Uma história de Amor e Guerra

Uma história de Amor e Guerra

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harris_img_1 Uma história de Amor e Guerra

Peggy Seales não era nenhuma agente secreta, mas fazia sua parte pelo esforço de guerra. Trabalhava como técnica de instrumentação eletrônica em aviões, instalando medidores e sensores em aeronaves que iriam combater na Europa da Segunda Guerra Mundial.

Um dos colegas de trabalho de Peggy era um coroa chamado Virgil, que como todo pai orgulhoso queria desencalhar o filho, e encheu a bola de Billie, então com 21 anos. Tanto fez que Peggy começou a trocar correspondência com ele, e após alguns meses e um encontro real, Billie pediu Peggy em casamento. A jovem de 18 anos aceitou, e a união ocorreu 22/9/1943.

Não tiveram muito tempo para celebrar, Billie era piloto e iria ser mandado para a Europa. As duas semanas de lua de mel foram canceladas quando um navio levando pilotos foi afundado. As esposas dos pilotos do grupo de Billie foram mandadas para um hotel, e tiveram poucos dias para se despedir dos maridos, se é que você me entende.

Foi a última vez que Peggy viu Billie.

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Na Normandia Billie acumulou vitórias e medalhas, tendo recebido até a Distinguished Flying Cross, outorgada em casos de extremo heroísmo. Depois que a Luftwaffe foi eliminada dos ares, o Tenente Harris e seu P51 Mustang foram redesignados para ataques ao solo. Em Julho de 1944, quando ele já tinha completado mais de 60 das 100 missões necessárias para ser dispensado e voltar para casa, um chucrute maldito com sua antiaérea deu sorte, e feriu mortalmente o caça e o tenente.

Billie Dowe Harris, ás, esposo, herói morreu ao cair em um bosque no interior da França, mas sua esposa não ficou sabendo. Ela recebeu uma carta dizendo que ele havia sido dado como desaparecido dia 7 de Julho de 1944, mas ela recebeu uma carta de próprio punho de Billie, datada do dia 8. O departamento responsável corrigiu o desaparecimento para 17 de Julho, mas a história não acabou aí.

A compreensível mas inaceitável confusão burocrática de uma guerra fez com que o Supremo Quartel-General das Forças Aliadas na França garantisse que o Tenente Harris havia retornado para os EUA para uma licença. A Cruz Vermelha dizia que ele provavelmente estava em algum hospital.

Peggy continuou procurando, e cada órgão contactado dava uma notícia diferente. Às vezes Billie estava morto, às vezes desaparecido. Só em 1948 aparentemente ele foi oficialmente dado como morto, mas um amigo do pai de Billie jurava que o tinha visto em um elevador na Califórnia. Eles morreram nos Anos 80, com a certeza e esperança que Billie ainda estava vivo.

Sua esposa não tinha essa esperança. Peggy nunca aceitou a morte do marido, nunca deixou de amá-lo. Ela nunca o esqueceu, nunca seguiu adiante, nunca mais se casou. Não era uma mulher triste ou amargurada, ela apenas decidiu que não conseguiria amar outra pessoa como amou Billie.

A história terminaria aqui, se não fosse Alton Harvey, um primo de Billie. Nunca se conheceram, Alton nasceu depois da morte do piloto, mas ele cresceu ouvindo as histórias, e depois que se aposentou resolveu investigar.

De cara os burocratas do governo disseram que era impossível achar os documentos relacionados ao caso, não tinham pessoal, bla bla bla. Logo depois os mesmos burocratas disseram que uma senhora francesa havia requisitado as mesmas informações seis meses antes, então eles tinham sim os documentos.

Bingo!

Valerie Quesnel era uma vereadora de uma vila francesa chamada Les Ventes, são 20Km quadrados e 1000 habitantes. HOJE, imagine em 1944. Ela estava tentando identificar um piloto canadense que havia caído na região, ou ao menos essa era a lenda local.

Os aldeões que tentaram socorrer Billie D Harris acharam que o nome era D’Harris, e portanto canadense.

Trocando correspondência com Valerie, Alton descobriu a história toda:

Em 1944 o Tenente Billie Harris foi alvejado sobre Les Ventes, durante uma das muitas batalhas pela libertação da França. Em um último esforço ele conseguiu desviar seu avião, que ao invés da cidade atingiu uma área de  bosque. Os aldeões foram até ele, mas Billie havia morrido. Eles removeram alguns documentos, seu livro de códigos, sua pistola e fugiram com a chegada dos nazistas.

Os alemães arrancaram sua identificação, que incluía o endereço da mãe, seu medalhão da sorte com um trevo de quatro folhas e até sua aliança de casamento, que na verdade era o anel de formatura de Peggy. O casal não tinha dinheiro para alianças “de verdade”.

O corpo foi abandonado pelos chucrutes, e quando se sentiram seguros os moradores de Les Ventes o recolheram, arrumaram, cobriram com um lençol de linho e o enterraram em um caixão de carvalho, no cemitério da vila. Cada um dos moradores trouxe flores de casa, e a sepultura ficou coberta delas até a altura dos joelhos.

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Pelo menos 3 vezes ao ano desde 1944 Les Ventes homenageia Billie Harris e outros heróis, como membros locais da resistência. Em 1948 seus restos foram movidos para um cemitério americano na Normandia, mas a sepultura em Les Ventes continua sendo cuidada.

Em 2008, com 83 anos Peggy descobriu que não era a única que não havia esquecido Billie. Ela viajou para a França, foi para Les Ventes e encontrou os descendentes de todos que haviam cuidado de seu marido, inclusive Guy Surleau, que na época era um adolescente da Resistência Francesa, o primeiro a encontrar Billie.

Em Les Ventes Peggie, Alton e um sobrinho conheceram a primeira sepultura de Billie, ouviram as histórias de guerra, souberam das homenagens e descobriram que a rua principal da cidade se chama Place Billie D. Harris.

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Dias depois, na Normandia Peggy encontrou o local de descanso final de Billie. Triste por enfim ter a certeza de que o amor de sua vida havia morrido, mas também feliz. Não só ela não o havia esquecido. Ele era parte da memória de uma cidade inteira.

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