A maior lição da TV é que o mundo não é preto-e-branco

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Durante muito tempo tive a ilusão de que ser Geek bastaria, que era parte de uma fraternidade enorme, mas hoje vejo que minha subcultura não é maior que os Furries.

Falo dos Geeks de verdade, não dos posers. Hoje virou moda ser nerd, a TV e o cinema passam a idéia até de que gente que não joga futebol americano tem chance de comer a Megan Fox.

Vou contar um segredo: assistir Senhor dos Anéis não te torna Geek. Assistir Matrix não te torna hacker. Assistir filmes de sacanagem não te tornam bom de cama, exceto se bom de cama for fazer as mulheres rirem ao imitar posições que só fazem sentido se tiver uma câmera filmando.

A Cultura Geek, por mais paradoxal que seja não se aprende no cinema. Nem na TV.

Big Bang Theory é a série que melhor representa os Geeks de Verdade. Sheldon e Leonard VIVEM de acordo com suas muitas referências. Essa é a grande diferença entre os posers e os Geeks. Você não virará geek imitando ninguém.

Um Geek não entende cultura pop como diversão superficial. Nós absorvemos as menores lições, e vivemos segundo elas.

Matrix pode ter sido um filme onde um sujeitinho aprende a brigar mais rápido, ou até uma parábola sobre rebeldia e conformismo, mas Geeks lêem muito mais que isso.

“todo mundo cai no primeiro salto”

Outro dia recebi um elogio de uma das profissionais que mais admiro: “Obrigada por ser tão correto”. Na hora lembrei o motivo de ter agido da forma que agi para receber o elogio, e a referência imediata foi o Código de Thundera. Bobo, não? São símbolos, use uma cruz se preferir, não me importa.

Uma música burra dizia “a televisão me deixou burro demais”. Curioso. A televisão me ensinou tanta coisa… Talvez ver menos MTV e mais Discovery evite o emburrecimento, mas eu ganhei algo muito melhor do que informações técnicas crescendo com a TV.

Os seriados e desenhos me ensinaram lições de amizade, honra, justiça. força, lealdade.

A TV me ensinou que o mundo não é preto e branco. Que é preciso fazer concessões, que dormir com o inimigo é algo que cedo ou tarde teremos que fazer. Mas ao mesmo tempo a TV me ensinou também que nem sempre as necessidades da maioria se sobrepõe às necessidades da minoria. Ou de um só.

A TV me ensinou que você pode ajudar um inimigo caído, mas nunca baixar a guarda. Com ela aprendi que gestos nobres nem sempre são correspondidos, e se você jogar a pistola fora para enfrentar o inimigo desarmado de igual pra igual ele sempre puxará uma faca.

A TV me ensinou que ninguém é perfeito e isso não pode ser meta. Atitudes extremas nem sempre são erradas. A emocionante cena de Águia de Fogo quando Stringfellow Hawk esvazia o arsenal do helicóptero no jipe do sujeito que havia matado sua namorada não o torna menos herói.

A TV me ensinou que mulheres podem ser presidentes, pilotar caças, enfrentar monstros, desvendar crimes e bater em bandidos (Me baaateOlivia Benson) mas o mundo me ensinou que somente os geeks encaram mulheres nessas posições como algo aceitável no mundo real. A maioria prefere agir de forma medieval mesmo.

A TV me ensinou que McGyver não é menos herói, ou menos homem do que o Rambo, por não usar armas.

A TV me ensinou tudo que eu precisava saber para ter uma adolescência maravilhosa, infelizmente eu e todo mundo só percebemos isso tarde demais.

A TV me ensinou a discernir a importância de dizer Yes, Captain, mas também me ensinou a importância de subir na mesa e dizer “Oh Captain, My Captain”.

Aprendi muito mais sobre rebeldia e questionamento na TV do que nos livros, ao menos na literatura pasteurizada, filtrada e adocicada que enfiam na mente das crianças, tudo parte do plano maligno para fazê-las odiar a Leitura.

Isso quer dizer que a TV é a Babá Perfeita, a Melhor Professora? Não, longe disso. Uma criança precisa de um adulto para explicar o Certo e o Errado, do contrário ela apenas imitará o que vê na TV, e isso não é vantagem em relação a crianças que regulam suas atitudes sob temor de um Amigo Imaginário Vingativo, ou de uma boa palmada.

A diferença é que enquanto nas igrejas, livros infantis e escolas a realidade e os dilemas morais são passados de forma idealizada, absoluta e sem matizes, na TV a criança tem acesso a situações mais reais, por Hollywoodianas que sejam.

Claro, tudo depende dos pais. Você pode deixar seu filho sozinho desenvolvendo um retardo mental assistindo Teletubbies e Dragonball, ou pode sentar com ele, ver toda a Saga de Guerra nas Estrelas e mostrar porquê Darth Vader é malvado, e como mesmo ele no final consegue sua redenção.

Se é que você entende esses conceitos complexos. Se não entender, deixe o Júnior assistir mesmo assim. Muito provavelmente ele poderá te explicar depois.


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