Sobre África e micos

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Essa semana a Alta Social Mídia (seja lá o que for isso)  pegou em armas (não que não o faça todo dia) contra a Agência África. O foco foi a campanha de estágio, African Idol, ou algo assim.

A idéia é que candidatos teriam que “se virar nos 30”, apresentando-se para um júri de notados (sic). Os mais criativos, originais, etc, ganhariam um estágio na África. Os menos, no kibeloco.

Por algum motivo isso revoltou a galera que passa o dia bolando Chuva de Twix e vídeos de pirocas com asas dançando gangnan style (não sei se é assim. Se não for, não me corrija). Houve gente escrevendo no Facebook que era indigno de gente séria, participar de algo assim. Outro queria saber quem era Sabrina Sato para julgar um candidato a estagiário de uma agência de propaganda.

A proposta não me agradou, mas não pelos motivos do mimimi geral. O buraco é bem mais embaixo. Se o sujeito precisa de um concurso pra conseguir um estágio, ele já tem problemas. Esse guri está sendo no máximo reativo, quando propaganda na área de criação principalmente, exige gente pró-ativa. Ninguém vai chegar com tudo mastigado, você precisa TER idéias, não executar idéias. Isso é pra produção.

Quando estudava publicidade umas duas vidas atrás ouvia toda noite que era impossível conseguir estágio, que agências eram só panelinha, bla bla bla. Um dia me cansei e resolvi “entrar no mercado”. Pensei:

problema: Agências só contratam ou dão estágio se o sujeito já tiver portfólio. Eu não tenho portfólio.

solução: criar um portfólio com peças de minha autoria. Legal, mas é meio trapaça. Vira “produto-conceito”. Como otimizar isso?

solução otimizada: publicitário tem que vender. Uma peça-conceito não vendeu de verdade. Eu precisava de algo “real”. Qual produto era estrategicamente importante para mim no momento? Eu mesmo. Bolas, se eu quero trabalhar em propaganda, o primeiro produto que preciso vender sou eu.

Criei uma série de peças, com Letraset, Ventura e impressora laser em bureau (faz tempo). Lembro bem da mala-direta:  “vou entrar na sua agência nem que seja por debaixo da porta”. Fiz vários anúncios, roteiros de spots de rádio e TV.

Na 1a agência que fui, saí com o estágio. Em 30 dias estava contratado.

Essa seleção da África, que me desculpem os envolvidos, é para gente de segundo escalão, para paus-mandados que acham que só se consegue vencer na vida por sorte, por um BBB, por um American Idol, até por uma Fazenda. Quem quer um estágio e é bom, não precisa de concurso. Felipe Neto, Rafinha Bastos, Gentili, essa galera toda que veio da Internet não ficou esperando acontecer, fizeram a hora.

De resto, não entendo o rancor contra a agência. Principalmente vindo de gente que bate palma para ações que fazem pessoas pagarem mico por ingresso de cinema ou mesmo, como na peça abaixo quase unanimemente tida como genial, por duas Coca-Colas.


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