Você que é leitor frequente do Contraditorium conheceu um monte de planos mirabolantes, idéias geniais, atos de coragem, inteligência e jogadas de mestre que às vezes nem filmes viraram, por serem inacreditáveis demais.
Hoje vamos ver o outro lado, as idéias idiotas propostas em guerras, algumas descartadas logo após seu surgimento, outras levadas a termo. Não se acanhe em ter vergonha alheia, mas lembre-se: Situações desesperadas geram idéias desesperadas, não necessariamente boas idéias.
1 – A Bomba Gay
Essa é relativamente recente, surgiu em 1994 no Laboratório Wright. Em uma proposta apresentada por um dos pesquisadores vários usos para substâncias químicas foram propostos. Alguns bem interessantes, como espalhar compostos em torno de uma base que contaminariam invasores e atrairiam insetos ou animais selvagens.
Havia variações que alertariam os cachorros de patrulha, e até uma “bomba fedida” que deixaria claro que o sujeito havia estado onde não devia, mas a melhor proposta de composto não letal foi a Categoria 3:
“Categoria #3 Compostos que afetem o comportamento humano e causem efeitos adversos na disciplina e moral das unidades inimigas. Um exemplo desagradável mas completamente não-letal seriam afrodisíacos fortes, especialmente se o composto causasse também comportamento homossexual. Outro exemplo seria o de compostos que tornassem as pessoas muito sensíveis à luz do sol”
A idéia não passou disso, não existe tal composto (grazadeus) e a Marinha está de prova: mesmo que existisse a moral e eficiência da tropa não seriam afetadas, mas o simples fato de alguém colocar no papel, tornando oficial eternizou a Bomba Gay, que hora é sempre lembrada em textos de zoeira.
2 – A Bomba-Pombo
A tecnologia na Segunda Guerra Mundial era basicamente barro-fofo e pedra lascada, computadores eram tão raros que sua simples existência era segredo, e ocupavam prédios inteiros. A idéia de um computador controlando a trajetória de uma bomba ainda estava décadas no futuro, mas havia uma guerra a ser vencida. Surgiu então uma sugestão de como controlar uma bomba planadora para atingir um navio em alto-mar: Pombos.
O chamado Projeto Pombo (O cara que cria os nomes para a Polícia Federal ainda não havia nascido) foi obra do famoso psicólogo behaviourista e Diretor do colégio do Bart Simpson B.F. Skinner.
Ele propôs condicionar pombos para identificar alvos em uma tela. Eles bicariam o navio, sensores identificariam a posição da bicada e acertariam a trajetória para manter o ponto da bicada no centro da imagem.
Sistemas de radar e TV existiam mas eram muito primitivos, e o radar tinha a desvantagem do avião-lançador ter que voar reto em direção ao alvo até a bomba acertar. O sistema de pombos usava três aves, como redundância, e Skinner conseguiu inclusive fazer uma demonstração bem-sucedida.
Apesar da demonstração, os militares não conseguiram levar o projeto a sério. Ele foi cancelado em 1944, apenas para ser resgatado em 1948, e mais dinheiro foi gasto até 1953, quando a eletrônica avançou o suficiente para tornar desnecessário o investimento em ratos voadores.
3 – Galinhas Nucleares
O projeto foi originalmente batizado de Brown Bunny, mas um viajante do tempo avisou que no futuro seria o título de um filme horrível onde a única coisa memorável é o bola-gato explícito que a Chloe Sevigny faz no Vincent Gallo e- tá, eu espero você ir no XVideos.
OK, voltou? Boa a cena, né? Mas nossa bomba…
rebatizado como Pavão Azul, o projeto inglês era uma tentativa desesperada de deter uma invasão soviética. A arma era uma espécie de mina terrestre nuclear, com potência de 10 Kilotons. Seriam espalhadas na Alemanha (sim, a ironia é imensa) e detonadas remotamente caso as tropas russas invadissem.
Como eram armas que ficariam em compartimentos subterrâneos sem vigilância, havia risco do inimigo tentar desarmar, então os ingleses fizeram o que nunca se faz com uma arma nuclear: projetaram para explodir quase acidentalmente.
A unidade era pressurizada. Se a pressão caísse, ela explodia. Se fosse movida, explodia. Se alguém tentasse mexer nos fios, explodia.
Só havia um problema: Alemanha costuma ser fria, e equipamento eletrônico enterrado vai congelar muito rapidamente. As baterias da bomba não aguentariam um sistema de aquecimento por muito tempo, e não era possível usar força externa, ou o inimigo a cortaria.
Entre as várias soluções surgiu a de usar… galinhas.
As penosas seriam colocadas dentro do compartimento pressurizado, com água e comida. O ar deveria durar uma semana. Nesse tempo as galinhas, com seu calor corporal em ambiente confinado manteriam a bomba aquecida. Quando morressem seriam substituídas pelos cornos com a infeliz tarefa de abrir uma bomba nuclear preparada para explodir se manipulada. Acho que nesse caso o cheiro de cocô e galinhas mortas seria a menor das preocupações.
Dez bombas foram encomendadas em 1957, mas em 1958 alguém se tocou que explodir armas nucleares e contaminar território aliado não fazia muito sentido, e a idéia toda foi cancelada, para alívio das galinhas.
4 – A Bat-Bomba
Japão e EUA viviam um dos maiores jogos de gato-e-rato da Segunda Guerra, disputando quem tinha as idéias mais fora da caixa. O Japão saiu na frente, com seus balões-bomba que atravessavam o pacífico e atingiam (muito raramente) os EUA.
Os americanos por sua vez resolveram inovar com as Bat-Bombas. O conceito era interessante: Morcegos são capazes de carregar bastante peso, e adoram áreas escuras e isoladas como sótãos. As casas japonesas são papel e madeira, altamente inflamável.
Que tal então prender cargas incendiárias com timers em morcegos, lançar bombas que se abririam a uma determinada altitude, liberando os bicos e deixando que eles se espalhassem por centenas de quilômetros quadrados, para algumas horas depois irromperem em chamas botando fogo em tudo?
A idéia foi autoria de um tal Lytle S. Adams, dentista da Primeira Dama Eleanor Roosevelt, e demonstrando que pistolão é tudo nessa vida, o projeto foi aprovado em 1942.
Cada bomba tinha 26 bandejas com 40 morcegos cada.
Pelas contas do exército 10 bombardeiros B-24 conseguiriam lançar 1.040.000 morcegos em um único ataque.
Os testes envolveram selecionar as melhores espécies, descobrir como colocá-los para hibernar e quanto explosivo cada um poderia carregar.
A eficiência do projeto foi comprovada em 15 de Maio de 1943, quando um bando de morcegos armados foi solto sem-querer na Base Aérea de Carlsbad, no Novo México. Eles se refugiaram nos prédios, embaixo de tanques de combustível e o resultado você vê aqui:
Diante desse dramático resultado a pesquisa continuou, e uma vila japonesa chegou a ser construída secretamente, para novo e bem-sucedido teste, mas mesmo assim os detalhes foram se acumulando e a bomba-morcego não estaria operacional em 1945.
O projeto acabou cancelado, para a tristeza dos envolvidos, que achavam realmente que os EUA não tinham outra forma de destruir uma cidade japonesa inteira.
5 – Dark Mountain
Essa é obra da Unidade de Guerra Psicológica do Joint Intelligence Center, Pacific Ocean Areas (JICPOA). Eles tentavam achar formas de minar a moral dos japoneses, esse tipo de operação era comum, com panfletos, transmissões de rádio, etc. A equipe do Coronel Dana Johnston era treinada para pensar fora da caixa, mas dessa vez acabaram caindo dela.
Os especialistas perceberam corretamente que o Monte Fuji era um símbolo especialmente querido no Japão, com profundo significado. Seria interessante então atacar esse símbolo, causando terríveis efeitos nas pessoas em volta.
Como explodir uma montanha estava fora de questão, a melhor alternativa seria… pichá-la.
Imaginaram uma enorme frota de bombardeiros lançando cargas de tinta que explodiriam e tornariam preta a montanha eternamente branca.
Isso afetaria profundamente os “fazendeiros supersticiosos”, abalaria a moral da população e destruiria o esforço de guerra.
É o mesmo raciocínio de que se a Argentina explodir o Cristo Redentor a gente se rende, ou -mais idiota ainda- que os EUA sairão do Oriente Médio se alguém explodir dois prédios grandes em Nova York.
Colocado no papel o plano não pareceu tão inteligente quanto no bar onde obviamente foi formulado. Mentes menos enebriadas também fizeram notar que o Monte Fuji tem significado religioso, e isso iria irritar os japoneses, muito mais do que desmotivá-los.
No final das contas como tantas outras a idéia de pintar de preto uma montanha branca com a neve, em um lugar onde neva quase todo dia, foi pra gaveta.