Desculpe, Época, mas esse não é o Droid que vocês estão procurando

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Assim como Stephen Colbert eu não sou muito fã de fatos. Gente sem imaginação costuma usá-los para provar argumentos, o que não é vantagem. Qualquer um acredita em algo diante de fatos concretos. Por isso não gostei nada quando vi meu artigo no TechTudo, onde escrevi sobre a virtual (e aparentemente estranha) ausência de robôs nas buscas a sobreviventes no Japão ser desmentido de forma espetacular por esta matéria da Época Negócios:

 

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Como assim, Bial?

Como bom geek sei recitar quase todas as Três Leis da Robótica de Asimov e tenho total conhecimento sobre robôs, ao menos os inexistentes. Sei ao menos em que pé anda a pesquisa, então o título já ficou estranho. Estes dois parágrafos então, só pioraram:

O sistema de sensor Kinect, desenvolvido pela Microsoft para o videogame Xbox 360, já provou ter utilidades além da diversão, tal como demonstrou um grupo de estudantes britânicos que construíram um robô capaz de resgatar vítimas de um terremoto graças a essa tecnologia.

Teleguiado, autônomo e com um aspecto similar ao de famosos robôs como Wall-E e o protagonista do filme “Um Robô em Curto Circuito”. Assim é o autômato criado pelo grupo de estudantes da Universidade de Warwick (Reino Unido), que se apresentou na feira The Gadget Live Show 2011, aberta até este domingo na cidade britânica de Birmingham.

Vamos lá. Primeiro, o robô é “capaz” de resgatar vítimas de um terremoto. Não há informações de tamanho, tipos de manipuladores, autonomia, nada. Se o robô foi apresentado na feira domingo, só lamento mas ele só vai resgatar vítimas do Japão se houver terremoto em Nosso Lar.

Segundo, decidam-se. É teleguiado ou autônomo? Os dois conceitos são opostos.

Em seguida o texto faz uma revelação importante, e nem é o fato do robô de Short Circuit se chamar Jonny Ken(eu sei!)

Um aspecto muito mais agressivo é o do “Titan the Robot”, que exibiu na feira seus 2,4 metros e 350 quilos de exoesqueleto com o objetivo de mostrar que um futuro de androides é possível.

Na legenda da foto diz: “Robô Titan criado pelos estudantes de Warwick é apresentado…”

Qual a conclusão lógica, chamada mais imagem mais legenda? Esse robô é o tal criado pelos estudantes, e vai escavar destroços igual ao Optimus Prime, tecnologia fantástica. Duvida? Veja a apresentação:

 

Geeks como eu sabem que movimentação bípede é algo muito, muito complicado. O robô andador mais sofisticado, o Asimo da Honda tem 1m39cm de altura, pesa 54 quilos e tem velocidade máxima de 6Km/h, nem de longe chega aos pés da agilidade demonstrada pelo Titan. Como um grupo de estudantes ingleses superou toda a pesquisa robótica mundial e ainda por cima criou um monstro de 350Kg?

Não superou.

A princípio desconfia-se de computação gráfica. Logo após o robô chegar ao palco um sujeito passa na frente da câmera, é um recurso clássico para trocar a imagem real pela animada. Os reflexos no chão são boas pistas, no caso estão corretos mas não provam a farsa, só indicam uma animação bem-feita OU um objeto real.

A reação das pessoas é uma boa dica, está MUITO correta, seria bem complicado dirigir atores, principalmente crianças para reagir a nada com tanta precisão e tanto realismo. Portanto o objeto era real, mas seria um robô?

A movimentação está fluída demais. Todos os micromovimentos de um humano estão ali. Robôs não fazem gestos desnecessários, nem hesitam.

A placa peitoral é a GRANDE dica. Está posicionada de forma extremamente para um operador humano poder enxergar. Junte a isso o tecido preto nas juntas do robô, e temos um clássico traje.

5 segundos de Google e descobrimos que o Titan não tem NADA a ver com estudantes de Birmingham. Buscando no Google o PRIMEIRO link é o do site oficial do Robô. O terceiro é da Wikipedia, onde são dadas todas as informações sobre o traje. Sim, Titan é um traje, ele é tão robô quanto o dinossauro do post anterior.

É magnífico, é lindo, eu adoraria ver um show desses, mas NÃO é um robô, NÃO é criado por estudantes de Birmingham e PRINCIPALMENTE não é a esperança para pobres coitados japoneses soterrados desde 11 de Março.

Eu sempre defendo que não se atribui à malícia o que pode ser explicado pela estupidez, então prefiro achar que o estagiário da Época, na falta de compreensão de inglês escrito misturou tudo, não percebeu que o robô era falso e nem era “o” robô e falou mais do que devia. Do contrário serei obrigado a achar que se aproveitaram de forma leviana de uma tragédia para criar uma chamada sensacionalista vendendo o produto mais vil que pode ser comercializado: Falsa esperança.

Agradecimentos à F.R. pela dica do link


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