Gafanhotos, Pérolas, Porcos, UNIBAN e Judeus

Compartilhe este artigo!

Muito tempo atrás, em um BBS muito distante uma usuária postou uma dúvida complexa. Estava em um bom dia, então resolvi responder. Escrevi um texto enorme, começando com “seu problema é complicado mas tem solução. Preste atenção, pequeno gafanhoto…”

Foi o suficiente para o SYSOP do BBS receber um email irado, a mulher postar reclamação em público e exigir minha cabeça. “você não pode me desrespeitar assim, não fiz nada para ser chamada de inseto”.

acha ofensivo?Aperte ALT+F4 e mande seu protesto

De vez em quando por puro masoquismo faço citações a Groo, o Errante, excelente quadrinho de Sérgio Aragones. Uma das gags clássicas é quando algum personagem diz “isso é evidente, como qualquer idiota pode ver”  e Groo responde “eu posso ver!”. Adapto para “Qualquer idiota sabe disso. Eu sei disso” ou algo assim.

Em 98% dos casos o sujeito dá piti achando que foi chamado de idiota.
O conceito de humor autodepreciativo é inexistente no Brasil. Na terra dos coitadinhos é feio falar dos outros, e até mesmo de si mesmo. Os AfroChatos processariam Chris Rock e Eddie Murphy por aqui, seriam presos por racismo.

Esse coitadismo tem a ver com nossa cultura latina e cristã. Você já ouviu falar de Humor Cristão? Já viu alguém fazendo humor religioso/cultural como os Judeus? Eu já, há uma dupla famosa nos EUA, um Rabino e um muçulmano que se apresentam em sinagogas e mesquitas, rindo um do outro e de si mesmos.

Betty White é uma comediante com uns 130 anos de idade, seu último trabalho em TV foi Boston Legal. Ela faz piada de velhos e COM velhos. Não tem problema de se colocar no alvo da gracinha. Woody Allen cresceu fazendo piadas consigo mesmo. A série de tiras dele no analista é toda autobiográfica. Durante toda sua 1a fase interpretou a si mesmo, em filmes como Manhattan e Play it Again, Sam.

No Brasil o conceito de alguém fazer piada apontando pro próprio peito é impensável. No máximo coisas inócuas como o “humor” de Danilo Gentili que parte para o exagero ou o pasteurizado, reciclando anedotas velhas genéricas e colocando parentes no meio.

Recentemente dei minha opinião sobre o caso da estudante Geisy, que foi banida da Uniban por usar roupas inapropriadas para um Templo do Decoro e da Moralidade Familiar que é uma faculdade. Tive a idéia de fazer o óbvio: Um mash-up com o já saturado vídeo de Hitler em seu bunker, no filme “A Queda”. Óbvio mas não repetitivo, por favor.

Seria fácil associar Uniban com Nazistas, mas eu não gosto de humor fácil. Pensei um pouco e vi que os nazistas ao contrário da Uniban tinham um racional por trás de sua intolerância. Fiz o texto em cima disso. Na finalização já tinha pensado em colocar referências a Mídias Sociais, afinal são a panacéia universal atual. Como sou a única pessoa do Brasil capaz de fazer humor autodepreciativo me sacaneando de forma decente, aproveitei para espetar o mané do Dahmer, com sua citação infeliz de que “por R$50,00 blogueiros falam bem até do Holocausto”. Coloquei-a na boca de Hitler, com direito a meu nome no meio.

Isso rendeu até o momento 75878 visualizações, sem contar os piratinhas de bosta que baixaram o vídeo e subiram pras próprias contas do YouTube. Recebi citações e links do Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat, Veja, Portal Exame, home do UOL e incontáveis tuiteiros. 99,9% dos comentários são elogiosos, o resto é de gente da UNIBAN. Eu fiz um viralzinho.

Mostrei que é possível fazer humor referencial, não-óbvio, em várias camadas e mesmo assim ser entendido por muita gente. Claro, nem todo mundo vai “pegar”. Houve quem dissesse que o vídeo é bom mas “carregado de preconceito”. Afinal Hitler dizer que odeia gays por serem asseados e educados é preconceito. Humor, jamais. <== isso é sarcasmo, caso a moça que achou preconceito esteja lendo.

Só que nem tudo são flores e o entendimento foi mais nebuloso ainda.  Vejam estes tuits:

São apenas alguns dos vários que recebi via RT, há exemplos bem mais venenosos. Eu não havia antecipado isso, mas como estava comentando ainda a pouco, é um prazer de 1a Ordem comunicar a um candidato a troll que EU sou o autor do vídeo, e que a grande sacanagem comigo que ele espalhou com tanto prazer foi criada por mim, obrigado pelo elogio a meu trabalho, volte sempre, sua ligação é muito importante para nós.

E por falar nisso, vejam um exemplo CLÁSSICO de mediocridade, do cidadão do twit acima, após ter sido informado que o vídeo era de minha autoria:

Você tem toda razão, espertão. Estão verdes.


Compartilhe este artigo!