A Quarta Parede é um recurso cênico usado inicialmente no teatro, mas que se moveu para outras mídias. Tem a ver com a parede imaginária que separa o espectador do palco. Ao se dirigir diretamente a um espectador o ator derruba a Quarta Parede, o que pode ser um excelente recurso de bem utilizado, ou pode minar a “suspensão de incredulidade”, se mal usado.
Existem muitos filmes onde isso é usado. Em Jay and Silent Bob Strike Back coincidências são referidas como “isto parece roteiro de um filme ruim”, seguido de um silêncio, com os atores olhando diretamente para a câmera. Comédias costumam usar do recurso, enquanto dramas e outros filmes “sérios” raramente o fazem.
Com a Internet, tudo mudou (novidade). Agora não é mais a parede que é derrubada, o espectador é que a atravessa. Não para fazer parte do filme, como n´O Último Grande Herói, mas a “suspensão de incredulidade” que faz com que acreditemos que homens possam voar, entortar colheres com a mente (ok, ok, eu sei, não existe colher) ou viver dois anos em uma ilha deserta sem perder peso é estimulada.
O filme não acaba nos limites da tela, ele estende pequenos tentáculos para a “realidade”, e no momento em que compactuamos (no bom sentido) a história e os personagens se tornam bem mais reais. Em termos de investimento é algo mínimo, mas que faz muita, muita diferença.
Na série Heróis, da NBC (excelente, por sinal) toda hora usam do recurso. A cheerleader, Claire Bennet tem inclusive uma página no MySpace. Hiro Nakamura, o japa nerd que todo mundo adora tem um blog, onde tiveram o cuidado de colocar uma explicação de que os textos são traduzidos por um software, pois Hiro não fala inglês. O Hiro badass ninja do futuro fala, mas isso é outra história.
Com isso o espectador pode continuar fingindo que acredita, podemos brincar de faz-de-conta, mandando mensagens e nos comunicando com aqueles personagens que gostamos. Só faz aumentar o share-of-mind da série, além de ser um apelo para a exata faixa demográfica almejada.
Para não dizer que não falei de acidentes aéreos, um site que faz muito sucesso e deixa os Losteiros excitadíssimos é o da Oceanic Air, recheado de informações suculentas (mais do que a tal da Kate) sobre os personagens. Muita gente perdeu mais tempo fuçando o site do que gastaria vendo um episódio, e eu garanto que custa mais barato fazer um site daqueles do que um episódio.
Claro, a idéia não é nova. Quando do lançamento de Matrix, em 1999, entre outras iniciativas, foi lançado, sem fanfarra nenhuma, o site da MetaCortechs, a empresa onde Neo trabalhava. O texto é cheio de segundas intenções, e experimente clicar no link “Directory”. Procure por “Anderson,Thomas” entre os funcionários da Matriz, em Redland, Washington.
A idéia de ter as séries e personagens favoritos interagindo fora da TV é muito atraente, pois amplia a experiência do espectador, cria a famosa cumplicidade de que tanto falo, e faz com que a gente pense sobre a série mesmo quando não a estamos assistindo, sem cair na armadilha da “TV Interativa”, onde 50% que escolhem a opção perdedora ficam irritados e desligam a TV, em protesto.