Confeiteiros sem Fronteiras – Quando a Militância era doida sem ser chata

Confeiteiros sem Fronteiras – Quando a Militância era doida sem ser chata

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5 de fevereiro de 1998. Um plano bem-orquestrado estava prestes a ser executado. O alvo: Bill Gates, então chairman da Microsoft, um dos homens mais ricos e influentes do mundo.

A segurança havia falhado, ninguém percebeu os intrusos em meio à multidão. Quando Gates estava sendo conduzido para dentro de um prédio do governo em Bruxelas, o principal perpetrador avançou e atingiu Bill Gates em cheio no rosto. Headshot, indefensável.

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Felizmente o “agressor” era Noël Godin, um sujeito trollador, sem raiva de ninguém, com tendências anarquistas e que vivia pela zoeira. Cahotic Neutral, como diríamos na Internet.

Godin pregava o protesto não-violento, atacando pessoas famosas e controversas. Sua arma era a torta de creme, no bom sentido, não google por creampie pelamordedeus. Ele encomendava em confeitarias locais pão de ló com uma cobertura de creme, bem fofinho, pra sujar sem machucar.

Além de Bill Gates, ele e seus comparsas atacaram gente do nível de Jean-Luc Godard, Marguerite Duras, Maurice Béjart, Nicolas Sarkozy e outros.

Provavelmente Godin foi a inspiração para um grupo com alcance mais amplo, um pouco mais politizado, mas com a mesma proposta de agir de forma não-violenta e tirar do sério gente que se leva a sério demais, os Confeiteiros Sem Fronteiras.

Um de seus feitos mais famosos, ao menos para nós, foi quando, em 2003 durante uma coletiva no Sheraton em Porto Alegre, representantes locais tacaram uma torta na cara do José Genoíno.

O petista ficou puto da vida, claro, e levou a sério, acusando os “agressores” de tentar desestabilizar o governo, mas o que mais se lembra é a risada de quem assistiu tudo ao vivo.

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Também em 2003 foi a ver de Blairo Maggi, Governador do MT, levar uma tortada na cara.

Em 2004, Ann Coulter, jornalista e personalidade conservadora dos EUA, teve um discurso interrompido quando foi alvo de uma torta, atirada por militantes da “Al Pieda”.

No mesmo ano, Ricardo Berzoini, então Ministro das Comunicações, foi igualmente alvejado.

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A lista de gente que já levou tortada é imensa, há até uma página da Wikipedia sobre isso, com nomes que vão do Príncipe Charles ao Rei da Suécia, de Calvin Klein a Sylvester Stallone.

Em comum, o fato das celebridades encararem as tortas de forma bem mais leve que os políticos, que sofrem ao ter sua seriedade questionada. As risadas doem mais do que as tortas, e de certa forma, o ativismo funciona bem melhor, pois não há risco envolvido, não há como se vender como mártir, não há cicatriz ou momento de quase-morte.

Ninguém sobe no palanque se vangloriando de ter sobrevivido a uma torta.

Hoje vemos menos protestos como os dos Confeiteiros Sem Fronteiras, o principal motivo é que a militância está mais burra e mais raivosa, as pessoas não têm mais vergonha de esconder seu ódio. Se você acha que está do lado do Amor, da Virtude e da Paz, tudo é permitido para atingir seus objetivos, de pedir para guilhotinarem o Presidente que você não gosta, a celebrar bebês mortos, se eles são da religião que você não gosta e agora pode de novo, assim como em1936, dizer que não tolera aquela gente.

O mundo está mais sem-graça, a Militância esqueceu que o primeiro passo para derrotar seus opressores, é rir deles, e não precisa de violência para isso, se você for bom, mais gente vai inclusive rir com você.

Só que para fazer rir é preciso ser inteligente, e a militância hoje é representada por aquela retardada que destruiu a decoração de um restaurante em Nova York, “acusando-o” de ostentar bandeiras de Israel (vide parágrafos anteriores).

Era um restaurante grego.

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