O dia em que descobri que supernovas causavam gays

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Eu ando bem interessado em sonhos (do ponto de vista científico, xô, jovem místico), especialmente nos chamados sonhos lúcidos, quando a gente percebe que está sonhando e com treino, consegue modificar o ambiente e as regras do sonho.

Na última noite consegui minha melhor experiência. Normalmente em meus sonhos eu sempre sou muito fraco fisicamente (não tente me freudiar), mas como era um sonho lúcido, eu decidi que teria super-força, e funcionou. Mais tarde, voando pela cidade (eu falei que era Matrix) acabei em um trem com vários jornalistas de ciências (lógica de sonho).

Conversamos por horas, e sabe-se lá o porquê, a conversa foi parar na biologia da homossexualidade. Falamos sobre como estudos genéticos eram inconclusivos, bem como fatores ambientais, aí um dos jornalistas comenta “exceto o Ferro”.

O barman, que também era cientista concordou. “Exato, há inúmeros estudos apontando um índice de Ferro bem alto entre pessoas homossexuais”.

Eu comecei a pensar no sonho que isso daria um excelente artigo, pensei nas várias tangentes que tomaria, como conduziria o fio no melhor estilo James Burke. Pensei até no final, fechando com:

“Então, se você está deprimido, se está num dos 11 meses do ano onde a sociedade não finge que liga para os gays, lembre-se: Todo o Ferro veio de supernovas. Sinta-se especial, para você existir uma estrela precisou explodir. Você é FAAABULOSO digo fabuloso!”

Perfeito, né? Quando eu acordei corri pro computador, vou pesquisar rapidinho umas fontes, o resto do texto vai se escrever sozinho, foi bom demais eu ter lembrado dessa relação entre Ferro e Gays e…

E não existe essa relação. Nunca, em momento algum. Por algum motivo ou sem motivo nenhum meu cérebro criou essa correlação, montou um cenário e reforçou, com personagens fictícios.

Eu basicamente me autoinceptei.

O mais fascinante é que como a correlação não soava como “lógica de sonho” minha mente desperta a aceitou como fato. Isso me assusta. Quantas idéias vindas de sonhos eu já adotei, mesmo de forma subconsciente?

Eu já contei como tinha sonhos constantes com guerra, a culpa era da TV ligada no History, quando ainda eram o Hitler Channel. Hoje mantenho o hábito, mas no horário perto de acordar, quando tenho a maioria dos sonhos, a programação envolve aliens e jesus, mas meus sonhos não são afetados. Aparentemente se não tenho interesse no assunto, ele é bloqueado.

Em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, as crianças são condicionadas através de hipnopedia, uma técnica na qual alto-falantes recitam slogans e textos baixinho, durante o sono. Já foi demonstrado que esse tipo de aprendizado é possível, mas funciona em um nível inconsciente.

Ou seja: Você nunca vai aprender francês dormindo, mas pode reconhecer um slogan que nunca ouviu antes acordado. Com ajustes e tentativa e erro, pode ser possível induzir um determinado conceito em um sonho, e se o sujeito não prestar atenção, acordará achando que ele mesmo foi o autor da idéia. Ou seja: Inception é muito legal quando não é com a gente.


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