A maioria dos fãs não liga para esses detalhes, então não se preocupam de onde vem o dinheiro para adesivos, CDs gratuitos, equipes de marketing e desenvolvimento em diversos países e tudo mais que faz o Ubuntu ser o sucesso que é hoje.
Bem, há um plano ali. Ninguém joga dinheiro fora, e Mark Shuttleworth, o milionário sul-africano que está investindo milhões de dólares no Ubuntu está, bem… investindo. Ele tem um plano, e se for o que eu suspeito será a maior jogada da História da TI mundial. Claro, a maioria dos fanboys acha que os CDs aparecem por mágica, e que todo mundo da Canonical trabalha de graça, enchendo a barriga de idealismo.
O mundo é um pouquinho mais complicado que isso, mas Mark Shuttleworth está ciente do que deve ser feito.
Em informática lealdade de marca não é algo muito importante, as empresas procuram soluções. Muitas vezes se mantém presas a um vendedor específico, mas quanto mais abertas a alternativas melhor. Isso é bom para quem compra mas péssimo para quem vende. Se a decisão de compra é totalmente racional e você não ganha pontos pelos relacionamentos anteriores, qualquer novo player no mercado tem tanto poder de barganha quanto um mais antigo.
No mundo Linux / Open Source, ao contrário, temos uma defesa quase religiosa das marcas, os fanboys se prendem a suas distros preferidas e não largam delas por nada. O problema é que esses usuários até hoje eram minoria absoluta, nunca fizeram diferença.
Ao mesmo tempo o Linux Corporativo sempre foi chato. A Red Hat é uma empresa excelente para prover soluções no mercado Corporate mas completamente apagada no mercado doméstico. Temos a curiosa figura de gente obrigada a usar Red Hat no trabalho que chega em casa correndo para jogar em seu Windows, rodar MSN e outras atividades menos “nobres”.
Isso, claro, nos projetos que vencem todos os preconceitos e empecilhos de uma linuxificação. Assim, temos os seguintes problemas para uma maior aceitação do Linux corporativo:
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As pessoas não se identificam com ele
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Não é a mesma coisa que rodam em casa
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O responsável pela decisão de compra não conhece a plataforma
Nenhuma campanha de marketing resolverá isso, e vender o produto “Linux” não ajuda, a própria enorme quantidade de distribuições trabalha contra o produto. Então, o que fazer?
Mark Shuttleworth teve uma idéia:
Não vamos convencer os gerentes de TI de hoje, vamos catequizar os de amanhã.
Ao fortalecer a imagem do Ubuntu como um produto pronto para ser usado em casa, simpático, com uma base sólida (o Debian) e sem enfatizar o termo “Linux” (note como ele aparece pouco no material da empresa) estão falando para os estudantes, muitos já na Universidade, que em breve estarão no mercado.
Esse pessoal, quando começar a trabalhar, levará em seus laptops o Sistema Operacional que usam em seus micros de casa. Os com mais liberdade terão LiveCDs ou mesmo chaveiros USB com o Ubuntu. Logo eles estarão tomando decisões, fazendo recomendações e demonstrando as vantagens do uso corporativo do Ubuntu.
Enquanto a Red Hat alienou a maioria dos colaboradores, o uso corporativo do Ubuntu é bem-visto pela comunidade, que colabora com seu tempo e sua expertise. E Nada supera o custo/benefício de mão-de-obra gratuita. Eles fazem isso de bom grado, afinal adorariam poder usar no trabalho o mesmo sistema que usam em casa.
Mais ainda: Com o sentimento de comunidade, os responsáveis pela área de TI passam a ver o vendedor como parceiro, até cúmplice, e não como um simples fornecedor. Sua própria equipe se sente compelida a achar soluções para eventuais problemas, ao invés de simplesmente acionar o suporte.
Assim em cinco anos teremos um grupo enorme de fãs decidindo qual sistema implantar. Sendo “linuxeiros”, sua natural antipatia por Redmond irá descartar o Windows, e sendo usuários satisfeitos do Ubuntu, provavelmente essa será a única opção considerada. Emocional vencendo o racional, lealdade de marca sobrepujando objetividade. Brilhante.
Vai dar certo? Não sei. O Ubuntu pode ser uma moda passageira? Pode. Mesmo assim, se daqui a um ano ele ainda estiver no mesmo pique, vou comprar ações da Canonical.