O Telefone sem fio do NãoSalvo e o Supernatural da Globo

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Os haters adoram dizer que Supernatural deveria ter terminado na 5a temporada, que já era fraca, mas quem liga pra eles? A série já está na 576ª temporada, com mais 375 renovadas. Os Irmãos Winchester continuam salvando o mundo e fazendo merda, necessariamente nessa ordem. Os fãs conhecem todos os truques, todos os clichês e nem ligam que Deus se chama Chuck. Supernatural é tão popular que consegue manter um ecossistema de livros sobre a série, em português!

Agora surgiu uma notícia bizarra, de que a Globo vai lançar uma última temporada de Carga Pesada, “aos moldes de Supernatural“. Os sites de séries ficaram doidos, eu fiquei apavorado imaginando uma versão sertaneja de Carry On My Wayward Son, mas não é assim que a banda da Globo toca. Emissoras de TV odeiam adaptar trabalho alheio, fora coisas da Endemol. E quando o fazem, o resultado é muito ruim e a origem é oculta.

Na mídia onde nada se perde nada se cria tudo se copia, acusações de falta de originalidade são temidas. Que o diga a Band e sua famigerada versão do Married With Children. Então, como a Globo está fazendo seu Supernatural?

Simples, não está. A notícia original, publicada por Flávio Ricco no UOL tem a chamada “Globo estuda volta da série “Carga Pesada” com pegada sobrenatural“. Em seguida o corno do Cid, que não é exatamente o Washington Post, fez um post “Globo quer adaptar Supernatural com Pedro e Bino em nova temporada do Carga Pesada” De onde ele tirou isso?

Ou seja: A Globo NÃO quer adaptar Supernatural, e sim fazer uma temporada de Carga Pesada com temas sobrenaturais, the end. Só que… ela deveria.

Quando saí do cinema depois de assistir a imensa e deliciosa farofa que foi Independence Day, comentei que deveria ter aparecido uma cena no Brasil. No bar com os amigos imaginamos como seria a versão brasileira, e em nossa defesa ficou melhor do que os Mutantes da Record.

Nós temos carência de séries de ação, não temos cultura desse tipo de roteiro, a melhor forma de fazer esse segmento pegar no tranco é pegar franquias pré-existentes. e adestrar púbico e profissionais. Supernatural, com sua mitologia de Caçadores espalhados pelo mundo é perfeita pra isso. Nosso folclore é rico e vasto, temos toneladas de histórias regionais e cenários fantásticos. Supernatural mostrou que é perfeitamente possível trabalhar casos pequenos, sem salvar o mundo toda semana. Lobisomens, fantasmas, temos tudo isso aqui, e bem feito até um saci é assustador.

Uma vez muito tempo atrás eu escrevi um tratamento para uma série brasileira passada no Universo de Jornada nas Estrelas, está perdida em alguma tabuleta de argila que eu usava pra armazenar dados, mas podemos ser modestos.

Na deliciosa farsa que foi a fase de Keith Geffen, a Liga da Justiça Internacional tinha embaixadas em vários países do mundo, inclusive uma no Brasil. Que era controlada por um picareta cheio de esquemas. Pegue alguns heróis de 5º escalão, crie ou adapte alguns locais e pronto, você tem uma seriado de comédia ótimo.

Não precisa ir muito longe: Uma versão local de Once Upon a Time. Claro, a militância não ia deixar, Monteiro Lobato agora é um monstro racista, eu esqueci. Mas se fossem ignoradas, teríamos um imenso conjunto de histórias para contar. Imagine uma turma da Mônica, no ambiente de Storybrooke.

Não é uma imagem gratuita, é a bundinha da Cameron, isso vale ouro.

The Americans é excelente, mas você sabia que durante a 2a Guerra o Brasil foi um celeiro de espiões alemães, com constantes ações de contra-espionagem, perseguições e tudo mais que se vê nos filmes? Imagine um seriado mostrando isso a fundo, ao invés dos patéticos filmes do Silvio Bach ridicularizando os Pracinhas.

Falling Skies foi uma série muito boa (no começo, depois ficou uma merda) sobre um grupo de sobreviventes em meio a uma invasão alienígena em escala mundial. Pense na quantidade de histórias paralelas que poderíamos contar sobre o grupo brasileiro.

E tem…

Imagine uma franquia nacional de Walking Dead, aproveitando a mitologia da série. E como é Walking Dead nem dinheiro com maquiagem de zumbi precisariam gastar.

Nós fomos criados com séries, mas quase não as produzimos. No Brasil a gente se restringe a sitcom de teatro e seriado de denúncia social. Temos que quebrar esse ciclo, uma forma ótima é fazer o que já fazemos com outros programas: Importar os modelos, adaptá-los e aprender com eles.

E sim, tal qual em Battlestar Galactica, já aconteceu antes e pode acontecer de novo. A mais brasileira das mídias, a telenovela foi toda importada. A Moça Que Veio de Longe, adaptado de original Argentino. O Direito de Nascer? Cubano. Até 1967 a maga da telenovela brasileira era a cubana Glória Magadan, ela escrevia sucesso atrás de sucesso, aí em 1968 ela ganhou uma assistente… Janete Clair. O resto é História.

O futuro da TV brasileira não está nem no protecionismo da ANCINE (que os demônios do inferno te carreguem, órgão maldito) nem no modelo preguiçoso de putinha da ENDEMOL, onde escolhemos em catálogo qual programa copiar e ficamos nisso.

Como em todas as coisas na vida, o segredo está no equilíbrio. E convenhamos, uma série passada no Brasil no universo ficcional de Buffy com a Mariana Ximenes seria massa. Eu escreveria.



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