Eu Sei Que Dói Mas Sejamos Originais

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original1 Eu Sei Que Dói Mas Sejamos Originais A falta de originalidade na Internet é uma ameaça a todas as previsões de que a proliferação dos meios de comunicação traria uma era de ouro para a produção individual. Nunca se viu tanta incapacidade de articulação, carência de criatividade e abuso de plágio e copy/paste.

Quando eu era adolescente, uma colega chegou toda feliz com um poema. Um garoto da turma havia escrito pra ela. Quando olhei, comecei a rir. Disse que não era dele. Ela ficou indignada. Afinal, alguém havia dedicado tempo e esforço fazendo um texto lindo, não poderia ser qualquer coisa além de amor, dedicação ou seja lá o que as adolescentes admirem.Como ela insistia, mandei abrir o livro de português. Na página indicada, a prova do crime: “De tudo, ao meu amor serei atento…”

Sim, o cara-de-pau queria conquistar minha amiga com o Soneto da Fidelidade, de Vinicius de Morais.

Décadas depois, a história se repete. Uma amiga comenta, via MSN, que recebeu uma cantada original, bem-escrita pra variar. Ela diz que não, mas vejo que o esforço despendido fez efeito, mais que as palavras açucaradas. Só que eu sou puta velha nessa coisa de paquera via texto. Algo não cheirava bem. Perguntei se ela colocou o texto no Google. Claro que não.

Uma simples busca mostrou vários blogs com o mesmo “poema original”.

Mais um pode tirar o bilau da chuva.

O problema é que isso não é exceção, é a regra. Por todo lado há textos copiados, textos mal-adaptados, textos levemente modificados. As piadas se repetem, as historinhas edificantes só mudam de localização geográfica, os alunos no ENEM continuam escrevendo as mesmas barbaridades que os do CESGRANRIO e os da UNICAMP. Gente que subestima a inteligência alheia repassa textos assustadoramente famosos como de sua autoria.

A pergunta é: DÓI ser original?

A blogosfera cresce a uma taxa de milhares de blogs por dia, mas o conteúdo quase não se altera. Nelson Rodrigues disse que 90% da produção humana é lixo. Eu acho que ele foi otimista. Raramente achamos textos bem-escritos, idéias originais e instigantes. Quase sempre os blogs caem nos modelos:

  • Estilo sou-sensível-pra-pegar-mulher
  • Critica cinematográfica inconsistente por falta de background
  • Meu Querido Diário
  • Recorde Palavrões-Por-Minuto afinal aqui eu posso
  • Meu cantor sertanejo favorito e seu dia-a-dia em intervalos de cinco minutos

Os blogs que saem desses modelos, ou conseguem ser originais neles são raros e carinhosamente preservados por seus admiradores. A constatação é dura mas realista: É muito mais difícil escrever do que aparenta.

Criar um blog é fácil, qualquer idiota com conhecimentos mínimos de informática e semi-alfabetizado consegue botar um blog no ar.

Eu consegui botar um blog no ar.

Complicado é achar um tema ou um estilo, criar diariamente (ou mesmo eventualmente) em cima dele. Cronistas diários não duram muito, mesmo profissionais tarimbados. Sempre acabam fazendo a clássica crônica da Falta de Assunto.

Mesmo assim, é a única forma de aprender. Errando, escrevendo mal, tentando de novo. Acima de tudo, lendo muito. Lendo tudo que cai na sua frente.

Só que a maioria não tem paciência pra isso. Quer começar pronto, do nada absoluto ao estrelato blogueiro. Cheio de “nauns”, “entauns”, “pows” e “modos que”, mas querem.

“no pain no gain”, pessoal. Do mesmo jeito que ninguém vai aprender a escrever de um dia para outro, não vai conquistar uma mulher bonita, inteligente, antenada e acima de tudo bem-informada com textinhos medíocres chupados da internet.

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Lavoisier determinou que na Natureza nada se cria, tudo se transforma. Chacrina determinou que na televisão nada se cria, tudo se copia. Eu acrescento que na Internet também.

Estou dizendo que não é possível, que ela é refratária a textos, que só quer montes de músculos e trogloditas arrastando sua terceira perna no chão? Não, longe disso. Ela, como toda mulher, responde bem a textos. Washington Olivetto já dizia que o cartão é mais importante que as flores.

O essencial aqui é que quanto mais complexa e interessante a mulher, mais complicado é o texto necessário para sensibilizá-la. Aquele papo da Vaca Bagual já não cola mais. Auto-elogios também nada dizem. Muito menos declarações de ordem monetária ou profissional. Gente que entra nos chats com nicknames do nível “Engenheiro28” ou “Médico31” só conseguem se aproximar de gente que se impressiona com nicknames assim. O que já diz tudo.

Quer fazer sucesso com as mulheres, conquistar fortuna e glória? Seja original. Pare de ficar republicando tudo que recebe por email. Esqueça a obsessão por 10 ou 15 posts diários. Faça um, ou nenhum, mas de qualidade. Perca tempo, escreva e reescreva. Enquanto não tiver um editor na sua cola, seu único compromisso é com qualidade.

Preocupe-se menos com resultados imediatos, escreva, guarde e leia dias depois. Analise o texto como se não fosse seu.

Uma amiga resolveu meu mostrar textos antigos, que escrevera dez anos atrás. Antes que eu pudesse falar, ela mesma comentava dos clichês, de como as situações haviam sido muito mais interessantes que as palavras davam a entender. Sugeriu inclusive reescrever, mas não é uma boa idéia. Há muita coisa nova pra se contar, não é preciso voltar aos antigos.

Faça isso. Coloque no papel suas idéias, não tenha pressa em publicá-las. Separe o joio do trigo, só publique o joio se você for jornalista. Leia, assimile bastante e então escreva. Se não sair bom, tudo bem. É assim mesmo. Uma idéia original mal-desenvolvida ainda é muito, muito melhor que um texto maravilhoso copiado de outro autor.

Gente que republica textos do Jabor, há aos montes. Gente que escreve textos que poderiam ser assinados por ele, somente um punhado.

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