Existe um submundo na Internet. Não estou falando das DeepWebs da vida, mas de um submundo soft, onde deste o tempo do MIRC vive-se um hedonismo inconsequente. É o mundo dos “Amadores”, composto de voyeurs, exibicionistas, fetichistas e outros tarados em geral. Não que haja nada de errado nisso.
Esse mundo é repleto de fotos e vídeos de gente no mais variado estado de nudez, em geral nomeadas como minhaprima.jpg, cunhadaquepegueiemfloripa.jpg, irmãdofabiãoeopanda.mp4 e ninfetatarada.exe (se você for muito burro de clicar).
A exposição dessas imagens de forma pública complicaria MUITO a vida das pessoas que aparecem nelas. Não fale nem de adolescentes inconsequentes de 18, 19 anos. Há gente adulta, vivida e rodada (algumas bem rodadas) que se expõe por hobby.
Até hoje a segurança dessa gente foi a impossibilidade de associar nomes às fotos, não havia uma identificação positiva, mesmo os nomes eram inúteis, que o diga a Gerente da Dimpus, uma morena que rodou TODAS as capitais do Brasil, cada hora a mesma foto aparecia como se ela trabalhasse em um shopping local.
No raro caso onde alguém reconhecia uma das pessoas nas fotos ficava calado. Era complicado dizer que estava fuçando um altamente questionável fileserver do IRC atrás de pornografia, quando deu de cara com a vizinha. Seria como o Yeltsin encontrar comigo na porta de uma sauna para cavalheiros. Se ele saísse espalhando, iam perguntar o que ele estava fazendo lá também.
Agora isso tudo mudou. Estamos no ponto onde já é tecnicamente possível fazer datamining de imagens, associando com bases de dados em Facebook, Instagram e outros trocentos serviços. Nos velhos tempos não havia massa crítica, as fotos e informações online eram poucas e selecionadas, hoje não só nós subimos toneladas de dados pessoais, como nossos amigos nos marcam em suas próprias fotos.
Todos os arroubos de juventude de gente que tinha 18 anos 10, 15 anos atrás estão guardados em HDs (ok, Zip Drives) esperando uma ferramenta que associe bráulio à pessoa. Imagine: Você sobe a foto da gatinha do IRC, de 10 anos atrás, e acha o Facebook dela hoje, promotora pública, apresentadora de TV, deputada federal.
Não estou fazendo julgamentos morais, para mim não assustando os animais domésticos e sendo consensual, dou a maior força, é só não me convidar e lembrar de lavar as mãos depois. Só que a sociedade careta conservadora não funciona assim. Ontem mesmo a Myrian Rios virou notícia por expressar suas idéias idiotas ridículas e medievais relacionadas a sexo. Foi prontamente esculhambada pela ala liberal e moderna. Como a esculhambaram? Postando fotos da época em que ela posava nua. Ou seja:
Quem milita pela liberdade igualdade e fraternidade sexual entre os gêneros também curte um slut shaming quando é conveniente.
Imagine isso acontecendo com uma candidata a Presidência.
Não é uma questão de SE, é uma questão de quando. Hoje já é possível, de forma não-automatizada, saber muito mais sobre uma pessoa do que imaginávamos 10 anos atrás.
A moça da foto por exemplo, encontrada em um arquivo aleatório de fotos amadoras, que baixei somente para escrever este texto. Coloquei uma das fotos no sistema de buscas por imagem do Google. Na hora já descobri que o nome é Alina Vishnevskaya, e aqui há outras fotos dela, sei que vão pedir.
Quando pudermos fazer isso em lote, a privacidade online deixará definitivamente de existir. Teremos que nos adaptar a uma realidade onde com muito pouco esforço você descobrirá que sua chefe é praticante de Bukakke, mas você não pode falar nada pois todo mundo no escritório sabe que você é um Furry.
A longo prazo a Internet vai mudar a forma com que a sociedade encara sua moralidade e normalidade, mas em uma fase inicial veremos muitas vítimas inocentes, pois o mesmo pai que sai secretamente pra transar com travestis na Augusta será o primeiro a achar um absurdo que a professora da filha dele tenha mandado pro namorado uma foto dos peitos, quando tinha 17 anos.