O Japão é um país estranho. Eu costumo dizer que vivem 200 anos no futuro, mas as diferenças culturais são mais profundas que isso. Nenhum tentáculo é longo o suficiente para transpor essa distância. Vejam por exemplo esta exibição no aeroporto Haneda, perto de Tóquio:
Isso mesmo. Restos de acidentes aéreos. Com direito a fotos de órfãos abraçados a caixões, destroços incinerados e até uma mensagem escrita em uma máscara de Oxigênio por um homem pedindo em seus últimos momentos de vida para que a mulher tomasse conta dos filhos do casal.
DILIÇA!
Tudo que um viajante quer ver, ao chegar em um aeroporto.
Melhor? A exposição é patrocinada pela Japan Airlines (JAL) e pela All Nippon Airways (ANA), as duas maiores companhas aéreas nipônicas.
Em qualquer outro lugar do planeta ficaria claro que eles tem bosta na cabeça. Você NÃO fala de acidentes. Mesmo as estatísticas sendo extremamente favoráveis, mesmo qualquer pessoa racional se sentindo mais segura em um avião do que atravessando uma rua, não é bom marketing anunciar esse tipo de coisa.
Como o cérebro alienígena dos japoneses funciona diferente, a reação tem sido bem positiva, e ambas as empresas tornaram obrigatório a seus funcionários visitar a exposição. A idéia é conscientizar os funcionários do resultado de um erro (a maior parte dos acidentes é causada por falha humana), já que 90% do quadro não estava nas companhias quando os últimos acidentes ocorreram.
A All Nippon Airways teve seu último acidente em 1971, a JAL em 1985. Esses números falam por si só.
Essa postura -de novo- alienígena é comum no Japão. Reconhecer publicamente os próprios erros, revendo-os sempre como lição e forma de prevenção. Acontece até no âmbito político. Será que nós do Ocidente deveríamos adotar essa linha?
É complicado. Aqui se o sujeito se abaixa demonstrando respeito toma na cabeça. Reconhecer os próprios erros é sinal de fraqueza e NUNCA é seguido de um “legal”, no máximo vem um “bem-feito”. Imagino quanta gente deve estar achando as empresas idiotas por mostrarem seus acidentes, ao invés de jogá-los para debaixo do tapete.
Será porque ao contrário daqui, o povo japonês é inteligente o bastante para admirar a postura, entender que é BOM para todos entender a situação da segurança aérea, e que 24 anos sem acidentes é mais que prova que a JAL aprendeu com os erros do passado?
Fonte: Sidney Morning Herald