Parabéns, USP – Mentalidade de 1960 em pleno 2008

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Em 1960 Nelson Rodrigues publicou uma peça chamada O Beijo no Asfalto, onde um sujeito, Arandir, presencia o atropelamento de um homem. Agonizante a vítima faz um último pedido: Um beijo. Arandir atende. Partindo daí a imprensa sensacionalista começa a ridicularizá-lo, a família fica contra e a tragédia rodrigueana se sucede.

Dá para entender que 48 anos atrás (e isso é velho até pra mim) algo como um beijo entre dois homens fosse um escândalo de dar (epa!) no jornal, mas hoje embora o sujeito ainda não possa saltitar como uma gazela pelos corredores da vida profissional, ao menos não é apedrejado ou condenado à morte por ser gay. Exceto no Irã.

Como o Brasil é tudo menos uma república fundamentalista islâmica, fiquei muito assustado quando vi esta notícia aqui:

No dia 10 de outubro, sexta-feira, Jarbas Rezende, 25, e José Eduardo, 18, juntos com alguns amigos foram para uma festa realizada no Centro Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. (…) No desenrolar da festa, o casal resolveu dançar em cima de um palco. (…)

“Estávamos só dançando e de repente eu e o meu amigo resolvemos nos beijar. Do nada, o DJ parou a música, acendeu as luzes e começou apontar para nós dizendo para parar”, conta Jarbas. Após a atitude do DJ, que segundo os entrevistado é o presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária da USP, todos presentes na festa o apoiaram. Segundo os estudantes dois homens grandes, os puxaram com muita força e os colocaram para fora. Jarbas conta ainda que, além dele e de Eduardo, os amigos também foram expulsos e alguns que tentaram defendê-los foram ameaçados de agressão.

É claro que não estou defendendo que o mundo vire uma Boate LeBoy, mas no meu tempo na UFF quando o pessoal alegre partia pro abraço, se fosse em um local mais ou menos privado, ninguém tinha nada a ver com isso. Já festas em casas dos pais ou locais um tanto públicos, se alguém se excedia era só dar um toque (no bom sentido) e pronto.

Por isso o meu espanto. Se algo que não era o fim do mundo para estudantes –sei lá, 20 anos atrás- é tratado como caso de perseguição com direito a camponeses com tochas em 2008, acho que involuímos bastante.

É uma pena. Com menos homofobia os homens heterossexuais teríamos um monte de vantagens:

 

1 – Menos concorrência

Cada gay feliz no mundo representa pelo menos dois homens a menos para competir com a gente. A mulherada já diz que falta homem no mercado. Diminuindo as opções, melhor pra gente. Sem contar que aquele seu amigo em crise, que gosta de meninos mas não se aceita então vira galinha e sai devastando o plantel pra se autoafirmar (é com você mesmo, Leozinho) pularia pro outro lado da cerca.

 

2 – Mais solteiras na praça

Quantos casamentos de fachada você conhece? Pense nessa mulherada toda solta no mundo, à procura de um braço forte, um ombro amigo para chorar as mágoas do ex-marido que não era o que ela imaginava.

 

3 – Novos álibis

Digamos que você esteja saindo com uma menina que tem namorado (não que eu defenda essa prática). Com menos preconceito e perseguição social ela pode dizer para o namorado que você é um amigão dela e é gay. O cara não ficaria com medo de te encontrar nem tentaria comprovar se o caso é verdade. E você estaria livre até para ajudar a menina a se vestir, participar dos programas do casal e levá-la para fazer compras na Rua Teresa, Shopping e Bijouterias na Saara.

Nota: Certifique-se antes que o namorado NÃO corta dos dois lados, senão vai sobrar pra você. E não preciso dizer o quê.

 

4 – Meninas mais liberais

Meninas que também gostam de ficar com meninas são a prova definitiva de que Deus não só tem sexo como é homem, na verdade Deus é Howard Stern. Infelizmente a maioria das mulheres reprime esse instinto, só abrindo exceção para a Angelina Jolie. É comum a aceitação de carinhos e contatos mais íntimos somente após a 2a tequila. Tive uma ex inclusive que só admitia ter namorado meninas na faculdade quando estava bêbada. Quase filmei para provar que ela realmente contava as histórias que negava até a morte, sóbria.

Com uma aceitação popular de comportamentos não-ortodoxos as mulheres podem explorar sua sexualidade em todas as variações, sem medo de julgamentos morais por parte de terceiros.

Desde que, é claro nos deixem assistir ou pelo menos contem em detalhes no dia seguinte.

 

5 – Fim da parada gay

A cidade fica um inferno, hotéis lotados e todo mundo fazendo piadinhas, se você por acaso vai estar em São Paulo em uma janela de 15 dias antes ou depois do evento. E se você der azar de passar perto do evento, ainda tem que segurar a onda pra não ser taxado de politicamente incorreto. Entenda, frutaiada: Eu defendo absolutamente o direito de vocês fazerem o que quiserem com suas vidas, mas também defendo o direito de achar esquisito um sujeito com pose de halterofilista usando uma tanga de oncinha e saia de tule. Da mesma forma que todos têm o direito de me achar ridículo de chapéu panamá branco (sim, eu tinha) eu me reservo o direito de rir de seu estilo caricato.

 

6 – E finalmente, o Alexandre vai poder se assumir

Porque na boa. Ex-Ator Pornô, Ex-Pastor Evangélico, que migrou de volta para o pornô gay, atuando somente como passivo, tendo realizado inclusive dupla-penetração (ou melhor, tendo sido realizado) e casado, dizendo que é hetero? E na bunada, não va- pensando bem vai, essa é a questão.


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