Uma vez eu estava indo para o trabalho, quando sentei do lado de um sujeito no ônibus. Ele lia tranquilamente um livro, que reparando, era meu. Sorri internamente, pensando no que o cara diria se soubesse que estava do lado do autor.
Me senti confortável pois é uma situação onde tinha absoluto controle, e também por provar minha idéia de que livros são excelentes para pessoas tímidas e que não se sentem bem em ambientes públicos demais.
Entre outros problemas, eu sofro com qualquer evento “oficial”. Não gosto de falar com clientes, sempre recusei palestras, paralizo diante de um microfone mais rápido do que a Bruna Surfistinha parando pra pensar “fiz meu gargarejo hoje?”. Quem me conhece diz que é mentira, pois quando chego em ambientes informais, como bares eu rio, falo besteira, brinco, ofendo visceralmente o Gollum (se você não conhece o Gollum, acredite, és feliz) e não faço o gênero tímido.
Quando comecei essa coisa de blog, esqueci do pequeno detalhe, de que na Internet as pessoas se relacionam muito mais do que na chamada vida real. Eu deveria saber disso, desde os tempos dos BBS minha vida social “real” era muito mais agitada por causa das amizades online. Principalmente, o mundo multimídia de hoje não permitiria que eu me escondesse tão facilmente por trás de um livro.
Mesmo os livros, atividade que pretendo voltar a exercer, não são mais como antigamente. Nos velhos tempos colocar email em um livro era um luxo, pouca gente juntava coragem para escrever ao autor. Hoje é bagunça, todo mundo escreve pro Neil Gaiman, John Updike, até pro J.D. Salinger (mas ele não responde). Esse contato em si não me incomoda, muito pelo contrário, o que me assusta é que sei que ele vai levar a situações onde meu lado Monk vai se manifestar.
Nunca participei de uma noite de uma noite de autógrafos, e sinceramente não sei se gostaria. Tive uma experiência interessante alguns dias atrás, que confesso relutei bastante. O Leonardo, do BlogueIsso me convidou para uma entrevista via Skype.
Seis horas de puro terror, que ele jura na verdade não ter passado de 25 minutos. OK, eu acredito. (mas foram seis horas) No final entre mortos e feridos salvaram-se todos, e ainda tenho uma prova cabal de que não faço podcast não é por esnobismo, e sim por total incapacidade técnica e vocal. (além de esnobismo, claro)
Meu medo é que isso tenda a piorar, blogueiros ganhem mais e mais exposição. Será que isso vai afastar os tímidos dos blogs? Como explicar que me sinto perfeitamente à vontade em uma mesa de bar mas que não funciono se o ambiente for formal?
Não acho que a Internet tolere um Rubem Fonseca digital, nem quero ser um, mas confesso que isso me preocupa. O jeito vai ser marcar esses eventos formais no Bar Luiz, mas aí o Jaguar me processa por plágio.