Snowden, privacidade e a velha nova mídia

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No final do Escândalo de Watergate nada menos que 43 pessoas, muitas de alto escalão haviam sido julgadas condenadas e presas. Richard Nixon entrava pra História como o primeiro e único Presidente a renunciar em desgraça e Bob Woodward e Carl Bernstein passaram o resto da vida comendo mulheres que achavam que eles pareciam com Robert Redford e Dustin Hoffman.

Um triunfo do jornalismo investigativo, Watergate foi possível graças a uma fonte chamada Garganta Profunda. A identidade ficou em segredo por 30 anos. Mark Felt, Vice-Diretor do FBI só revelou ser ele o delator em seu leito de morte.

Hoje imaginava-se que não era mais necessário esse tipo de fonte de alto nível. Ferramentas como a Wikileaks seriam utilizadas para divulgar informações estratégicas, colocar governos na linha e agir como o sempre vigilante olho do povo.

No final o sonho de Julian Malfoy Assange não se realizou. Governos não caíram por causa do Wikileaks, e o Anonymous, surgido com a nobre meta de destruir a igreja da cientologia agora divulga documentos secretos que estão no site da Agência Nacional de Segurança.

Mais ainda: Edward Snowden, o Nerd fofoqueiro que botou a boca no trombone e divulgou que a NSA faz data mining de dados telefônicos nos EUA mostrou que a velha midia pode ser velha mas é absolutamente respeitada, mais do que o futuro tecnológico que nós mesmos dizemos almejar.

Snowden anda com um Notebook cheio de adesivos da EFF e do projeto Tor, é paranóico com privacidade e segurança online e se comunicava com jornalistas usando email encriptado. Só que na hora de divulgar seu caso ele não procurou Wikileaks, foi atrás do Guardian e do Washington Post. O mesmo jornal que foi responsável pela renúncia de Nixon em 1974 e só não derrubará Obama em 2013 por ele nao ter feito nada ilegal.

 

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39 anos depois, NADA MUDOU. Mesmo com a crise das mídias, tudo continua o mesmo em termos de credibilidade. Na verdade podemos dizer que a coisa piorou. Woodward e Bernstein derrubaram um Presidente sem revelar sua fonte. A credibilidade dos jornalistas, aliada à do veículo sustentaram a denúncia e garantiram as investigações.

O PowerPoint do Mal (existe outro tipo?) não foi divulgado na DeepWeb, não apareceu no 4Chan ou no Reddit, Snowden não confia em seus pares para lidar com esse tipo de informação. Tem seus motivos.

Hoje uma denúncia como a de Snowden é apenas mais um maluco paranóico de Internet. Se o Huffington Post publicar, ninguém dá bola, afinal é o site daquela grega louca, que tem uma sessão de Sideboobs.

Em um excelente enorme e monstruoso artigo Pedro Burgos discute sobre esse novo jornalismo que tem que competir por cliques e banners com o ex-BBB, a Geisy Arruda e o Grumpy Cat. Para blogs não é novidade, um texto como este compete com o video do retardado fazendo retardice publicado no blog retardado. Compete e perde.

Vivemos um futuro orwelliano onde a credibilidade das fontes online -nós mesmos- é questionável. Ao ponto dessa desconfiança envenenar o Washington Post, forçando Snowden a revelar sua identidade, sob pena de não ser levado a sério.

A mesma sociedade online que se indigna com o fim da privacidade é a primeira a forçar esse fim. Já escrevi antes que Big Brother somos nós, mas até então sempre no bom sentido. Agora perdeu a graça, estamos alimentando os monstros ao mesmo tempo em que alienamos os heróis com capacidade para matá-los.

 

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