Como falhar miseravelmente prevendo o futuro

Compartilhe este artigo!

charlie_eppes_numb3rsOntem dei boas risadas com um artigo que li falando que em 2016 o Android teria 50% do mercado de smartphones. Não ri nem dos números, ri da arrogância misturada com ignorância, do autor da projeção. É viável fazer previsões estatísticas de longo prazo, mas elas só valem se fatores imprevisíveis não modificarem o cenário. A 2a Guerra Mundial alterou todas as estatísticas mundiais sobre… tudo, só quem não foi afetado foi o pessoal como o Vovô Simpson que antes de 1936 já chamada a 1a Guerra Mundial de 1a Guerra.

Estatísticas de crescimento econômico, taxas de natalidade, longevidade e tempo médio vendo TV são “razoáveis”, dá para lidar com elas, mas no caso de avanços tecnológicos isso se torna MUITO complicado. Não é uma curva que volta a uma normalidade após uma anomalia. Projeções de crescimento do cinema foram pras cucuias após o surgimento da televisão. Toda e qualquer previsão de uso de telefones desandou após a chegada da Internet.

Projetar crescimento a longo prazo de produtos específicos em tecnologia é uma loucura. Essa projeção de Android dominando o mundo em 5 anos (como toda projeção dessa área) só é válida se NADA mudar, só evoluir em pequenos e inofensivos saltos. Não é assim que a banda toca. Vejamos cinco anos atrás, 2006. Motorola e Nokia no auge, Palm era a rainha da cocada preta, Windows Mobile um player ainda relevante. NENHUMA projeção de mercado incluiria a Apple, e se o fizesse provavelmente seria como esta previsão um tanto sombria aqui.

Aí em 2007 a Apple lança o iPhone e embanana TODO o mercado.

Então, é impossível fazer projeções para o futuro, no mercado de tecnologia e internet?

Sim e Não.

Claro, há previsões que sempre dão certo, como “Ano que vem será o Ano do Linux no Desktop”, mas previsões específicas são muito, muito pouco confiáveis. O Orkut por exemplo teve um comportamento completamente anômalo. A princípio seria o GRANDE player das redes sociais, mas a invasão dos gafanhotos da Internet, os brasileiros, inviabilizou a plataforma pro resto do planeta. O Facebook, com sua idéia de Anuário de Colégio não iria adiante, e mesmo sua proposta de “reencontrar colegas da escola” seria extremamente limitada, se os usuários de forma imprevisível não subvertessem totalmente a idéia original.

Os discursos de privacidade online, tão queridos aos cyberativistas negam TODA a atual realidade de gente compartilhando conteúdo de forma até irresponsavelmente aberta. Quem prestasse atenção aos discursos da EFF e da FSF jamais conceberia um Flickr.

As previsões mais abrangentes também podem ser desconfortavelmente imprecisas. Isso acontece quando há uma visão de túnel. É comum vindo de consumidores. Henry Ford mesmo dizia que se perguntasse o que os consumidores queriam, responderiam “cavalos mais rápidos”.

Por isso temos tantos carros voadores e computadores na cozinha em vídeos dos anos 50 e 60 mostrando o futuro. Aviação comercial era algo MUITO caro, a progressão lógica era que o automóvel evoluísse, pois era algo que todo mundo já tinha. Daí o carro voador, que seria mais barato do que pegar um vôo comercial.

Futurologia, principalmente na área tecnológica exige que você pense fora da caixa, isso significa ter a grandeza de admitir que algo que você não gosta ou não vê utilidade pode ser a essência de alguma coisa bem grande. Haters não conseguem atingir esse grau de maturidade, o que resulta em matérias como este patético texto da PC World dizendo que tablets são só uma modinha.

Vejo o mesmo em relação a Twitter. Haters odeiam Twitter com tanta força que não sobra energia para os neurônios que os fariam perceber que a FERRAMENTA Twitter, a MARCA Twitter é irrelevante, a grande mudança ocorreu na forma com que a informação é trocada, essa agilidade na interconexão entre milhões de pessoas é, assim como a baitolagem, um caminho sem volta, com a vantagem do Bolsonaro não reclamar tanto de nós tuiteiros.

Agora, o bom exemplo: É possível fazer uma previsão muito consistente, sem ser detalhista a ponto da profecia, apenas tendo uma visão abrangente do Mercado, estudando os cenários globais e entendendo o ponto principal da tecnologia, o Elemento Humano.

Não conheço caso melhor para demonstrar isso que o vídeo Epic 2014, criado por Robin Sloan e Matt Thompson em 2004.

Eles ousaram prever não 5, mas 10 anos de evolução no jornalismo online e na relação entre pessoas, internet e informação. Estão faltando smartphone, twitter, facebook, youtube, PayPal,iTunes,Netflix e vários outros serviços. Mesmo assim ainda é uma visão instigadora do futuro, mesmo estando 7 anos no passado.

A percepção de que o Friendster seria uma fonte estratégica de informações foi matadora, a menos que você seja daqueles chatos literais que não entendem a diferença entre conceito e produto, e diga “FAIL, ele falou Friendster, não Facebook”.

O New York Times fechou seu conteúdo gratuito, como previsto, só demorou mais do que o esperado. A idéia de que os jornais se rebelarão, saindo da Web para atender um público mais velho e conservador somente com versão impressa provavelmente não irá se concretizar, mas o caminho descrito no vídeo bate muito com o que vem acontecendo.

Assim, temos um vídeo que erra em sua previsão final mas acerta projetando todo um cenário mundial de redes sociais, informação e mídia, coisa que só é possível quando a própria visão não é limitada e tacanha. É complicado? Com certeza, por isso há tão poucos Gates e Jobs e tantos haters como os fãs da Apple que em 2001, quando do lançamento do iPod comentaram pérolas como estas:

 

“iPoop… iCry. Eu esperava por algo a mais.”

“Grande, justo o que o mundo precisa, outro maldito player de MP3. Vai Steve, cadê o Newton?”

“Hey, algumas idéias, Apple: Ao invés de entrar no mundo dos brinquedos e gadgets, que tal gastar um pouco de tempo resolvendo sua pateticamente cara linha de servidores? Ou vocês realmente querem se tornar uma glorificada empresa de gadgets de consumo?”

“US$400 por um MP3 Player!”

“Eu chamaria de Cube 2.0 e não vai vender, será morto em pouco tempo, e não é realmente funcional”

“Todo esse hype em torno de um MP3 Player? Dispositivo Digital Revolucionário? O campo de distorção da realidade está distorcendo a mente do Steve se ele pensa por um segundo que essa coisa vai decolar”

“Esse iPod é para garotos ricos mimados com pais insanos ou fãs da Apple fanáticos como Talibãs. Ele tem boas caracteristicas mas esqueça comprar um por US$399!!! Nunca, quem comprar essa coisa é uma pessoa muito estúpida!”

“Steve Jobs está sob efeito de uma consultoria terrível ou muita maconha. A proposta não é realista. Se a Apple fizer algo assim de novo, vai falir”

“Escolha ruim. O produto está fora da competência da Apple – dispositivos de computação – Quando a maioria pedia por um PDA, eles lançam um Player de MP3″



Compartilhe este artigo!