Quando publiquei o texto sobre o problema de deixar seu estado mental interferir no ofício de escrever acabei tendo um retorno inesperado. O texto foi muito elogiado, inclusive por visitantes novos, o que é raro, estes não costumam comentar.
O texto em questão foge da norma do blog. É bem pessoal, passa muito mais informação emocional (gostaram? inventei agora) que os textos normais, e fala muito mais de mim do que eu gostaria. Na verdade é um post muito próximo da idéia de Diário Pessoal, que os blogs “sérios” tendem a abominar.
Será por isso que fui tão feliz com ele? Será que a “experiência visceral” como disse o Sérgio, causa tanto efeito? Eu sei que documentar minhas aventuras do ponto de vista de um técnico de contabilidade não é muito interessante, mas será que os leitores querem o extremo oposto, uma quase novelização (novela texto, não TV) do dia-a-dia?
Eu acho irônico que no final das contas o meu blog se torne uma espécie de “Diário Online”, ao invés de uma ferramenta objetiva de consulta.
O outro lado, que deixa a Liliana preocupada comigo, é que esse tipo de post acaba me expondo.
O problema é que isso acaba se tornando inevitável. Você tem que dar alguma coisa. O leitor não vai se identificar com você, se não souber sequer seu sobrenome. Se expor um pouquinho de vez em quando também não é algo que necessariamente atrapalhe. Acho até que isso ajuda a tornar o blogueiro mais humano, mais próximo do leitor.
Esse lado do blog moleque, do blog arte, como diz o MrManson, tende a ser reprimido quando o blog se torna “sério”. Eu acho ruim. Também acho muito ruim quando me pego fazendo isso, mas é inevitável, é inconsciente. Com 500.000 unique visitors, o blogueiro fica com um pé atrás. Você já passa a postar “querido diário; broxei ontem”, ao invés de “querido diário; broxei ontem. De novo.”. Aos poucos sua vida, mesmo o pouco que passa pelos filtros e acaba no blog, se torna um pouco idealizada. Você deixa de comentar muita coisa, pensa na privacidade dos envolvidos, pensa que muita gente não irá entender…
Mesmo assim eu acho válido. Acho que podemos sim colocar mais que informações, estilo, categoria, genialidade e sobretudo modéstia em nossos textos. Podemos colocar nós mesmos, colocar emoção, personalidade. Nós blogueiros podemos dizer EU ACHO, EU SINTO, EU QUERO, EU PENSO com – se não impunidade – ao menos sinceridade.
Talvez seja inclusive um daqueles pontos que tornam os blogueiros mais atraentes do que os jornalistas. Com exceção da Valéria Monteiro, claro.