Vou contar uma historinha.
Eu gosto de camisetas. Sempre gostei. Admirava as dos amigos, de vez em quando aparecia uma nova, importada, eu ficava com vontade de ter uma igual.
Depois de um tempo eu comecei a pesquisar e descobri que não é tão difícil fazer camisetas.
Aprendi a fazer silk, estudei estamparia, comprei toneladas de material.
Quando tinha alguma idéia nova, eu corria pro meu quartinho de bagunça, e fazia uma camiseta.
Meus amigos gostavam. Sempre comentavam quando me viam com uma camiseta nova. Alguns até pediam para fazer camisetas para eles. Eu achava o máximo. Nunca imaginei que minhas camisetas fossem agradar tanta gente. Até amigos dos amigos, até gente que eu não conhecia comentava quando via uma de minhas camisetas. Cheguei a ser parado na rua, por pessoas perguntando como ter uma camiseta igual a minha.
Pois é, cheguei até a vender uma ou outra, mas nada sério. Prefiro fazer as camisetas que gosto, quando tenho vontade, sem me prender a regras, horários, prazos e compradores.
Meus amigos também. Vários começaram a fazer camisetas. Nós admirávamos as camisetas uns dos outros, trocávamos camisetas, combinávamos temas para estampas, nos divertíamos muito com isso.
Mas aí chegou o Fábio Seixas.
Esse sujeito, esse elemento começou a fazer camisetas para vender. OK, as camisetas dele eram diferentes das minhas. Eram boas também, mas de outro estilo. Eu ainda acho que as minhas são melhores, e meus amigos, alguns gostaram muito das camisetas dele. Chegaram a comprar várias, mas em momento algum pararam de admirar as minhas, e usá-las.
Mas isso me deixou muito, muito magoado. Alguém havia pego meu hobby, meu lazer, meu passatempo, e transformou em um negócio. O que eu fazia por amor, por vontade, por dedicação, o Fábio fazia por dinheiro. OK, admito, as camisetas dele eram excelentes, tinham a mesma dose de amor e dedicação que as minhas, mas o que importa era o fim dessas camisetas. Ele não fazia para se sentir bem, ele não estampava camisas para mostrar aos amigos. Ele as fazia para vender.
Isso me ofendeu. De um momento para outro eu me senti excluído. Tinha a sensação de que todo mundo que admirava minhas camisetas (e continuava admirando) iria preferir as camisetas dele. (não, nunca aconteceu. Às vezes eu fazia uma muito boa, às vezes ele fazia) Mesmo quando o Fábio Seixas apareceu mais de uma vez usando minhas camisetas, elogiando-as, eu desconfiei. Ele estampa por dinheiro, deve ter alguma coisa por trás desse gesto.
Eu não quero ganhar dinheiro com camisetas, mas também não quero que o Fábio ganhe. Ele está maculando os Ideais das Camisetas, camisetas são uma forma de expressão, camisetas são um fenômeno cultural. Se você vende camisetas que credibilidade você tem? Quando o Fábio vende uma camiseta dizendo “Fora Bush” será que é o que ele realmente pensa? Eu sei, ele sempre teve camisetas “Fora Bush”, mas eu desconfio.
Sim, eu sei que há grandes fábricas de camisetas, que vendem em escala industrial. Mas eles não são indivíduos, são corporações sem rosto. O Fábio é uma pessoa, como eu. Ele tem que ganhar dinheiro como eu, trabalhando em uma empresa de verdade. Ora, porque ele não aproveita seu know-how de camisetas e vai trabalhar em uma grande estamparia?
Fábio, eu quero te respeitar, quero dizer que gosto de suas camisetas. Por favor, pare de vender suas camisetas. Eu te peço. Continue fazendo-as, use-as, mostre para os amigos, troque-as. Quanto ao dinheiro, procure um emprego, a Hering por exemplo adoraria ter você criando camisetas para eles. Com isso você voltará a ser um de nós. Não precisa mudar as camisetas, é só não vendê-las.
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Se a fábula acima não ficou clara, ela é parte desta campanha iniciada pelo Novo-Mundo. Vamos parar com essa picuinha com os ProBloggers. Ninguém é melhor ou pior que ninguém por escrever para ganhar dinheiro, e nenhum blogueiro que se preze sobrevive tentando tirar o espaço dos outros (o que é, basicamente impossível na Internet). Nós vivemos de links, cacete. Quanto mais gente escrevendo, linkando e se falando melhor. Nós, ProBloggers, não nos achamos melhor do que ninguém. Exceto do pessoal que insiste nessa picuinha. Afinal, ao contrário deles nós não invejamos quem trabalha.
[atualização] O Bruno também quer falar sobre isso.