Resenha: Onde Morrem os Aviões e quase morreu o Lito

Resenha: Onde Morrem os Aviões e quase morreu o Lito

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Onde Morrem os Aviões é o primeiro livro do Lito, o criador do imensamente popular canal Aviões e Músicas, que consegue o feito de fazer sucesso entregando somente 50% do que promete. É um livro curto, de leitura fácil e divertida, cujo principal mérito é demonstrar a habilidade do autor em monetizar roubadas.

Sim, Onde Morrem os Aviões é uma imensa roubada. A gente fica botando a mão na cabeça e pensando “Não Lito sua mula não faça isso!” mas ele faz e a história só melhora.

O livro também é uma declaração de amor à aviação, à mecânica e à engenharia.

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Da série “eu odeio designers”. Sujeito projeta uma biblioteca pra homenagear Richard Bach. Na forma de um… biplano acidentado.

Sem ser uma biografia, o Lito se foca na aventura, deixando sua vida em segundo plano. Depois de contar como ingressou na carreira aeronáutica até com bastante detalhe, ele pula fases inteiras da vida, em um momento ele comenta de passagem “nessa época eu era casado”. Como assim? Do nada?

Disso não posso reclamar. Em vários momentos o Lito me lembra meu autor favorito, Richard Bach, que ama aviões, e se preocupa muito mais em falar deles do que de si mesmo, mas transparece fácil no texto que Lito é um cara apaixonado, e nada superará seu primeiro amor, o Lockheed Electra L-188.

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Electra Victor Juliet Mike, no Museu Aeroespacial do Campo dos Afonsos, RJ.

O avião é o foco do livro, que começa de seu fim (do avião, não do livro), aposentado na VARIG com a entrada dos jatos na Ponte Aérea Rio-SP, coincidindo com o fim do glamour das viagens aéreas, antes reduto de ricos e famosos e agora orkutizado a ponto que qualquer zé ruela consigo pegar um avião de vez em quando.

No começo dos Anos 90 a Varig conseguiu vender alguns aviões para uma linha aérea no Zaire, hoje Congo, um dos países mais pobres da África, e recém-saído de mais uma guerra civil. Aviões precisam de mecânicos e nosso herói teve a brilhante idéia de aceitar um contrato de três meses, ganhando o equivalente a dois anos de salário, junto com casa e comida.

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Lito, rindo feito criança entrando mais uma vez no VJM.

Do conforto de minha casa com luz elétrica e água encanada, admito que ri muito sabendo do que estava por vir. Usando uma metáfora made in Richard Bach, Lito estava prestes a ser atropelado pelo Grande Rolo Compressor da Experiência, ao se licenciar da VARIG e embarcar em uma jornada rumo ao desconhecido, audaciosamente indo aonde nenhum manual de segurança aérea jamais esteve.

Welcome to Africa Operations” é a frase que define o livro. A África é o Brasil da África, se você acha ruim o jeitinho brasileiro, espere para conhecer o jeitinho africano. Nada é trocado até quebrar, conceitos como especificações técnicas e centro de gravidade são totalmente ignorados por todos os pilotos e mecânicos, que de qualquer jeito não falam seu idioma.

Em alguns momentos em sinceramente temi pela vida do Lito, o que me acalmou foi a história parecer com centenas de filmes que a gente já viu e criticou por estereotipar o dia-a-dia em shitholes, mas que são basicamente documentários.

Ser levado de casa para o aeroporto com escolta armada, comer churrasco de lagarta, ver problemas alfandegários sendo resolvidos com maletas de dinheiro… não duvido que em algum momento Lito tenha encontrado com Yuri Orlov, personagem de Nicholas Cage naquele excelente documentário O Senhor das Armas.

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Zaire. Só pra você se situar. Não vá pra lá.

Onde Morrem os Aviões conta também onde morreu a inocência do jovem Joselito, que acreditava que procedimentos, regras e acima de tudo, segurança eram uma constante universal, apenas para descobrir que a ganância e a impunidade em um paraíso anarcocapitalista transformavam aviões e pessoas em elementos dispensáveis e desimportantes.

Sempre havia alguém disposto a fazer o serviço, e ou Lito aceitava essa realidade, arriscando sua vida e se tornando cúmplice na eventual morte de dezenas de pessoas quando (não se) aqueles aviões caíssem, ou ele abriria mão de seu contrato polpudo e voltaria para lugares mais civilizados.

Não vou contar a decisão dele, sem spoilers, é a regra.

No final nosso herói deixa de ser um garoto ainda deslumbrado com toda a responsabilidade que recebeu, e se torna um homem, um profissional que coloca a segurança acima de tudo, e aprendeu que por mais que o Brasil seja essa zona, estamos anos-luz adiante de um monte de outros lugares.

Agora só nos resta esperar que o Lito aceite uma oferta de um empregão na aviação regional na Malásia, isso vai render outro ótimo livro.

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Ficha:

  • Título: Onde Morrem os Aviões
  • Autor: Lito Souza
  • Páginas: 144

Onde Morrem os Aviões pode ser encontrado na loja Kindle da Amazon, e comprando lá você também me ajuda. Se não quiser me ajudar ou preferir cópia física, seu neandertal, você encontra o livro de verdade na Loja do Aviões e Músicas.

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