Sejamos realistas. Tem dia que não estamos bem. Todo mundo tem problemas, sejam profissionais, pessoais, tanto faz. Só que o show deve continuar. Um blogueiro profissional não pode se dar ao luxo de ficar 15 dias sem blogar.
Também não dá para usar das saídas disponíveis para os blogueiros normais, como o post pedindo desculpas por não postar, o post contando a triste história de seus problemas ou o post “licença médica”, onde você comunica que ficará fora por um tempo.
Eu um dia ruim os problemas ficam roendo o fundo de sua cabeça, como a sombra de um enorme tubarão sob a superfície. Você tenta navegar seu barquinho, mas a sombra o persegue. Pelo canto do olho você o peixe, cada vez mais apreensivo espera a hora que ele vai dar o bote. (peixes dão bote?) Logo navegar o barquinho se torna irrelevante, tudo que ocupa sua mente é o tubarão.
E seu blog vai pro saco.
Um blogueiro profissional tem um audiência significativa, que por mais que se solidarize, quer primeiro o conteúdo. Assim, temos que tocar o show, de qualquer jeito. Com os anos de treinamento com mestre Pai-Mei, aprendi algumas técnicas que funcionam, ao menos comigo, para garantir produção mesmo em dias muito ruins.
A mente humana funciona como um computador, temos capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Enquanto você está escrevendo um texto, seu cérebro está coordenando sua respiração, digestão, coordenando suas memórias de longo prazo e ainda tentando controlar aquele tumor que você jamais pensou que poderia ter sido causado por ver televisão muito de perto. Viu? Sua mãe estava certa.
Só que como qualquer computador, quanto mais coisas ele tenta fazer ao mesmo tempo, menor a eficiência das tarefas em background. Como coisas como respiração e controle de temperatura fazem parte do kernel, sua prioridade não pode ser alterada. Sobram os extras. Experimente digitar um texto e conversar com alguém ao mesmo tempo. Seus centros de linguagem estão sendo usados com o dobro da carga normal, então há um certo atraso, se você tentar somente uma das tarefas, será mais eficiência.
O que queremos aqui é justamente o contrário. Quanto mais sobrecarregarmos nossos centros sensoriais, menos processamento deixaremos para as tarefas menos nobres. Se você está sozinho, escrevendo um texto, qualquer pausa será suficiente para trazer minhocas à cabeça. Se estiver ouvindo música, é pior ainda, pois música funciona direto nos centros de emoção, independente de linguagem. A musiquinha do final dos episódios do Incrível Hulk é triste em qualquer lugar do planeta.
A solução é outro tipo de sobrecarga sensorial. Eu utilizo televisão. Consigo escrever um texto E acompanhar um episódio de House, por exemplo, mas como a TV é uma experiência multisensorial, sobra muito pouco processamento para o cérebro pensar em besteira. Ouvir um podcast também funciona muito bem. Já escrevi excelentes posts acompanhando TV, quanto mais interessante o programa, melhor o texto, pois não consigo/posso pensar nos problemas.
Também é uma ótima pedida para quem tem distúrbio de atenção. Ao se dividir entre duas atividades, sendo que uma não é criativa, você evita a tentação de fazer cinco coisas ao mesmo tempo.
A longo prazo, claro, o melhor é resolver seus problemas, não dá para ficar escrevendo posts e vendo televisão 24 horas por dia, mas como estratégia eventual, comigo não falha. Claro, só recomendo para quem não tenha problema de interrromper o raciocínio e retomar depois, nem se confunda com “tv ligada”. Tem gente que é incapaz de escrever sequer com um rádio ligado, o cérebro funciona quase como monotarefa. Se for seu caso, culpe seus pais por terem te feito rodando Windows 3.11.
Outras pessoas hiperativas podem precisar de mais sobrecarga sensorial, para jogar as preocupações para segundo plano. Nesse caso, talvez um Instant Messenger bastante populado ajude.
A não ser que tenha algum chato que todo dia pergunte “como você está?”. Aí mande minha resposta-padrão: “Tenho dois blogs, cinco instant messengers, o mesmo email desde 1996, SkypeIn em São Paulo, Curitiba e Miami, celular e fixo. Se eu quiser que alguém saiba como estou, EU PUBLICO”.