Algumas coisas me assustam nesse mundo globalizado imediatista Big Brother em que vivemos. Repetimos o ditado de que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade, mas não percebemos que a dinâmica a que nos sujeitamos é perfeita pra isso.
Questionar é ser chato, é ser do contra, é quase ser subversivo. Vale argumento de autoridade, argumento de antiguidade, qualquer argumento, desde que preserve a opinião vigente, mesmo que ela mude.
O caso mais recente é a mudança do termo “Paraolímpico” para “Paralímpico”. A razão real (spoilers!) é simples, objetiva, mercadológica e antipática:
O Comitê Olímpico Internacional é dono do termo “Olimpíada” e não quer compartilhar com outros o privilégio de usar essa palavra criada na Grécia Antiga. Que o digam os Redneck Games, algo como “Jogos Caipiras”, uma brincadeira realizada em East Dublin, uma cidadezinha da Georgia, EUA, com 2484 habitantes.
Antes o evento era chamado de Redneck Olympics, até o organizador receber um telefonema do Comitê Olímpico Americano, exigindo que parassem de usar o termo, pois era marca registrada e causaria confusão entre os consumidores.
Como não dá pra fazer isso diretamente no caso das paraolimpíadas, pois seria desagradável demais até para o COI, resolveram mudar de caso em caso, ou idioma em idioma. Quando possível, inventam uma justificativa. No Brasil, soltaram a máxima de que só estão corrigindo um erro histórico, afinal nos outros países lusoparlantes, “sempre foi Paralimpíada”.
NO COO PARDAL!
Vamos ao google:
Cyberdúvidas da Língua Portuguesa de Portugal, de 14/11/2000:
Portaria do Instituto Português de Desporto e Juventude, de 17/7/1997:
Que tal Moçambique? Uma busca no Google acha textos de 2001, como este do Santander:
EM 2012 Moçambique ainda falava “Paraolímpico”, de vez em quando.
Portanto o “desde sempre” não cola, a não ser que a História Humana tenha começado em algum ponto da Década de 1990.
Curioso é que a Veja, mesmo reconhecendo que a grafia é simplesmente ERRADA, e que escrevemos “paralímpico” apenas para ceder a interesses mercadológicos da grande e lucrativa empresa que é o COI, erra ao dar a entender que Portugal sempre usou “paralímpico”.
Mais uma luta perdida, ou talvez seja apenas um moinho de vento, em um mundo onde defendem que “Presidenta” é um neologismo mesmo tendo sido usado por Machado de Assis em 1881, e foi incluído por decreto da Dilma no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, mesmo o vocabulário tendo sido atualizado no ano anterior á posse da madama.