Aula de Religião Obrigatória nas Escolas? Deus me Livre!

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Devo boa parte da minha educação ao Colégio Santo Antônio. É uma escola de freiras, tida como a melhor da cidade. Lá aprendi a sair para o recreio pelos velhos corredores de tábua corrida ANDANDO de forma civilizada. Aprendi que no pátio as mesmas freiras que exigiam civilidade dentro no prédio não se importavam com crianças gritando, correndo e sendo crianças, embora levantar a saia das meninas tenha gerado algumas broncas.

Lá descobri que se fizesse muita bagunça seria mandado de castigo para a biblioteca, onde passava a manhã lendo tudo que podia. A freira responsável não ligava, embora fosse algo novo para ela, o resto das crianças de castigo sentava emburrada e ficava xingando no Twitter (metaforicamente, claro).

Não tínhamos folga. Fora feriados importantes só ficamos sem aula nas mortes dos Papas Paulo VI e João Paulo II – A Missão.

Religiosamente (com trocadilho) duas vezes por ano íamos para a capela do colégio. Lembro vagamente de uma professora falando algo como “rezem, ou whatever, fiquem quietos, é só meia-hora”. Não quer dizer que não houvesse religião no currículo. Era uma matéria, que estranhamente nunca foi passada como doutrinação. Estudávamos passagens bíblicas como se fossem (eu sei, são) um livro de histórias.

Nunca passou pela minha cabeça que fossem mais que aquilo, e ninguém no colégio de freiras tentou me convencer do contrário.

Quando fui para o Colégio Brigadeiro Newton Braga, um abacaxi civil do Ministériio da Aeronáutica descobri que havia um… capelão.

E mais: Algumas vezes as turmas eram reunidas no auditório para aulas de doutrinação com o tal capelão. Uma das primeiras eu comprei briga. Conforme havia aprendido em casa, bati pé com o inspetor. “Desde a Constituição de 1824 o Brasil é um país laico, não temos reilgião oficial, eu não sou obrigado a assistir nada relacionado a religião na escola!”

O sujeito viu que não iria dobrar aquele moleque petulante (e ainda culpam o Twitter) e chamou um professor. Nem precisei argumentar muito, me liberou do evento e fui pra cantina. De outras vezes foi mais fácil. Ou a palestra era para quem não tinha feito primeira comunhão ainda ou era para quem já tinha feito. Obviamente me encaixava nas duas, e nem precisei brigar.

Hoje não seria tão fácil, ao menos no que depende do EXCELENTÍSSIMO SENHOR DEPUTADO FEDERAL PASTOR MARCOS FELICIANO.

 

O PRIMEIRO projeto dele na Câmara é o Projeto de Lei n. 309/2011, que visa alterar o  art. 33 da Lei n.º 9.394, para:

“Art. 33: O ensino religioso, parte integrante da formação básica do cidadão, de matrícula facultativa pelo aluno, é  disciplina obrigatória nos currículos escolares do ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.”

Então vejamos: As crianças chegam nas faculdades escrevendo de forma precária, interpretando texto somente por palavras-chave. O ensino de biologia é tão precário que uma energúmena no Big Brother Brasil pergunta, com a maior cara-lavada se “ainda existe macaco”. Depois não consegue IMITAR um macaco.

Nossa educação é MUITO precária. Nossa prevenção ao empreendedorismo e nossa crença de que sucesso só é válido se for por acaso fazem com que muita gente realmente ache válido a meta de nos tornarmos referência mundial em sandálias de pneu.

O tempo que as crianças passam eu aula no Brasil é ínfimo comparado com países cujos habitantes almejam mais do que vomitar em rede nacional e ficar famoso por isso, mas mesmo esse tempo ínfimo é mal aproveitado. Graças a sabotadores como Paulo Freire, e sua “Pedagogia do Oprimido” aprendemos na escola que competição é errado. Passamos a mão na cabeça das crianças burrinhas e damos broncas nas mais inteligentes por “humilharem seus coleguinhas”.

Adivinhem: As crianças saem desse paraíso marxista onde todo mundo é igual (dica, nem lá) e nivelado por baixo, para descobrir que na vida real alguém melhor que você não será repreendido por uma pedaboba qualquer.

OK, Cardoso, e onde entra religião nisso?

EXATO, Pequeno Gafanhoto. EXCELENTE PERGUNTA.

Repito: ONDE ENTRA RELIGIÃO NISSO?

Qual o GANHO para uma criança aprender na escola como atuais crenças da Idade do Bronze? Sou o primeiro a reconhecer que inúmeras maravilhas foram criadas inspiradas na religião, mas nenhuma foi criada POR ela. O que sustenta a Capela Sistina não é a Fé, e a Matemática.

O Ensino Fundamental é quando você instila nas crianças o deslumbramento da descoberta. É a chance de responder suas perguntas com demonstrações, não com dogmas. Se uma criança aprender que é capaz de pesquisar, deduzir, inferir e DESCOBRIR por exemplo se a quantidade de luz afeta o crescimento de um feijão, temos o primeiro passo para o próximo Norman Bourlog, coisa que nunca acontecerá se ela aprender que há coisas que não devem ser questionadas, que certos conhecimentos não devem ser sabidos pelo Homem e que no final, “Deus Proverá”.

É uma época para ensinar Monteiro Lobato, Júlio Verne, Beakman, Mythbusters, Carl Sagan e Discovery Vida. Usar os recursos modernos para discutir, ensinar, seduzir as crianças para o Conhecimento com Indiana Jones e fazer com que entendam a importância da frase “isso pertence a um Museu” como um elogio e não um xingamento.

Diz o texto do Exmo. Deputado que “O ensino religioso, parte integrante da formação básica do cidadão”. Discordo veementemente, mas mesmo que seja o caso, a formação básica do cidadão se dá em casa. São os pais os responsáveis pela moralidade básica das crianças. A escola existe para no máximo reforçar esses conceitos, mas Certo e Errado não se aprende na rua, se exerce.

A proposta pretende-se isenta, mas convenhamos no Brasil pluralismo religioso se resume a padres, pastores e com sorte da Bahia pra cima um pai de santo. Depois que o Henry Sobel surtou, nem rabino mais lembram. QUALQUER curso de religião em escolas se resume a um replay da Bíblia, com os judeus sendo tratados iguais a filme de super-herói antes do cara ganhar superpoderes.

Hinduísmo? Muito provavelmente vão dizer que Krishna era de Pangéia. Ganesha será motivo de piadas, afinal um deus-elefante faz muito menos sentido do que criar mulheres a partir de costelas. Taoísmo? Nah. Judaísmo? Negando Jesus? Tá que vão ensinar de forma isenta.

Mesmo que fizessem um completo apanhado das religiões no mundo, são 19 principais, fora as pequenas e variações. Segundo a World Christian Encyclopedia só de grupos autodenominados cristãos há 34.000 diferentes. Um monte de gente ficará de fora, e vai que A Correta são os Jainistas indianos?

Pior: E se a criança for adepta do Jainismo Indiano? A maioria das crianças já é doutrinada em casa. Uma aula de religião na pior das hipóteses será ofensiva à criança e aos pais, e na melhor será apenas perda de tempo.

A Escola Básica é o momento estratégico para ensinar a criança a questionar o mundo que a cerca. Desperdiçar parte desse tempo propagando algo que é baseado no não-questionamento e aceitação absoluta de dogmas não só é errado como chega a ser criminoso, ao formar crianças que no futuro só poderão rezar por um emprego decente.

Fonte: Gospel+


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