Anne Frank se tornou o símbolo das atrocidades nazistas na Segunda Guerra Mundial. Vivendo escondida com a família, essa menina de 13 anos tentou levar uma vida normal morando em um sótão, até que foram descobertos, e ela acabou morrendo de tifo aos 15 anos no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha.
Seu pai, o único sobrevivente da família encontrou o diário escrito pela filha, e para preservar sua memória lutou até que ele fosse publicado. O que ninguém sabe é que a versão popular d’O Diário de Anne Frank é censurada. O pai editou um monte de partes que considerou inapropriadas, como as descobertas sexuais da filha, suas dúvidas sobre o próprio corpo e até comentários onde reclamando que o pai peidava muito.
A casa em Amsterdã onde Anne Frank viveu escondida hoje é um museu, um dos muitos soturnos recordatórios de como a Humanidade pode ser horrível, e se isso não te deprimiu, pense que se fosse hoje teríamos O Snapchat de Anne Frank.
A polêmica do dia surgiu quando alguém descobriu que sites especializados vendiam “Fantasia de Anne Frank”, para meninas usarem no Halloween. A Brigada Indignada correu para as redes sociais, xingando ameaçando e demonstrando sua superioridade moral. Os sites correram para pedir desculpas, tiraram as fantasias do ar, a militância ensandecida continuou pedido sangue, o de sempre.
Será mesmo uma indignação justa? Eu concordo que uma fantasia de Anne Frank seria de péssimo gosto, assim como uma de Bill Cosby, mas ao mesmo tempo é só não comprar. Mas não vou entrar nessa discussão, não precisamos ir tão longe. A falsa indignação das pessoas é errada neste caso desde sua gênese, pois a tal fantasia, bem… não é nem nunca foi Anne Frank.
Ela não é identificada assim. Em alguns sites é “Menina da Segunda Guerra”, em outros é “Menina Refugiada da Segunda Guerra”. Não muito diferente das de verdade:
A Inglaterra não ia bem na Guerra, Londres e outras grandes cidades eram alvo constante dos bombardeiros alemães, das bombas voadoras V1 e em breve, das V2. Uma decisão terrível foi tomada: Para proteger as crianças, tanto as inglesas quanto as refugiadas vindas de outros países, elas seriam separadas de seus pais, e mandadas para lares temporários no interior do país.
Com o terrível nome de Operação Flautista de Hamelin, em Primeiro de Setembro de 1939 as crianças começaram a ser evacuadas, viajando em grupos carregando o mínimo de pertences pessoais, com etiquetas indicando as cidades de destino. Foi traumático, muitas crianças não voltaram, muitas voltaram para descobrir que eram órfãs, mas foi a coisa certa a se fazer.
Essa experiência não está restrita aos livros de História e às Associações de Refugiados. Na Inglaterra as crianças aprendem sobre as evacuações em massa, como era a vida, os abrigos, o dia-a-dia de quem fugia dos iminentes ataques nazistas.
Isso é ensinado em visitas a museus, onde as crianças conhecem até alguns velhinhos que fizeram parte das evacuações, e agora contam suas histórias. Parte da visita envolve as crianças usarem roupas da época, com direito às etiquetas de identificação.
Claro que os pais que não tem habilidade de costura apelam pra internet, vão em sites de venda de fantasias e compram as roupas de crianças refugiadas da Segunda Guerra, sem ninguém dar chilique dizendo que é a Anne Frank. Mas isso é na Inglaterra.
Nos EUA é que idiotas histéricos desesperados para mostrar ao mundo sua indignação e superioridade moral enxergaram (mal) na menina genérica a única referência de criança e Segunda Guerra Mundial que conseguem reconhecer.
Pior: Em nome da lacração ignoraram e apagaram o sofrimento de quase dois milhões de crianças inglesas e mais de 25 mil estrangeiras, tudo por acharem que a imagem era ofensiva a uma menina holandesa que eles metade do tempo confundem com a Hellen-Keller.
Como sempre, vale a frase de George Santayana: Aqueles que não aprendem com a História estão condenados a pagar mico na Internet.