Conheça a série sobre muçulmanos que bombou bem antes de Homeland

Conheça a série sobre muçulmanos que bombou bem antes de Homeland

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Houve um tempo, muitos, muitos anos atrás onde não havia patrulha ideológica, onde a militância lacradora não vigiava todos os nossos atos. Nesse tempo você podia ser politicamente incorreto, fazer as piadas que quisesse, chamar imigrantes de nazistas por botarem ordem no restaurante e ninguém controlava quantas minorias havia em seu elenco. Imigrantes e religiões esquisitas também eram alvos válidos. E piadas de terroristas muçulmanos, claro.

Nessa época surgiu Little Mosque on the Prairie, um de meus vícios secretos, uma sitcom que funcionou maravilhosamente bem em suas 6 temporadas. Eu sei que você nunca ouviu falar. Não era lacradora ou ofensiva, e na época esses conceitos nem estavam na moda.

E sim, eles faziam piadas com 11 de Setembro, até no teaser antes do lançamento da série:

 

Little Mosque se passa na cidadezinha de Mercy, 14 mil habitantes na província de Saskatchewan, Canadá. A cidade tem uma pequena comunidade muçulmana, e depois que perdem sua mesquita, acabam entrando em um acordo com a paróquia da cidade. Como o padre precisa de dinheiro, aluga metade do prédio da igreja.

Quer dizer, na verdade o aluguel foi negociado por Yasir Hamoudi, que aproveitou para sublocar um pedaço da sublocação para instalar o escritório de sua empreiteira. Ele é muçulmano, marido de Sarah, uma anglicana que se converteu ao islã e trabalha para a prefeita Popowitz, que como toda prefeita de seriado é enrolona, quase corrupta e extremamente incompetente.

Os dois são pais de Rayyan, uma jovem progressista, moderna, a melhor médica da cidade e que segue a religião mais do que a mãe E o pai, mas questiona sempre que vê algo que considera injustiça, ou que contrarie seus princípios feministas. Rayyan antagoniza menos com Fred Tupper, o radialista conservador radical da cidade do que com Fatima e Baber.

Fatima é uma imigrante nigeriana que comanda o restaurante mais popular da cidade. É extremamente desconfiada de tudo que seja ocidental, mas como todo mundo adora sua comida, o restaurante é point de todo mundo, inclusive Fred Tupper, que tem uma quedinha por ela, mas nunca vai admitir.

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A discussão sobre quando começa o Ramadã é hilária e real em todas as mesquitas do planeta.

No primeiro episódio a comunidade está ansiosa esperando a chegada do novo Iman, Baber é uma figura folclórica mas seus sermões são dignos de qualquer religioso radical: Tudo é errado tudo é pecado TV é pecado inclusive American Idol. Até mesmo Canadian Idol!

O problema é que Amaar Rashid era um advogado bem-sucedido em Toronto, e seu choque cultural com a comunidade de Mercy é mais estressante e divertido (pra nós) do que suas interações com os conservadores.

No meio de tudo temos o Padre Duncan, o líder da igreja local, um sujeito boa-praça, liberal mas com uma paróquia como todas as outras, perdendo fiéis a cada dia. Por isso ele não tem problemas em alugar parte da igreja pros muçulmanos. Como ele explica a Amaar, “Foi Deus quem disse Que Haja Luz, mas sou eu quem paga a conta de eletricidade”.

Ah sim, Baber, como todo sujeito muito conservador tem uma filha rebelde, Layla:

 

A série não é panfletária, não é condescendente, não é paternalista. Não tem propósitos “educativos”. É uma sitcom cujo cenário é uma cultura diferente, ao invés de ser a 545435ª série de hipsters descoladinhos vizinhos de porta em NY. Funcionaria perfeitamente se os papéis fossem invertidos.

Se dá pra tirar uma lição de Little Mosque On the Prairie, é que devemos nos focar nos moderados, eles são as primeiras e maiores vítimas dos radicais, em todos os grupos. Vide como a feministas sérias estão apanhando depois que aquela guria mala chilicou por causa de moças trabalhando servindo cerveja num jogo de futebol.

Essa série foi por anos meu vício secreto, estou devendo este texto a mim mesmo faz tempo. Recomendo MUITO que você, que gosta de sitcoms leves com texto ágil e original assista.

Como incentivo extra, temos o fato de que a militância lacradora (que você NUNCA viu recomendando a série) odiaria Little Mosque se assistisse hoje. Além de não vilanizar a população branca/cristã como um todo, a série, apesar de ter sido criada por Zarqa Nawaz, uma mulher muçulmana de origem paquistanesa, a maior parte do elenco não é composta de muçulmanos, e isso é haram para a militância que desconhece o conceito de atuação.

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Inclusive a Rayyan, essa demonha infiel.

Little Mosque on the Prairie é uma série inofensiva, divertida e que é igualmente rejeitada pela militância lacradora e pela direita xenófoba histérica. Foi exibida em 90 países, incluindo Israel. Tem na locadora do Paulo Coelho, e vale o download!

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