culturas não funcionam assim.
As melhores criações de uma cultura tendem a se espalhar. Outras culturas se inspiram e com o tempo acabam criando versões locais. É de chorar de rir ver militantes chilicando com “brancos” que se atrevem o tocar o Ukulele, se apropriando assim da venerável cultura havaiana.
O problema é que o Ukulele é um instrumento fortemente baseado no cavaquinho, introduzido no Hawaii por imigrantes portugueses de Madeira e dos Açores. A apropriação cultural reclamando da apropriação cultural?
Culturas se influenciam o tempo todo, seja em culinária, artes ou linguagem. E isso não é de hoje, embora seja um conceito complicado para a militância entender, já que não acreditam que nada aconteceu de importante do mundo antes de 1870. Quer um exemplo de “apropriação cultural”? Isto:
Não estou falando do Aladdin da Disney ser levemente baseado no Tom Cruise. O buraco é mais embaixo. Nas versões originais das Mil e Uma Noites a história de Aladdin NÃO se passava nas Arábias. Aladdin se passava… na China. Não há nada no texto original que detalhe isso fora o começo, que localiza a história. Aparentemente a China foi escolhida como cenário por ser uma terra distante e exótica. A militância chama isso de “orientalismo”, diz que é racista e ofensivo, mas como quem contou a história pela primeira vez para Antoine Galland, o tradutor francês foi um mercador sírio, temos militantes dando tela azul.
Com isso voltamos ao Yodeling. Uma das figuras mais populares da Alemanha praticando a arte é este sujeito, e peço que observe com atenção:
Isso mesmo, Xeroque, é um japonês. Takeo Ischi era estudante de engenharia em Tóquio, quando foi mordido pelo bicho da música. Sabe-se lá o motivo se apaixonou por Yodeling, comprando todos os discos do popstar do estilo Franzl Lang. Takeo aprendeu a cantar sozinho ouvindo os discos, e acabou indo estudar na Alemanha. Assim como Steve McQueen escapou para a Suíça e se apresentou em um bar de Zurique. A imagem de um bando de alemães e suíços vendo um japa arrasar no Yodeling deve ter sido fantástica.
Ele acabou conhecendo Franzl Lang, que o tomou como pupilo e de lá a carreira de Takeo deslanchou, dando início a uma parceria Japão/Alemanha muito mais bem-sucedida do que da última vez.
Ele casou com uma alemã, tiveram cinco filhos e Takeo Ischi é uma celebridade menor mas muito querida em ambos os países.
Ele agora lançou um bizarríssimo vídeo de humor onde é um Mestre que comanda todos os animais, mas prefere as galinhas. Ele combate o Mal e a Injustiça com uma penosa que se transforma em um galinja, ou algo assim:
OA relação de Takeo com galinhas é bem antiga. Se você achou que nunca veria um japonês yodelando pra um bando de galinhas, pense duas vezes:
Quem deveria pensar duas vezes também é o pessoal da apropriação cultural, pois se a ALEMANHA, que 60 anos atrás era um tiquinho menos compreensiva aceita respeita incentiva e aplaude um japonês que abraça umas das partes mais tradicionais de sua cultura, chilicar por causa de turbantes ultrapassa as raias do ridículo.