O Jesus Pretinho e outras lindas representações religiosas que ninguém quer mostrar

Compartilhe este artigo!

Se você pedir para alguém desejar uma imagem de Jesus o resultado será bem o esperado: Um sujeito caucasiano, de cabelos longos e castanhos, às vezes louro. Alguns O colocarão com olhos claros, mas essencialmente ele será reconhecido com branco. Isso é a sociedade racista nazista esTRUpadora eleitora de Trump, certo? Errado. 

A imagem Universal de Jesus que temos hoje está longe de ser Universal. Pra começar, não há nenhuma descrição útil nos evangelhos, o que propicia a conclusão de que não havia nada de muito especial na aparência de Jesus. A versão 2.0, que aparece no Apocalipse merece descrição, com “cabeça e cabelos brancos como lã, e olhos brilhantes como chamas”.

As imagens mais antigas de Jesus encontradas por arqueólogos são dos Séculos II e III, não dá pra deduzir muito mas ele parece um… sujeito comum. De especial é que em muitos afrescos dessa época Ele é representado realizando milagres usando… uma varinha mágica.

Nos primórdios do cristianismo Jesus era mostrado jovem, sem barba, muitas vezes ainda criança. Faz bastante sentido, por mais que o dogma da crucificação seja essencial, era complicado vender uma religião nova dizendo “Olha, esse é o seu salvador, ele morreu igual aos bandidos que a gente vê todo dia no Roma-TV”. O fato de ser uma religião perseguida também não ajudava. Se você é basicamente ilegal não convém mostrar seu Salvador sendo punido como um criminoso.

Isso é meio que evidente em uma das representações mais antigas de Jesus crucificado, uma trollagem feita por um centurião sacaneando um amigo, Alexamenos, que provavelmente era cristão. Datada de algum ponto entre os Séculos I e III, mostra um burro crucificado, com a legenda “Alexamenos adorando seu deus”.

Com o tempo Jesus foi ficando mais velho, começou a ser mostrado com barba, principalmente na arte Bizantina. A Igreja Ortodoxa solidificou o Jesus de barba séculos antes do Ocidente, onde ele só se tornou comum por volta do Século XII.

Isso solidificou a imagem de Jesus mas não no mundo todo. Nesse momento o pessoal da lacração chora. Não há um plano maligno de brancos racistas para embranquecer Jesus. O que acontece é um fenômeno essencialmente inconsciente onde pessoas de um grupo étnico acham o seu fenótipo o normal, o padrão. Isso vale para TODOS os grupos étnicos. Inclusive para chimpanzés.

Por causa disso as pessoas tendem a adaptar seus ícones culturais e religiosos, como toda história o mito religioso não é imutável, a essência permanece, os detalhes mudam. Às vezes a ambientação. Um bom exemplo é o Japão. Quando São Francisco deu as caras por lá em 1549, não trouxe nenhum material adaptado, mas com o tempo a iconografia cristã no Japão passou a representar Jesus e as histórias bíblicas com cores locais, e quer saber? Ficou bem bonito.

A maioria das representações é relativamente recente, o que não deixa de ser curioso, já que com a comunicação de massa faria mais sentido Jesus ser mostrado como semita do que amarelo (não me xingue eu não criei essas classificações). Ao contrário, a história se torna mais e mais japonesa, inclusive há uma lenda popular de que Jesus não teria morrido na cruz, mas viajado pelo mundo e percorrido o Japão pregando. Se casou, teve vários filhos e morreu em Shingō aos 106 anos. Até hoje é possível visitar Sua tumba.

Em outros lugares a representação também seguiu a cultura local. Na Etiópia do Século XVIII já havia Jesus escurinho:

Mais antiga representação de Jesus na igreja copta – Egito

No Quênia Jesus só perde para Obama em termos de filho mais popular da terra, e é representado como negro:

Os presépios são especialmente legais, pois os artistas usam roupas típicas de seus países, e em alguns casos até a fauna local. trazendo para a própria realidade todo o conceito do mito.

O pessoal que acredita naquela ficção chamada Apropriação Cultural deve estar em desesperado tentando achar a quem culpar, mas não há vilões aqui. São artistas locais representando histórias de terras distantes com as luzes que lhes são familiares.

Ah sim, Jesus ganhou cores locais na Índia também.

Essas representações locais não são exclusividade de povos distantes. Aqui no Brasil, mesmo adorando uma tradição católica apostólica romana cimentada e estabilizada, damos um jeito se trazer a história para nossa realidade.

Para o bem ou para o mal.


Compartilhe este artigo!