Uma das coisas que mais me cansa na propaganda atual, e me fazem ter saudades do tempo em que publicidade se resumia a peças criativas dentro de formatos rígidos, como anúncios, comerciais e spots, é a mania do viralzinho.
Originalmente o viral seria uma peça de propaganda que caiu no gosto do público, e foi replicada espontaneamente. Aí vieram os especialistas em seeding, técnicas de viralização e, sendo sincero, enganação e mentira pura e simples.
Marido pendurado do lado de fora da janela, vídeo “amador” filmado na rua, tudo pra parecer verdade, fazer com que incautos e desavisados achem que é verdade, e passem adiante. A criação se rendeu ao marketing que se rendeu à psicologia e a idéia morreu. Enganar é muito mais simples do que maravilhar.
Felizmente nem todo mundo pensa assim, e bato palmas pra essa ação da M&C Saatchi, de Milão. Para promover a Life Park, uma seguradora da cidade, resolveram apelar pro velho e batido acidente de carro simulado, mas ao invés de mostrar dois fuscas raspando lataria, ou um videozinho safado fingindo uma colisão, chutaram o pau da barraca.
O carro-vítima foi encacetado por nada menos que um submarino nuclear russo. No meio de Milão.
Esse é o tipo de brincadeira que chama a atenção, mas não é feita para “enganar” ninguém. É claro que alguns celenterados perguntarão se é de verdade, mas ninguém com QI acima da temperatura ambiente da Sibéria se preocupará com o “acidente”.
O submarino vem com a marcação #LIF3, que não só é “LIFE” em linguagem de internet, como uma hashtag pronta, que não destoa da imagem, uma raridade.
A ação contou com colaboração de polícia, bombeiros, a “bagunça” foi total. O YouTube está cheio de vídeos mostrando o acidente:
Note que a verba não deu pra computação gráfica do submarino emergindo, mas nada é perfeito.
O vídeo da entrevista do capitão russo falando dos canais submarinos de Milão, apenas para ser atacado pelo dono do carro atropelado é deliciosamente italiano.
Claro, a única coisa mal-contada em tudo é como um submarino vai parar no meio de uma cidade a mais de 100Km do oceano, e não é comandado pelo capitão do Costa Concordia.
O site oficial da ação tem muito mais vídeos, fotos, textos e uma conta do Instagram onde pessoas posam para “fotos oficiais” na frente do submarino.
Esse tipo de ação é o que chamo de publitainment, publicidade na forma de entretenimento. Era a norma na Era de Ouro da propaganda brasileira. Todo mundo queria ver o novo comercial do Casal Unibanco, ou a fantasia do Garoto BomBril. É possível sim fazer propaganda sem aquele merchandising boçalmente agressivo das novelas da Globo, é possível sim divertir, maravilhar, deixar o consumidor com um sorriso no rosto.
Só que pra isso não basta você ser o cara que diz “vamos colocar um submarino no meio de Milão”. Você tem que ser o cara que aprova essa idéia.