É verdade que os EUA malvadões querem invadir a Síria pra economizar no frete do petróleo?

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Porto de Ain Sokhna, Egito.

Um fenômeno interessante das teorias conspiratórias é que elas não resistem a um mínimo de raciocínio lógico, mas mesmo assim são repassadas com fervor por gente que se recusa a pensar. A logística de manter em silêncio os 400 mil engenheiros e mais não sei quantos milhões de funcionários das milhares de empresas que contribuíram para o Programa Apollo, de 1961 a 1972 não passa pela cabeça dos conspiradores, assim como não explicam como o Governo Secreto sumiu com os passageiros de todos os aviões envolvidos nos ataques de Onze de Setembro, e usou jatos de controle-remoto. 

As conspirações em geral não resistem a um escrutínio mínimo, mas às vezes elas são idiotas mas não sabemos exatamente o motivo, como esta bobagem aqui:

OK, calma. Como assim? Vamos esquecer o antiamericanismo histérico, e pensar direito. Os americanos querem uma rota direta para os petroleiros, saindo da Síria. Exatamente… por qual motivo? Há Líbano, Turquia, Israel, Egito, Líbia e outros com portos no Mediterrâneo para abastecer os petroleiros, qual o motivo de não usarem países relativamente pacíficos ao invés de se meter em uma guerra complicada?

Há antes disso um outro problema. Como fazer o petróleo chegar lá. A maior parte do petróleo do Oriente Médio fica na região do Golfo Pérsico.

Como não há camelos suficientes para levar tanto barril, a solução foi um oleoduto. Começado em 1947 e terminado em 1950, o Oleoduto Trans-Arábia chegou a transportar 500 mil barris/Dia por 1200Km entre o Golfo Pérsico e o Líbano.

Infelizmente a instabilidade política da região e a ganância generalizada fizeram com que em 1976 o oleoduto fosse abandonado em sua parte final, os países não se acertavam em valores para as “taxas de trânsito”, o dim-dim cobrado pelo petróleo trafegado no território de cada país.

Para piorar, alguém resolveu inventar o superpetroleiro, e se lembraram de algo que os idiotas do tal História Viva se esqueceram que existe desde 1859: O Canal de Suez.

British Queen, primeiro superpetroleiro da BP, atravessa o Canal de Suez em 1960.

Isso mesmo, crianças, não é preciso invadir a Síria nem usar oleodutos caros e alvo de ataques terroristas, é só pegar o Canal de Suez, sair no mediterrâneo e seguir direto levando o petróleo pros malditos ianques imperialistas golpistas. Só que…

Vejamos um mapa (muito) simplificado das rotas de superpetroleiros.

Como assim, Bial? É muito parecido com o mapa dos malucos, será que eles estavam certo? E essa volta louca pela África, não faz sentido! Talvez seja melhor invadir a Síria mesmo, não?

Não.

Note que o tráfego passando por Suez vai todo para a para a Europa. Existe um motivo para os navios levando petróleo para os EUA pegarem o trajeto mais longo: Dinheiro.

O preço do combustível dos navios caiu de US$389 para US$147 por tonelada. Já o custo de atravessar o Canal de Suez depende do tamanho do navio, e varia entre US$300 mil e US$ 1 milhão. Dependendo da carga, um navio economiza entre US$300 mil e US$500 mil percorrendo os 7 mil km e 11 dias a mais da viagem descendo pelo Cabo da Boa Esperança. (fonte)

UM superpetroleiro como o MT Hellespont Alhambra tem capacidade de 3,16 milhões de barris. Isso ocuparia o oleoduto inteiro por quase uma semana.

Agora imagine uma imensa fila de navios no Mediterrâneo, parados perdendo dinheiro esperando pacientemente a torneirinha pingar petróleo até encher o tanque, um a um.

Não há pressa, o petróleo está barato demais, para desespero dos conspiradores a volta pela África é uma necessidade, e a Síria não tem nada a ver com isso.


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