Dia do Saci, Viva a Cultura Nacional (Grega de 414 Antes de Cristo?)

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Como todos os grandes problemas nacionais estão resolvidos, já ganhamos um Oscar, temos um programa espacial atuante e meu despertador é cafuné da Luciana Vendramini, podemos nos dedicar a outras áreas, como comemorar… o Dia do Saci.

Sim, isso existe (o dia, não os sacis. Foi mau, Romeu Evaristo).

O problema é que como todo bom folclore, é pasteurizado e mingauzificado para consumo fácil pelas crianças, com isso muita informação é perdida. Temos a impressão de que TUDO surgiu aqui, e quando as próprias crianças alertam das semelhanças com lendas externas, são contrariadas pelos professores, que também não pesquisaram muito.

O Curupira por exemplo é uma variação da lenda do Imbunche, de origem chilena. A Iara nada mais é que uma sereia de água doce, uma das muitas lendas adaptadas pelos portugueses.

TODO MUNDO aprende na escola que os índios brasileiros (na verdade só os Tupis) eram bonzinhos monoteístas e só chamavam Deus pelo nome errado, usavam Tupã ao invés de Alanis Morissette. Os jesuítas distorceram e adaptaram Tupã, que era praticamente uma onomatopéia pro som do trovão, e transformaram-no no Deus Supremo indígena.

Eles fizeram com que culturas inteiras abandonassem sua mitologia, o mito criador Tupi quase foi esquecido, pois Nhanderuvuçu não era uma entidade antropomórfica, lembra mais a Força de Star Wars, do que um velho branco de barbas brancas. Aliás, ainda bem, se dependesse de escrever Nhanderuvuçu Indiana Jones estaria no fundo daquele abismo faz tempo.

É curioso que os defensores da “cultura nacional”, que gritam tanto contra “apropriação cultural” que consideram racismo brancos gostarem de comida japonesa, não se preocupam ou sequer reconhecem quando o inverso acontece. Culturas se influenciam o tempo todo, línguas se influenciam o tempo todo.

O discurso nacionalista-isolacionista é patético, pode ser desmentido em segundos. “Viva o Saci” como se ele fosse fruto da mente de algum nobre guerreiro tupi? Humm… vejamos.

As primeiras referências ao Saci apareceram no Século XVIII. Historiadores politicamente corretos dizem que ele deriva do Ŷaci-ŷaterê, entidade indígena que teria uma perna só, cabelo vermelho e assustaria as pessoas na floresta. O problema é que não há registros, desde o descobrimento, dessa entidade.

Já os portugueses tem os trasgos, um tipo de duende, vejam a semelhança do gorro:

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Ah, mas então a lenda indígena se fundiu com a portuguesa, com uma pitada de cultura negra, que transformou o saci num negrinho de cachimbo?

Não tão simples. Na peça Os Pássaros, de Alfred Aristófanes, encenada em 414 antes de cristo, são mencionados os Monopodes, uma raça de criaturas de uma perna só. Eles viveriam em terras exóticas, como Índia e Etiópia.

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Qualquer coincidência é mera semelhança.

A imagem acima é da Crônica de Nuremberg, de 1493, o que demonstra que a existências de criaturas de uma perna só era mais que “conhecida” desde antes do descobrimento do Brasil.

O saci hoje é um personagem nacional? COM CERTEZA, do mesmo jeito que as cavalhadas, 100% de todo mundo que preserva a tradição não tem mais a menor idéia de sua forma original, muito menos da situação geopolítica que representam, são festas que ganharam significado próprio. Lembre-se, a rigor o Carnaval e o Natal são festas religiosas.

É importante preservar o folclore e a cultura, mas isso nunca deve derivar para a xenofobia e o isolacionismo. Sua cultura não é mais “rica” do que a outra, sua cultura só existe porque kibou algo do vizinho, adaptou e chamou de seu. A única cultura que não faz isso é a que está morta, exibida em museus.

Portando, viva o saci, viva a cultura mundial.

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