Vou assistir o tal debate do Estadão. Já li a avaliação do Interney, aqui. Segundo ele, um bom termo é “Catástrofe”. Outra, aqui, diz que o Estadão nos ama.
Opiniões contraditórias. Melhor ver o que está acontecendo. Vamos já, 70 minutos de debate. Começando…
Deixem ver se entendi; o zé lá da USP chamou a blogosfera de “lixolândia” e vocês deixaram o cara respirando? NINGUÉM pra citar exemplos como este aqui, de um trabalho da UNICAMP sobre… grafitos nos banheiro da faculdade? “tá faltando receptor” my ass, ninguém ousou dizer pro cara que esse modelo já era? É uma técnica básica de debates, você desqualifica a base da argumentação do sujeito e ele fica sem ter pra onde correr.
O outro que veio falando do “retorno” do blog. Pombas, quem disse que o retorno do blog tem que ser financeiro? O Interney mordeu a isca, e personalizou a interrupção. Se perdeu, defendeu o seu próprio modelo e enfraqueceu a argumentação.
Aliás, o Interney estava uma dama. Aceitou interrupções, ouviu calado mesmo quando o cidadão falou que essa coisa de nova mídia é besteira -boa hora de interromper e perguntar se o rádio disse a mesma coisa no surgimento da televisão-
O Merigo começa dizendo “eu concordo com a campanha do Estadão”. NÃO! NÃO! NÃO! O Dória interrompendo e ele deixando. NÃO! NÃO! NÃO!
Gente, 90% da produção cultural humana é lixo. Não podemos dizer que 90% da blogosfera é lixo, 90% de TUDO é lixo.
O Dória e os outros são -sem trocadilho- macacos velhos. São 2/3 do debate e a Bruna não deu o ar de sua graça. O Merigo só falou uma vez. O que é isso, minha gente? só faltou levantarem a mão pedindo pra falar. Eles NÃO VÃO DEIXAR.
Faltando 28 minutos pra acabar, o debate degenerou na MALDITA monetização. Pombas, cadê o Marmota pra cortar e falar -gente, estamos interessados em como blogs ganham dinheiro ou em credibilidade?-
“Bruna, tá quietinha, não falou nada, quer tentar, aqui?” Gente, não se deixa uma gracinha dessas passar de graça.
Mas também não se diz que tem muita porcaria na Internet MAS a campanha generalizou. Quem se sentiu ofendido foi quem NÃO produz porcaria, vamos centrar nesses.
“Merda”, Bruna? Não se fala isso em debates “sérios”. Você acabou de dar a frase para o Estadão mostrar o quanto os blogs não são sérios. Você pode (e deve) fingir raiva em um debate, nunca sentir raiva de verdade. Raiva tira a objetividade, nubla o pensamento. Isso é ruim.
Segunda intervenção do Merigo. Falou de credibilidade. Poderia ter enfiado no meio o exemplo do Estadão que publicou texto sobre o BlogCamp e errou vários links. Mas não. Foi educado, bonzinho, diplomático, cordial. E irrelevante.
Ninguém fez a pergunta-chave: Quantos jornalistas sobreviveriam sem seus veículos? No momento em que o blog tem sua credibilidade e seu público, o jornal se torna irrelevante. Ao invés de uma editoria, temos um blog.
Ai meu saquinho. Vamos lá, repitam: “No momento em que o receptor passa a ser um emissor, no momento em que ele tem toda a liberdade e incentivo de debater isso habilita a se qualificar, muito mais que o receptor passivo do jornal, da tv, do rádio”.
Finalzinho, e nada da Bruna. Problema: Eu já conversei com ela, além de uma bela mulher ela é BEM articulada, sabe falar, tem opinião. O Merigo que defendeu a dele veementemente neste comentário aqui, também não foi o mesmo que apareceu no debate.
OK, acabou. Vamos então ao que achei:
Concordo plenamente com o Interney:
Faltou cultura de mesa-redonda aos blogueiros participantes (ele inclusive)
Eu vi os blogueiros completamente na defensiva, expondo opiniões pela metade, cometendo o velho erro de assumir que o outro lado sabe (ou se importa) com o que você está falando. O assunto desviando para monetização, o Mega-Hyper Professor da USP digno representante e admirador da Blogosfera Intelectual fazendo a festa, o Dória colocando palavras nas bocas dos blogs, um lado generalizando e o outro aceitando e justificando a generalização.
Pombas, gente, pra quê tanta diplomacia, tantos dedos? O Interney, que foi quem mais falou, respondia exatamente o que perguntavam, incusive nos apartes. Ele não dizia o que queria dizer, dizia o que pediam para ele dizer. A Bruna diz, em seu post sobre o evento, que foi lá “para mostrar que a blogosfera está disposta a conversar”. Desculpe, Bruna, você mostrou que a blogosfera está disposta a ouvir calada. Não era questão de semear a discórdia, era questão de intervir, falar e expor sua opinião. Essa coisa de “debate em clima de cordialidade” SEMPRE implica em um falar o que quer e o outro abaixar a orelha. Em toda a história da Retórica, nunca, jamais um debate de opiniões divergentes transcorreu em clima de cordialidade. Isso não existe.
Sabem o que faltou? O tão falado EGO dos blogueiros. Porra, Merigo. “eu tenho 400 mil leitores / mês. São 50 mil a mais que a tiragem da Playboy e eu nem apareço pelado”. Pronto, você se compara a um veículo de verdade (Meio&Mensagem my ass, compare-se sempre com os grandes) e fez uma gracinha, disfarça a afirmação arrogante, mas marca a posição.
Os blogueiros não tinham uma idéia do que queriam provar ou defender. Estavam esperando um pedido de desculpas? Ninguém citou NENHUM dado. Eu cito o Colbert quase toda hora, me senti violentado ao ver o outro lado usar o exemplo da Wikiality. Citaram o exemplo dos blogs na França e nos EUA. O outro lado. Ninguém lembrou de citar o caso do jornalista do New York Times que inventava matérias direto? Caso da Escola de Base?
O Estadão não quer aumentar sua credibilidade, foi o que disseram. Verdade, ele quer evitar que outros a tenham. Como combater isso? Colocando todo mundo no mesmo saco. Mas isso se faz tomando a iniciativa. Nós nunca a tivemos, nesse debate.
Mas como no BlogCamp todo mundo falou tão bem? Será complexo de inferioridade? Entre blogueiros tudo bem mas pooooxa ali tinha Professor da USP, não vou tentar discutir com um cara desses?
Eu sou tímido. Detesto falar em público. O evento do Beto Largman aqui no Rio foi a PRIMEIRA vez desde o colégio que subi em um palco não-metafórico para falar. Só que não tinha a menor dúvida de que conseguiria. Sabem o segredo?
Eu penso em Sarah, o resto é fácil.
OK, esse é o segredo do Comissário Gordon. O meu é lembrar de tudo que já vi e li sobre debates, lembrar dos grandes apresentadores que já acompanhei, lembrar (não riam) de filmes e séries. Quando estou em público, e tenho que falar, eu sou Atticus Finch, em O Céu Pode Esperar O Sol é para Todos (valeu, Dudu. A mula agradece) Eu sou todos os personagens que já vi em situação igual, e que me inspiraram. Mais que isso, eu sou Denny Crane, de Boston Legal. Eu SEI que tenho algo a dizer, eu projeto uma imagem e mais do que acreditar nela, eu assumo que O PÚBLICO acredita nela. Pode ser falsa? Claro, com certeza pode. Mas me preocupo com isso depois. Ali, naquele momento, eu acredito nela o bastante para que o público acredite também. Ou você acha que Jerry Seinfeld se acha engraçado o tempo todo? Ou que o reverendo Al Sharpton sempre sabe o que falar? Ou ele fala, mesmo sem muito conteúdo, mas com convicção o bastante para compensar um argumento mais fraco?
Faltou, minha gente, a consciência da importância da blogosfera. A mesma importância que vocês tanto batem pé.
Merigo disse:
Cardoso, (…) Sei muito bem as palavras que coloco pra fora da minha boca. Meu blog completa logo mais 5 anos de existência, isso sem contar outros sites que mantive desde 1996.
Merigo, com todo o respeito, dane-se, eu estou do seu lado, não é pra mim que você tem que dizer isso. É pro cara da Talent, de preferência lembrando que “você pode não me conhecer mas seus funcionários conhecem”. São cinco anos, cacete. Isso vale alguma coisa.
Edney, cadê o mega-hyper blogueiro empresário capa de revista? Onde está a famosa relação jornalista == assalariado, blogueiro == dono do jornal? Esse tipo de estratégia é usada para estabelecer uma posição de superioridade, que é o que precisávamos.
Gente, precisamos rever toda nossa estratégia. Temos que ter mais blogueiros acostumados com esse tipo de situação, sem medo de desagradar, sem querer ser bonzinho, com um objetivo definido. Debate é uma arte. Não é simples. Um bom debatedor manipula o adversário, leva o sujeito a discordar da própria opinião. Vejam o Colbert Report, o Stephen Colbert confunde tanto os entrevistados que muitas vezes eles acabam parando para pensar. Mesmo sendo claramente humorístico. Imagine a sério.
Esse tipo de situação só se resolve apanhando. Não, não estou sugerindo dar uma surra nos blogueiros que foram, pois não há garantia de que qualquer um de nós lá fosse fazer diferente. Por mais que eu garanta que se fosse comigo iria arrebentar, que se me colocassem lá junto com -sei lá, um clone meu- metade dos espectadores nunca mais entraria no Estadão e passaria a confiar em blogs até para pegar os resultados da loteria, não há garantias.
Temos que começar a treinar esse tipo de debate. Precisamos de eventos com menos ar de BlogCamp e mais ar de Debate Presidencial, de Sem Censura, de Roda Viva. Temos que botar o Edney na roda e dar uma prensa nele, temos que fazer disso um treinamento digno de uma montagem de filme dos anos 80. Os blogueiros precisam de confiança, técnica e jogo de cintura, para enfrentar esse tipo de evento.
Para o BlogCamp do Rio prepararei uma apresentação sobre esse tipo de debate e como lidar com essas situações, com direito a vídeos, slides, etc. Ao final vamos escolher alguns voluntários e fazer um mini-debate, a sério, com tema sorteado na hora, onde eu serei o Advogado do Diabo, e todos iremos aprender um pouco como lidar com situações de pressão. A idéia é que o material seja filmado e distribuído, mas sugiro que outras praças façam o mesmo. BlogCamps são ótimos, mas no mundo real NÃO existem debates amistosos em pé de igualdade. Entrar achando que é isso que vai encontrar, é perder a batalha antes dela começar.
E eu odeio perder.